Esta é a nova pista que poderia revelar vida extraterrestre: a poluição atmosférica

Cientistas propõem que vestígios de poluição industrial na atmosfera de exoplanetas podem funcionar como uma "tecnoassinatura", um sinal revelador da existência de uma civilização avançada, semelhante à nossa, observada a anos-luz de distância.

Ilustração realista de um planeta com uma densa nuvem de poluição atmosférica visível do espaço, um símbolo de como a poluição pode tornar-se um possível sinal de vida tecnológica.

Imagine que o primeiro "olá" extraterrestre não chega por rádio, mas pelo olfato científico: um odor químico na atmosfera de um planeta distante. Não é brincadeira. Assim como a Terra revela a sua atividade industrial, outras civilizações poderiam colorir os seus céus com gases impossíveis de explicar sem tecnologia.

Os CFCs são os clorofluorcarbonos, um tipo de gás composto por cloro, flúor e carbono.

E se pudessem olhar por este ângulo, veriam a mesma coisa: NO₂ (dióxido de nitrogénio) sobre as cidades, os CFCs a ser eliminados gradualmente graças a acordos globais e uma composição atmosférica que grita "aqui há indústria". Esta lógica serve como um espelho. Se a nossa situação é visível de longe, por que não procurar a mesma coisa lá fora?

Tecnoassinaturas: quando a pegada não fala, mas é percetível

O instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) está à procura de sinais há mais de meio século e, fora algumas curiosidades, o sinal permanece silencioso.

Representação artística de tecnoassinaturas: sinais ou vestígios tecnológicos que podem revelar a existência de civilizações avançadas noutros mundos. Estes sinais podem incluir emissões de rádio, luzes artificiais ou estruturas orbitais detetáveis da Terra.

É por isso que as tecnoassinaturas descolaram: vestígios de tecnologia que não dependem de ninguém querer falar. Indícios como megaestruturas construídas em redor de uma estrela, luzes noturnas... ou poluição atmosférica "não natural".

Os CFCs são o exemplo perfeito disso: eles não ocorrem naturalmente em grande escala. Se aparecessem num mundo semelhante à Terra, seria como encontrar um manual de frigorífico na estratosfera. O NO₂, por outro lado, é mais difícil de detetar: pode vir da indústria, mas também de raios, incêndios ou vulcões.

Representação molecular do dióxido de nitrogénio (NO₂): o átomo azul corresponde ao nitrogénio (N) e os dois vermelhos ao oxigénio (O), unidos por ligações covalentes que formam esse gás poluente característico da poluição urbana.

Ainda assim, o NO₂ tem uma vantagem inteligente: absorve luz entre 0,25 e 0,65 micrómetros, onde futuros telescópios ópticos e ultravioleta poderão detetar sua assinatura. O problema? Nuvens e aerossóis imitam o NO₂ e podem mascarar o seu sinal. A atmosfera, além de ser fofoqueira, é ciumenta.

Telescópios: do Webb ao “superolho” para mundos habitáveis

O Telescópio Espacial James Webb revolucionou a espectroscopia de exoplanetas, mas o NO₂ exige mais exploração na faixa do visível ao ultravioleta. É aí que entra o Observatório de Mundos Habitáveis (HWO) da NASA, planeado para a década de 2040: imagens diretas, coronógrafos de alta precisão e uma procura incessante por atmosferas semelhantes à da Terra.

Do lado europeu, o projeto LIFE propõe a interferometria no infravermelho médio para separar precisamente a luz do planeta da luz da sua estrela. Por outras palavras: mais contraste, menos ruído e uma probabilidade maior de observar gases elusivos. Se hoje ouvimos sussurros, estas missões visam fornecer um microfone direcional.

O LIFE, Grande Interferómetro para Exoplanetas, procura analisar as atmosferas de mundos distantes semelhantes à Terra para detetar bioassinaturas (sinais de vida) e tecnoassinaturas (vestígios de civilizações avançadas).

Um cálculo oferece esperança: com um telescópio de 15 metros, cerca de 400 horas seriam suficientes para alcançar uma deteção modesta (relação sinal-ruído de aproximadamente 5) de NO₂ terrestre a 10 parsecs. Parece uma eternidade, mas a astronomia já investiu tempos semelhantes em campos ultraprofundos. Às vezes, o cosmos recompensa a paciência.

Estrelas frias, planeta quente (cientificamente)

Se um planeta orbita uma estrela anã K ou M, ele tem uma vantagem: estas estrelas emitem menos luz ultravioleta, que decompõe o NO₂. O resultado: mais NO₂ acumulado, maior contraste e um sinal mais detetável. É como acender uma lanterna num quarto com pouca luz ambiente: de repente, vê a poeira e os fiapos de dispositivos eletrónicos.

E quanto aos falsos positivos? Ninguém quer confundir um vulcão com uma fábrica alienígena. Portanto, a fórmula vencedora combina vários ingredientes: níveis elevados de NO₂, CFCs (impossíveis sem produção industrial), oxigénio estável, talvez um brilho noturno suspeito e a falta de explicações geológicas plausíveis. Não é um "sim" mágico, é um estudo de caso.

Outro fator crucial é o temporal: as tecnoassinaturas podem ser efémeras. Em poucas décadas, muitas cidades reduziram os seus níveis de NO₂. A ausência de poluição detetável também diz muito: estabelece limites máximos. "Num mundo assim, dentro de um raio como este, não existem indústrias do tipo terrestre." Até mesmo o silêncio químico reduz a sensação de isolamento.

TRAPPIST-1e e o nariz apurado do futuro

TRAPPIST-1e, a 41 anos-luz de distância, é o planeta habitável por excelência. Se houvesse uma civilização lá, ela poderia já ter-nos detetado. E nós poderíamos tê-lo detetado, se as suas chaminés químicas fossem suficientemente fortes. O plano realista: combinar o Webb, grandes telescópios terrestres e, em seguida, o HWO/LIFE para fechar a rede espectral.

TRAPPIST-1e é um planeta rochoso, quase do tamanho da Terra, que orbita uma estrela anã ultrafria a 41 anos-luz de distância, dentro da zona habitável, onde água líquida e, potencialmente, vida poderiam existir.

Será antropocêntrico pensar que outras espécies poluem? Talvez. Mas é um atalho sensato: medimos bem aquilo que conhecemos. Assim como as bioassinaturas têm origem na Terra, as tecnoassinaturas provêm da nossa era industrial. Com modelos 3D, nuvens dinâmicas e química complexa, o jogo está a tornar-se cada vez menos ingénuo.

O planeta TRAPPIST-1e (ao centro)
O planeta TRAPPIST-1e (ao centro), mostrado ao lado dos outros seis mundos no seu sistema e da sua estrela, é um dos principais candidatos a abrigar vida fora do Sistema Solar. Créditos: NASA/JPL-Caltech.

Se um dia capturarmos NO₂ + CFCs + um padrão de luz urbana, ainda não será "contacto", mas será um alerta vermelho (de grande expectativa). O próximo passo seria apontar radiotelescópios, repetir os espectros e verificar todos os álibis geológicos. A manchete já está escrita: "A primeira pista sobre vizinhos cósmicos chegou com o cheiro de poluição atmosférica".

Referências da notícia

La contaminación atmosférica en otros mundos, una pista para encontrar ‘aliens’. 07 de novembro, 2025. Javier Yanes.

Habitable Worlds Observatory. 2025. NASA.

Nitrogen Dioxide Pollution as a Signature of Extraterrestrial Technology. 22 de fevereiro, 2022. Kopparapu, et al.