Eis como o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto ajuda a ESA a descobrir novos planetas

A missão PLATO, da Agência Espacial Europeia (ESA), está agora mais próxima de partir em busca de exoplanetas, o que deverá acontecer em dezembro de 2026. Contará com o contributo do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.

exoplaneta
Um exoplaneta é um planeta que orbita uma estrela que não o Sol, ou seja, um planeta localizado fora do nosso Sistema Solar. Também são designados de planetas extrassolares. (Imagem gerada por IA)

Será que existem planetas semelhantes à Terra? E estes orbitam estrelas semelhantes ao Sol? Como é que se formam e evoluem os sistemas planetários?

São estas e outras questões que levarão a missão PLATO, da Agência Espacial Europeia, que acontecerá em dezembro de 2026, a partir em busca de exoplanetas. Vão contar com o contributo científico do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), no qual está integrado o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.

A busca por planetas semelhantes à Terra conta com tecnologia U.Porto

Segundo Nuno Cardoso Santos, docente da FCUP, líder da Equipa de Sistemas Planetários do IA e representante nacional no board da missão, a instituição portuguesa foi responsável pelo desenvolvimento de um equipamento óptico utilizado para suporte à integração do telescópio com o sensor de cada uma das 26 suas câmaras. Foram fornecidos dois destes sistemas ao Centro Espacial de Liége (CSL), responsável pela incorporação.

"O equipamento operou continuamente durante os dois anos em que decorreu o processo de integração de todas as câmaras do PLATO, funcionando como uma referência de alta precisão para assegurar a uniformidade na performance de todos estes sistemas”.

Manuel Abreu - Coordenador do IA e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

O IA é igualmente responsável pelo desenvolvimento de diferentes componentes do software da missão, que vão desde o código que permite identificar a posição exata para onde as câmaras estão a apontar até componentes de software essenciais para planear que estrelas vão ser observadas, ou analisar os dados que vão ser recolhidos.

Conhecendo a missão PLATO

A missão PLATO (PLAnetary Transits and Oscillations of stars, ou trânsitos planetário e oscilações de estrelas), incluída no programa científico da ESA há 8 anos, alcançou agora uma etapa decisiva, com a integração do banco ótico do telescópio, com as suas 26 câmaras, no módulo de serviço da nave espacial.

Entre instalações na Alemanha (OHB) e Países Baixos (ESTEC), receberá os painéis e escudos solares, e será testada numa câmara de simulação de ambiente espacial.

Na etapa final, a PLATO viajará até à base de Kourou, na Guiana Francesa, de onde voará para o espaço a bordo do foguetão Ariane 6 da ESA, com lançamento marcado para dezembro de 2026.

Das 26 câmaras do sistema, duas são ‘rápidas’ e permitem ler dados a cada 2,5 segundos, de modo a alinhar a PLATO com precisão e mantê-la na trajetória correta. As restantes 24 câmaras registam curvas de luz, a partir das quais se podem identificar sinais de potenciais planetas. Cada uma tem 4 CCD’s que geram imagens de 81,4 megapixels, o que, na prática, irá dar origem a imagens de 2 milhões de pixels. Crédito Imagem: DLR (CC BY-NC-ND 3.0)

O banco ótico do telescópio, agora instalado, aloja todos os componentes necessários para o voo espacial, controlo e operações do telescópio, incluindo a propulsão, a antena para comunicar com a Terra e os sistemas de transmissão de dados científicos.

A tecnologia de ponta que permitirá o estudo aprofundado de exoplanetas e estrelas

Este design inovador da PLATO permitirá estudar cerca de 250.000 estrelas a partir do ponto de Lagrange L2, situado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra. Usando o método dos trânsitos, uma técnica utilizada anteriormente para a deteção de exoplanetas, a PLATO pretende descobrir milhares de exoplanetas rochosos, gelados e gasosos. Os planetas identificados serão posteriormente analisados com recurso a telescópios terrestres.

A PLATO vai ainda medir as oscilações naturais das estrelas, através da asterossismologia. Estas oscilações são sondas únicas das camadas mais profundas das estrelas, tornando possível inferir a sua estrutura interna e as suas condições físicas, permitindo, ao mesmo tempo, uma precisão incomparável na estimativa das suas propriedades globais (por exemplo, massa e idade).

As câmaras agora instaladas no telescópio espacial PLATO possuem capacidades especiais para o estudo de exoplanetas, tais como uma rápida velocidade de leitura, a existência de filtros que permitem a deteção de eventos de trânsito em comprimentos de onda curtos (azul) e longos (vermelho). As variações nos sinais observados entre esses comprimentos de onda podem revelar a presença de atmosfera nos exoplanetas estudados.

O que se espera a partir de 2027

A partir de 2027, a missão começará a procurar planetas em outros sistemas estelares, com especial atenção aos planetas do tipo terrestre, que orbitam estrelas semelhantes ao Sol.

Neste contexto, a participação do IA na PLATO encaixa na estratégia delineada para que a instituição possa manter-se na linha da frente da descoberta de outras Terras. “Vamos continuar com a já garantida participação ao mais alto nível na construção do ANDES, um espectrógrafo da próxima geração atualmente a ser planeado para o ELT (ESO) e que vai permitir estudar as atmosferas de outras Terras a orbitar outros sóis”, acrescenta Nuno Cardoso Santos.

Referência da notícia

Ricardo Reis / CAUP. Demanda por planetas semelhantes à Terra conta com tecnologia U.Porto. 02 de julho de 2025