Tempestade tropical Chalane vai afetar Moçambique já amanhã

Um fenómeno meteorológico, potenciador de destruição em grande escala, encaminha-se para Moçambique. Como reagirá um país, que estando habituado a fenómenos meteorológicos deste género, luta contra uma pandemia e tenta gerir uma situação bélica delicada no Norte do país? Contamos-lhe tudo aqui!

Um ciclone tropical.
Imagem satélite do Ciclone Idai (2019) sobre o Canal de Moçambique, a deslocar-se para o continente africano.

Uma depressão tropical que se formou no dia 21 de dezembro, no Oceano Índico, tem-se intensificado, sendo já uma tempestade tropical desde o passado dia 26. Foi batizada como Tempestade Chalane. Os meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM), consideram esta tempestade como uma tempestade tropical moderada, tendo potencial para se tornar numa tempestade tropical severa, aquando da sua chegada a território moçambicano, prevista para hoje, 29 de dezembro.

A tempestade, que se tem deslocado no sentido És-Nordeste – Oés-Sudoeste (ENE-OSO), afetou nos últimos dois dias a ilha de Madagáscar com ventos fortes, precipitação intensa e trovoadas. Está, nesta altura, a deslocar-se para o Canal de Moçambique e posteriormente deslocar-se-á para o continente africano, esperando-se que incida com especial intensidade nas províncias moçambicanas de Nampula, Zambézia e Sofala, no centro do país.

O cenário perspetivado pelas autoridades aponta para mais de 4 milhões de pessoas a serem afetadas pela passagem do Chalane, bem como 6 000 escolas e 550 unidades hospitalares.

Aquando da sua passagem pela ilha de Madagáscar, este fenómeno perdeu alguma força, dada a dimensão da massa terrestre. No entanto, a sua chegada ao Canal de Moçambique vai traduzir-se na reintensificação da tempestade. Assim, este fenómeno pode provocar constrangimentos à navegação marítima naquela área.

A Tempestade Chalane enquadra-se na época em que Moçambique costuma ser fustigado por fenómenos desta natureza. Entre outubro e abril, o território moçambicano é frequentemente fustigado por ventos ciclónicos, provenientes do Oceano Índico, que afetam severamente o centro e o norte do país.

Depois do Idai e do Kenneth, o Chalane

Quase dois anos após a passagem avassaladora do Idai (e também do Kenneth) em território moçambicano, a população prepara-se para a passagem de novo fenómeno destruidor, o Chalane. Para a população de algumas províncias, como é o caso da Beira, a passagem do Idai ainda está presente na memória coletiva. A precipitação forte, conjugada com ventos fortes foi responsável por inundações graves, destruição quase total de infraestruturas e a morte de mais de meia centena de pessoas.

Os órgãos de poder nacional, nomeadamente o Presidente, em colaboração com as autoridades de proteção civil, nomeadamente o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), alertaram publicamente a população para a perigosidade desta tempestade. O Presidente, Filipe Nyusi, pediu às populações para abandonarem as áreas mais vulneráveis a inundações e todas as “zonas de risco”. O cenário perspetivado pelas autoridades aponta para mais de 4 milhões de pessoas a serem afetadas pela passagem do Chalane, bem como 6 000 escolas e 550 unidades hospitalares.

A somar à tradicional vulnerabilidade de um país que tem passado por vários momentos de instabilidade política e militar nas últimas décadas, é de salientar a situação pandémica que afeta todo o mundo, bem como a situação delicada que se vive na província de Cabo Delgado, mais a Norte (e mais afastada da capital, Maputo) face aos ataques de rebeldes armados de que várias aldeias têm sido alvo.

Tendo em conta que o país enfrenta já duas crises humanitárias bem identificadas (e bastante complexas), teme-se que a resposta a uma terceira frente não seja a mais adequada, podendo pôr em causa a assistência às populações afetadas.