Seis barragens, em Portugal, estão em risco de contaminação por cinzas dos fogos florestais

Saiba o que está a ser feito para evitar que as primeiras chuvas arrastem partículas poluentes para as fontes de água mais vulneráveis.

Albufeira da Ferradosa, distrito de Bragança
A intervenção para salvaguardar a qualidade da água da albufeira da Ferradosa, no distrito de Bragança, foi considerada prioritária. Foto: Águas do Norte

Após os incêndios florestais deste verão, as barragens do Alvão e do Sordo, no distrito de Vila Real, bem como a de Touvedo e de São Jorge, no rio Lima, em Arcos de Valdevez, estão entre as que apresentam o maior risco de erosão e contaminação por cinzas, que podem vir a ser arrastadas dos solos queimados pelas primeiras chuvas de outono.

As infraestruturas foram identificadas pela empresa Águas do Norte, em articulação com Agência Portuguesa do Ambiente e, nesta lista, constam também a albufeira da Ferradosa, no município de Freixo de Espada à Cinta, e a de Vilar, em Moimenta da Beira/Sernancelhe, ambas com intervenções de emergência já concluídas.

Filtros têxteis purificam a água

No caso de Ferradosa, os especialistas consideraram prudente implementar imediatamente medidas de estabilização para reter e impedir a deposição das cinzas no reservatório de água localizado em São João da Pesqueira.

Canadair combate incêndios florestais
Após os incêndios florestais, a maior preocupação é evitar que as chuvas transportem cinzas, metais pesados e outros poluentes da terra queimada para as massas de água. Foto: Águas do Norte

A operação envolveu a aplicação de geotêxtil em quatro linhas de água por forma a conter a mobilização de cinzas e sedimentos e proteger as massas de água. Trata-se, no fundo, de um tecido permeável, feito de fibras sintéticas, como poliéster ou polipropileno, projetado especificamente para funções técnicas no solo e na água.

O material atua como filtro e dreno, junto a linhas de água afluentes às albufeiras, permitindo o escoamento sem arrastar partículas finas, como a cinza e outros compostos tóxicos, que comprometem a qualidade da água e os ecossistemas aquáticos.

Esta não é, todavia, a única barragem que já foi intervencionada, após os incêndios deste ano, considerado o terceiro pior de sempre em área ardida até 31 de agosto.

Desvios fluviais e bacias de retenção

Para acautelar que a poluição atinja os cursos fluviais, o município de Sernancelhe colocou, no início de setembro, filtros naturais nas linhas de água de modo a assegurar a sua qualidade para o consumo dos três concelhos do distrito de Viseu abastecidos pela barragem de Vilar-Tabuaço: Sernancelhe, Moimenta da Beira e Tabuaço.

A solução encontrada é considerada de base natural, tendo sido criados três desvios e bacias de retenção nos cursos fluviais, onde a água é filtrada em dois níveis. As cinzas ficam retidas no primeiro filtro e a água passa ainda por um segundo dispositivo de filtragem, antes de retomar a linha natural.

A operação de limpeza, segundo a autarquia, é feita em três pontos-chave para captar todas as cinzas a montante. As bacias de retenção foram colocadas no próprio rio Távora, em Vila da Ponte, e ainda nas duas ribeiras afluentes.

Esses três pontos garantem que a maior parte das cinzas não escorram para o rio Távora nem fiquem depositadas na barragem de Vilar-Tabuaço.

Após esse processo, a água será desinfetada e a sua qualidade monitorizada. Nesta fase, em particular, as incumbências vão estar a cargo da empresa Águas do Norte e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

A manutenção deste sistema estará, por seu turno, entregue à autarquia de Sernancelhe, que se encarregar-se-á de retirar a cinza que se vai acumulando junto dos equipamentos de filtragem.

Intervenções de emergência antes das chuvas

A Agência Portuguesa do Ambiente, assegurou, entretanto, que a mesma solução usada no rio Távora já começou também a ser aplicada em todas as zonas afetadas pelos incêndios de agosto.

As medidas são consideradas de emergência, tendo de ficar concluídas num curto espaço de tempo e ainda antes de as chuvas fortes atingirem as regiões contaminadas.

Garantida a qualidade da água para consumo humano e proteção da biodiversidade, as autoridades prometem que o passo seguinte será a recuperação do leito e de outras infraestruturas que protegem os recursos hídricos.

Rio Távora
O município de Sernancelhe criou bacias de retenção e dispositivos de filtragem no rio Távora e afluentes para limpar as cinzas vindas dos solos queimados. Foto: Vítor Oliveira, de Torres Vedras, PORTUGAL - Rio Távora - Portugal, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Tanto a APA como a Águas do Norte asseguraram que vão ainda aumentar a frequência da monitorização e o número de parâmetros físico-químicos usados nas análises laboratoriais à qualidade das massas de água que estão a chegar às captações.

Referência da notícia

Águas do Norte implementa medidas para proteger os recursos hídricos no pós-incêndios. Águas do Norte – Grupo Águas de Portugal.