Registos de calor: La Niña termina, o pior ainda está para vir com El Niño

Após três anos de La Niña, os especialistas preveem o regresso do El Niño, o que significa um aumento da temperatura global marinha e terrestre.

Aumento da temperatura do oceano; El Niño
A temperatura da superfície dos oceanos, neste momento, é de 21,1°C, um recorde desde o início dos registos de satélite.

Novo recorde de temperatura! Desta vez o aumento é na temperatura da superfície dos oceanos do mundo, cujo último recorde havia sido de 21°C, em 2016. Desde o início de Abril, que a temperatura média da superfície do oceano está nos 21,1°C, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).

Durante três anos no Oceano Pacífico, La Niña - um fenómeno caracterizado pelo arrefecimento no Pacífico central e oriental e ventos alísios mais fortes - reduziu as temperaturas e atenuou as consequências do aumento das emissões de gases com efeito de estufa.

Retorno do El Niño

Este novo e elevado recorde, observado desde o início dos registos de satélite, está a causar ondas de calor marinho em todo o mundo. Este calor está agora a atingir a superfície do oceano, indicando um potencial retorno do El Niño ao Pacífico, no final deste ano. O resultado é um aumento do risco de condições meteorológicas extremas e novos recordes de calor global.

"O recente 'triplo mergulho' de La Niña terminou. Este prolongado período de frio estava a atenuar as temperaturas médias globais de superfície apesar do aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera (...) Agora que acabou, estamos provavelmente a ver o sinal da mudança climática", diz Mike McPhaden, cientista da NOAA.

De forma simples: La Niña ajuda a arrefecer as temperaturas globais enquanto El Niño ajuda a aumentar as temperaturas globais, porque os oceanos nestas regiões são mais quentes do que o habitual. Mais de 90% do calor das emissões de gases com efeito de estufa na atmosfera é absorvido pelos oceanos.

A quantidade deste calor acumulado nos oceanos atua como uma espécie de combustível para condições meteorológicas extremas. "O que estamos a ver agora [com este novo registo] é o aparecimento de um sinal de aquecimento que revela mais claramente a pegada da nossa crescente interferência no sistema climático", afirmou uma das autoras do estudo.

Estava calor com La Niña, mas vai estar ainda mais calor com El Niño!

O calor marinho do Pacífico terá um impacto na atmosfera: aumentos da temperatura global e ondas de calor marinho, segundo Kevin Trenberth, climatologista e investigador do Centro Nacional de Investigação Atmosférica dos EUA. Desde a década de 1980, os aumentos da temperatura da superfície dos oceanos têm sido "quase lineares".

Segundo Alex Sen Gupta, Professor Associado do Centro de Investigação sobre Alterações Climáticas da UNSW: "O que é surpreendente é que os últimos três anos também têm sido muito quentes, apesar de termos tido condições La Niña (...). (...) Mas agora está ainda mais quente e estamos a ter o que parecem ser temperaturas recordes".

É invulgar ver tantas ondas de calor marítimas e tão extremas ao mesmo tempo - Sen Gupta, cientista de ondas de calor marítimas

Os dados mostram ondas de calor marítimas moderadas a severas no sul do Oceano Índico, no Atlântico Sul, ao largo do noroeste de África, em redor da Nova Zelândia, nordeste da Austrália e oeste da América Central. Estas têm efeitos nocivos e até mesmo devastadores na vida marinha e branqueam os corais nos recifes tropicais.

"Estamos num clima de rápido aquecimento e vamos ver novos recordes a toda a hora. Muitas das nossas previsões estão a prever um El Niño (...) Se isso acontecer, veremos novos recordes não só no oceano mas também em terra. Estes dados já sugerem que estamos a ver um registo inédito e que poderá haver mais ainda este ano", adverte Dietmar Dommenget, um cientista e modelista climático da Universidade de Monash (Austrália).