Uma nova solução científica pode ajudar a vida selvagem a sobreviver num mundo que está a mudar muito rapidamente
Os cientistas dizem que a edição genética pode restaurar a diversidade genética em espécies ameaçadas, reintroduzindo ADN de um lugar inesperado.

Ultimamente, a edição genética tem causado impacto na agricultura e na conservação, alterando a forma como cultivamos as culturas e até gerando discussões sobre o regresso dos mamutes-lanosos.
Mas agora os cientistas acreditam que a mesma tecnologia pode ajudar as espécies reais, ainda vivas, a evitar a sua extinção. E o interessante aqui é que isto não ocorre apenas protegendo o que resta, mas sim restaurando o que já foi perdido.
Não apenas a preservação
Num novo estudo, os investigadores levantaram a ideia de que a edição do genoma pode ser a chave para restaurar a diversidade genética perdida nas espécies ameaçadas — e dar-lhes uma hipótese muito maior de se adaptarem a ameaças como doenças e alterações climáticas.
A investigação foi liderada pelo Professor Cock van Oosterhout, da Universidade de East Anglia, juntamente com o Dr. Stephen Turner, da Colossal Biosciences, que defendem que salvar espécies não significa apenas manter os seus efetivos, mas sim preservar a genética que torna a sobrevivência mais possível.
"Estamos perante a mudança ambiental mais rápida da história da Terra, e muitas espécies perderam a variação genética necessária para se adaptarem e sobreviverem", disse o professor van Oosterhout.

"A engenharia genética oferece uma forma de restaurar esta variação, seja reintroduzindo variações de ADN perdidas em genes do sistema imunitário que podemos recuperar de espécimes de museu ou tomando emprestados genes de tolerância climática de espécies estreitamente relacionadas."
Os cientistas explicaram que mesmo as espécies que recuperaram da quase extinção ainda carregam cicatrizes genéticas. Isto porque as quedas populacionais retêm frequentemente mutações prejudiciais e eliminam variações benéficas — um problema conhecido como erosão genómica.
Uma nova ferramenta
Os investigadores dizem que a edição genética pode ser a resposta, uma vez que não só reintroduz variações perdidas de amostras de ADN antigas, como também insere genes úteis de espécies relacionadas e elimina mutações prejudiciais presas no conjunto genético.
Beth Shapiro, diretora científica da Colossal Biosciences, acrescentou: “Os mesmos avanços tecnológicos que nos permitem introduzir genes de mamutes no genoma de um elefante podem ser aproveitados para resgatar espécies em vias de extinção”.
No entanto, os cientistas sublinharam que a edição do genoma não é uma solução milagrosa – necessita de testes cuidadosos e não deve ser utilizada para substituir a protecção do habitat. No entanto, os investigadores acreditam que pode ainda complementar a conservação tradicional de formas que não conseguíamos antes.
Como disse o professor associado Hernán Morales: “A edição do genoma não substitui a proteção das espécies e nunca será uma solução mágica — o seu papel deve ser cuidadosamente avaliado juntamente com as estratégias de conservação estabelecidas.”
Referência da notícia
Genome engineering in biodiversity conservation and restoration, published in Nature Reviews Biodiversity, July 2025.