Por que está a Ilha da Terceira a tremer (praticamente) todos os dias?
Entre setembro e outubro ocorreram mais de duas dezenas de sismos nesta ilha dos Açores e, só na primeira semana de novembro, foram registados sete abalos. Entenda aqui o que significa este fenómeno geológico.

Sete sismos atingiram a Ilha Terceira, na semana passada, com magnitudes entre 1,8 e 3,6 na escala de Richter, cinco dos quais em pouco mais de um dia. Entre setembro e outubro, por exemplo, a terra tremeu 23 vezes, levando o Gabinete de Crise do Instituto de Vulcanologia da Universidade dos Açores (IVAR) a subir, na passada quinta-feira, o alerta do Vulcão de Santa Bárbara para V3.
A maior ocorrência sísmica dos últimos meses é a justificação do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) para elevar nível de alerta. O grau V3 sinaliza a “fase de reativação do sistema vulcânico” que apresenta agora uma atividade “francamente acima dos níveis de referência” e com indícios de influência magnética.
A crise sismovulcânica em curso há três anos
Mas, afinal, o que é que se passa na Ilha Terceira? O fenómeno, que os especialistas chamam de crise sísmica, caracteriza-se por um agrupamento de eventos, numa região limitada da Terra e muito perto uns dos outros, por um período que pode ir de semanas, meses e até anos.
Só o tempo dirá qual será a sua extensão, duração e nível de intensidade. Pela localização geográfica, os Açores são uma região muito ativa, com sismos de baixa magnitude praticamente todos os dias. O arquipélago situa-se na junção das placas Norte-Americana, Euro-Asiática e Africana, o que gera uma intrincada interação entre os sistemas vulcânicos e tectónicos das ilhas.
As influências tectónicas e vulcânicas
A Terceira, em particular, está sobre uma zona considerada geodinamicamente complexa, atuando como um eixo onde se cruzam várias falhas, como o rif da Terceira. A sismicidade na ilha é resultado da convergência entre a atividade vulcânica e a falhas tectónicas que atravessam a região.
Estas dinâmicas manifestam-se através de crises sísmicas, como as que já ocorreram no passado, relacionadas com o movimento do magma e o alívio de tensões geológicas.

No dia 5 de outubro, aliás, o CIVISA subiu o grau de alerta de V1 para V2. Um mês, depois, no dia 6 de novembro, a escala foi elevada para V3. O sistema vulcânico fissural do Oeste, da ilha Terceira, está organizado numa hierarquia que vai até V7. A mais recente atualização dá conta de que a “qualquer momento” a atividade sísmica poderá se intensificar.
O grau atual de vigilância, segundo a classificação disponível no website do CIVISA, significa que o fenómeno poderá evoluir para um “estado pré-eruptivo” e, em condições extremas, “pode não ser possível alertar para a iminência de erupção vulcânica em tempo útil”.
Segundo o último relatório do gabinete de crise do IVAR, setembro foi o mês em que se registou a maior atividade sísmica de 2025, incluindo um de magnitude 3,1 na escala de Richter, sentido no setor oeste da ilha com intensidade máxima de V na escala de Mercalli Modificada.
Os sismos mais recentes, ocorridos na passada quinta-feira, tiveram uma magnitude 3,6 e 3,5 na escala de Richter. Foram sentidos em toda a ilha Terceira e também na ilha de São Jorge, tendo atingido a intensidade máxima V (escala de Mercalli Modificada) na parte oeste da ilha Terceira.

Embora a energia e a magnitude dos abalos ocorridos durante a atual crise sísmica da Ilha Terceira sejam reduzidas, é importante saber o que fazer. O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores é a entidade responsável pela gestão da rede de monitorização sismovulcânica dos Açores, a avaliação do estado de atividade dos sistemas vulcânicos ativos, e a emissão de alertas e avisos às autoridades regionais e à população.
O CIVISA tem no seu website uma lista de recomendações sobre o que fazer em caso de sismos e erupções vulcânicas, como elaborar planos e kits de emergência, identificar locais mais protegidos dentro de casa ou fazer o reconhecimento dos caminhos mais curtos para alcançar locais seguros, onde possam ocorrer as operações de resgate.

Cabe à Proteção Civil e Bombeiros dos Açores coordenar as operações e orientar a população. Os açorianos são aliás todos os anos convidados a participar em simulacros, como o que aconteceu na Ilha Terceira, em setembro deste ano, com o envolvimento de mais de 100 operacionais que testaram o plano de emergência para o risco sísmico do vulcão de Santa Bárbara.
Referências da notícia
António de Brum Ferreira. Geodinâmica e Perigosidade Natural das ilhas dos Açores. Fisnistera, XL (2005)
O Que Explica a Crise Sísmica dos Açores – Diário de Notícias (2018)
Um Pouco de História - Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA)
Escala de Alertas Vulcânicos – CIVISA