Cidadãos e cientistas vencem prémios da Comissão Europeia com plataforma para prevenir desastres naturais
Projeto liderado pelo Instituto Superior Técnico lançou observatórios-pilotos em quatro países, onde as comunidades locais ajudam os investigadores a monitorizar riscos geológicos como inundações, quedas de rochas ou deslizamentos de terras.

Cidadãos e cientistas a trabalhar juntos na prevenção de desastres naturais é o eixo principal do Projeto AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão de Risco Geológico.
As informações são depois analisadas por especialistas e complementadas com imagens de satélite Copernicus para mapear as áreas afetadas. O projeto, liderado pelo Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, envolve quatro países, e foi agora distinguido com os Prémios RegioStars, promovido pela Comissão Europeia.
Observatórios do Cidadão na costa do Atlântico
Portugal, Espanha, França e Reino Unido criaram Observatórios do Cidadão, cada um com as suas prioridades. O programa de Lisboa, por exemplo, está vocacionado para riscos sísmicos, inundações ou abatimentos do solo. Com a ajuda dos cidadãos, os eventos são acompanhados e monitorizados por investigadores e autoridades municipais.

Portugal conta ainda com um Observatório de Cidadãos na ilha da Madeira. A plataforma está virada para a monitorização da instabilidade de taludes nesta parte do arquipélago, um fenómeno comum, devido à geologia vulcânica, e agravado pela elevada precipitação e construções junto às encostas.
Nas ilhas das Canárias, em Espanha, é a queda de rochas que está no centro do projeto AGEO. Provocadas pela erosão e fratura de maciços vulcânicos, as derrocadas podem ser ainda desencadeadas por pequenos sismos, com consequências imprevisíveis para a segurança das populações.
A região, com uma vasta e baixa zona costeira, é suscetível a esses eventos, sendo necessária uma avaliação detalhada e constante para planear estratégias de mitigação eficazes.

Na Irlanda do Norte, no Reino Unido, o observatório permite aos cidadãos reportar a queda de rochas no Giants'Causeway (Calçada do Gigante), no condado de Antrim. Trata-se de um conjunto com cerca de 40 mil colunas de basalto, perfeitamente encaixadas que resultaram de uma erupção vulcânica ocorrida há 60 milhões de anos.
Classificada de Património Mundial pela UNESCO, desde 1986, Giants'Causeway é vulnerável a queda de rochas, uma vez que se encontra localizada numa área costeira e com atividade vulcânica.
Uma cooperação além do Atlântico
Através destes cinco observatórios-piloto na região atlântica, os promotores do projeto ambicionam envolver as comunidades locais na participação de sistemas de alerta precoce, procurando ainda aumentar a literacia para os desafios relacionados com o clima.

Os dados fornecidos pelos cidadãos vão ser o primeiro passo para criar uma plataforma, ainda mais alargada, de cooperação e partilha de informações sobre riscos geológicos. Será com base nesses resultados que os especialistas esperam fazer recomendações de políticas e medidas destinadas a aumentar a resiliência das áreas terrestres e marítimas às mudanças climáticas.
Esta ambição foi agora reconhecida pela Comissão Europeia, com dois galardões RegioStars 2025: o Prémio do Público e o prémio na categoria “Uma Europa Verde”. Atribuídos no final da semana passada, os RegioStars distinguiram os projetos mais inspiradores e inovadores financiados pela Política de Coesão da União Europeia, reconhecendo iniciativas que contribuem para um desenvolvimento regional mais sustentável, inclusivo e resiliente.
Referências da notícia
REGIOSTARS Awards – Comissão Europeia
AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão do Risco Geológico
OSIRISC – Observatório de riscos costeiros na Bretanha
Observatório dos Cidadãos sobre quedas de rochas e os seus gatilhos nas Ilhas Canárias, Espanha