Cidadãos e cientistas vencem prémios da Comissão Europeia com plataforma para prevenir desastres naturais

Projeto liderado pelo Instituto Superior Técnico lançou observatórios-pilotos em quatro países, onde as comunidades locais ajudam os investigadores a monitorizar riscos geológicos como inundações, quedas de rochas ou deslizamentos de terras.

Lisboa
Lisboa tem um Observatório do Cidadão para monitorizar riscos que vão de inundações a abatimentos do solo, passando por monitorização de fissuras nos edifícios provocadas por sismos. Foto: Andrzej via Pixabay

Cidadãos e cientistas a trabalhar juntos na prevenção de desastres naturais é o eixo principal do Projeto AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão de Risco Geológico.

Qualquer pessoa, onde quer que esteja, poderá usar uma aplicação móvel para reportar deslizamentos de terra, quedas de rochas, inundações entre outros acidentes a acontecer nas imediações da zona onde reside, estuda ou trabalha.

As informações são depois analisadas por especialistas e complementadas com imagens de satélite Copernicus para mapear as áreas afetadas. O projeto, liderado pelo Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, envolve quatro países, e foi agora distinguido com os Prémios RegioStars, promovido pela Comissão Europeia.

Observatórios do Cidadão na costa do Atlântico

Portugal, Espanha, França e Reino Unido criaram Observatórios do Cidadão, cada um com as suas prioridades. O programa de Lisboa, por exemplo, está vocacionado para riscos sísmicos, inundações ou abatimentos do solo. Com a ajuda dos cidadãos, os eventos são acompanhados e monitorizados por investigadores e autoridades municipais.

Canárias
A queda de rochas vulcânicas está no centro do Observatório do Cidadão, nas Canárias. Foto: Monica Volpin via Pixabay

Portugal conta ainda com um Observatório de Cidadãos na ilha da Madeira. A plataforma está virada para a monitorização da instabilidade de taludes nesta parte do arquipélago, um fenómeno comum, devido à geologia vulcânica, e agravado pela elevada precipitação e construções junto às encostas.

Nas ilhas das Canárias, em Espanha, é a queda de rochas que está no centro do projeto AGEO. Provocadas pela erosão e fratura de maciços vulcânicos, as derrocadas podem ser ainda desencadeadas por pequenos sismos, com consequências imprevisíveis para a segurança das populações.

O Observatório de Cidadãos da Bretanha, em França, está atento aos riscos costeiros, procurando monitorizar os impactos da subida do nível do mar e a intensificação das tempestades junto das comunidades a viver a menos de 10 km da costa.

A região, com uma vasta e baixa zona costeira, é suscetível a esses eventos, sendo necessária uma avaliação detalhada e constante para planear estratégias de mitigação eficazes.

Ilha da Madeira
O Observatório de Cidadãos na ilha da Madeira monitoriza a instabilidade de taludes agravada pela chuva e construção nas encostas. Foto. Bernardo Ferreria via Pixabay

Na Irlanda do Norte, no Reino Unido, o observatório permite aos cidadãos reportar a queda de rochas no Giants'Causeway (Calçada do Gigante), no condado de Antrim. Trata-se de um conjunto com cerca de 40 mil colunas de basalto, perfeitamente encaixadas que resultaram de uma erupção vulcânica ocorrida há 60 milhões de anos.

Classificada de Património Mundial pela UNESCO, desde 1986, Giants'Causeway é vulnerável a queda de rochas, uma vez que se encontra localizada numa área costeira e com atividade vulcânica.

Uma cooperação além do Atlântico

Através destes cinco observatórios-piloto na região atlântica, os promotores do projeto ambicionam envolver as comunidades locais na participação de sistemas de alerta precoce, procurando ainda aumentar a literacia para os desafios relacionados com o clima.

Giants'Causeway, Irlanda do Norte
Na Irlanda do Norte, Observatório do Cidadão permite reportar a queda de rochas no Giants'Causeway, um conjunto de 40 mil colunas de basalto, que resultaram de uma erupção vulcânica há 60 milhões de anos. Foto: Chmee2, obra do próprio, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons

Os dados fornecidos pelos cidadãos vão ser o primeiro passo para criar uma plataforma, ainda mais alargada, de cooperação e partilha de informações sobre riscos geológicos. Será com base nesses resultados que os especialistas esperam fazer recomendações de políticas e medidas destinadas a aumentar a resiliência das áreas terrestres e marítimas às mudanças climáticas.

Este é, portanto, apenas um primeiro passo para um objetivo maior e que passa por levar o projeto para outras partes do mundo, contribuindo para proteger as populações de eventos de grande impacto nas regiões mais vulneráveis a cenários de riscos geológicos.

Esta ambição foi agora reconhecida pela Comissão Europeia, com dois galardões RegioStars 2025: o Prémio do Público e o prémio na categoria “Uma Europa Verde”. Atribuídos no final da semana passada, os RegioStars distinguiram os projetos mais inspiradores e inovadores financiados pela Política de Coesão da União Europeia, reconhecendo iniciativas que contribuem para um desenvolvimento regional mais sustentável, inclusivo e resiliente.

Referências da notícia

REGIOSTARS Awards – Comissão Europeia

AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão do Risco Geológico

OSIRISC Observatório de riscos costeiros na Bretanha

Observatório dos Cidadãos sobre quedas de rochas e os seus gatilhos nas Ilhas Canárias, Espanha

Observatório do Cidadão Multirrisco de Lisboa