Porque é que os sismos são frequentes em Portugal?
O território português encontra-se numa zona de transição entre a Placa Euroasiática e a Placa Africana, duas grandes massas litosféricas que estão em constante movimento relativo. Saiba aqui porque ocorrem tantos sismos em Portugal.

A frequência de sismos em Portugal está intimamente relacionada com a sua localização geodinâmica no contexto das placas tectónicas da Terra. O território português encontra-se numa zona de transição entre a Placa Euroasiática e a Placa Africana, duas grandes massas litosféricas que estão em constante movimento relativo.
Esta interação lenta, mas contínua, entre placas provoca a acumulação de tensões na crosta terrestre, que se libertam subitamente sob a forma de sismos.

Embora Portugal não se situe diretamente sobre uma falha tectónica tão ativa como a Falha de San Andreas na Califórnia ou o Círculo de Fogo do Pacífico, a sua posição junto a uma fronteira tectónica difusa confere-lhe uma atividade sísmica significativa e, por vezes, destrutiva.
Zonas de atividade sísmica em Portugal
A zona de maior instabilidade sísmica situa-se ao largo da costa sudoeste portuguesa, numa área conhecida como a zona de fractura Açores-Gibraltar, que se estende desde os Açores até ao estreito de Gibraltar.
Esta zona de transição é marcada por várias falhas ativas no fundo do oceano Atlântico, como a falha de Marquês de Pombal, a falha de Horseshoe e outras estruturas tectónicas associadas.

- O Vale Inferior do Tejo é outra zona relevante do ponto de vista sísmico. Aqui ocorrem sismos de origem intraplaca, ou seja, dentro da própria placa Euroasiática, resultantes de deformações acumuladas ao longo de falhas antigas que permanecem ativas. Estas estruturas estão frequentemente associadas a sismos sentidos em Lisboa, Santarém, Benavente e outras localidades da região centro-sul do país. O sismo de Benavente, em 1909, é um exemplo notável, tendo causado vítimas mortais e grandes prejuízos materiais.
- No centro do país, existem também zonas com atividade sísmica moderada, como na região de Leiria, Coimbra ou a zona da falha da Lousã, embora com menor frequência e intensidade.
- No entanto, é no Arquipélago dos Açores que se verifica a maior concentração de sismos em território nacional. Os Açores estão situados num ponto de junção tripla entre a Placa Euroasiática, a Placa Norte-Americana e a Placa Africana, o que confere ao arquipélago uma complexidade tectónica ímpar. A atividade sísmica nos Açores é elevada e muitas vezes associada a fenómenos vulcânicos, como já se verificou em erupções históricas, como a do Capelinhos (1957–58) na ilha do Faial.

De forma geral, Portugal não regista sismos com a frequência de regiões do Pacífico, mas os eventos que ocorrem podem ser intensos e provocar danos consideráveis.
Portugal é um país considerado como tendo risco sísmico moderado a elevado
A conjugação de fatores como o tipo de rocha, a profundidade do epicentro, a proximidade da costa e a densidade populacional das áreas afetadas contribuem para a gravidade dos impactos. Por isso, o país é considerado como tendo risco sísmico moderado a elevado, particularmente em áreas como Lisboa, Algarve e Açores.
A monitorização sísmica em Portugal é da responsabilidade do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que opera uma rede de sismógrafos distribuída por todo o território continental e ilhas. A informação recolhida permite não só detetar e localizar sismos com grande precisão, mas também desenvolver modelos de risco sísmico e apoiar a definição de medidas de mitigação e planeamento urbano adaptado a zonas de maior vulnerabilidade.
Em suma, os sismos são frequentes em Portugal devido à sua inserção numa zona de transição entre placas tectónicas em movimento, à presença de várias falhas geológicas ativas no mar e em terra, e à complexidade geodinâmica de regiões como os Açores. Apesar da sua frequência moderada, os sismos em Portugal representam um risco real e exigem uma abordagem preventiva e informada por parte da população, das autoridades e dos técnicos responsáveis pelo ordenamento do território e proteção civil.
Referência da notícia
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