Pandemia não trava as emissões de CO2

Tendo em conta a situação pandémica, era expectável que se verificasse menor utilização dos transportes públicos e/ou privados com impactes diretos, muito positivos, na situação ambiental. Mas será que é isto que está a acontecer? Fique a saber tudo connosco!

Central elétrica.
Central elétrica a carvão, um dos principais emissores de CO2 para a atmosfera.

A monitorização, por parte de académicos norte-americanos, do nível de dióxido de carbono presente na atmosfera é esclarecedora: nem os confinamentos associados à pandemia que afeta todo o planeta fizeram com a concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre diminuísse.

Esta conclusão é fundamentada através da análise dos dados recolhidos no Observatório da Base Atmosférica de Mauna Loa, no Arquipélago do Havai, a cerca de 70 km da cidade de Hilo. Os dados obtidos nesta base, são processados pela entidade governamental, a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), responsável pelas instalações e pela Scripps Institution of Oceanography, da Universidade da Califórnia – San Diego.

Segundo os cientistas, o mês de maio foi o mês em que se atingiu o pico, já que o nível de CO2 atmosférico cifrou-se nas 419 partes por milhão (ppm), o nível mais elevado desde que são feitas medições naquele local, há 63 anos. As medições deste indicador, naquele local, iniciaram-se em 1958, pelo cientista Charles David Keeling. A NOAA, por seu lado, efetua medições regulares desde 1974.

(...) apesar de décadas de tentativas de redução das emissões de dióxido de carbono, a comunidade global continua a falhar redondamente este objetivo.

Desde que esta duas instituições fazem medições separadas no mesmo local que se têm encontrado algumas discrepâncias: segundo a NOAA, os valores médios de maio de dióxido de carbono foram de 419,13 ppm. Já para os cientistas californianos a média apurada situava-se no 418,92 ppm. Ainda assim, é importante salientar que a média de maio de 2020 foi de aproximadamente 417 ppm, ligeiramente inferior ao registado este ano.

O dióxido de carbono é o principal gás emitido pelas atividades humanas, responsável pelo aumento do efeito de estufa. Este tipo de poluição é gerado pela utilização em massa de combustíveis fósseis, nos transportes, na produção de energia elétrica e na agricultura, por exemplo. Persiste na atmosfera e nos oceanos milhares de anos após ser emitido, assim, um dos principais objetivos da humanidade deve ser a redução drástica das emissões de CO2 para valores muito próximos do zero.

Qual é o estado de saúde da atmosfera terrestre?

É sobejamente reconhecido pela comunidade científica que os valores de dióxido de carbono na atmosfera são variáveis. Até maio, é habitual registar-se uma subida que está relacionada com as emissões naturais, das plantas e dos solos. Depois de maio, com o desenvolvimento das plantas no Hemisfério Norte (primavera) são removidas grandes quantidades de CO2. Apesar destas variações naturais, as medições indicam que os valores absolutos estão a aumentar de ano para ano.

Com estes números, é possível perceber que a atual concentração de CO2 na atmosfera é igual à que se verificava há cerca de 4 milhões de anos atrás. Nessa altura o nível médio das águas do mar estava cerca de 23 metros acima do atual e a temperatura das águas era 13 ⁰C superior à atual.

A localização geográfica deste observatório também não foi escolhida ao acaso. Está situado na encosta de um vulcão, a uma elevada altitude, na maior ilha do Havai, fornecendo uma localização perfeita para obter dados precisos, sem grande influência humana ou natural. Os dados obtidos por esta estação são a referência para todo o Hemisfério Norte.

Posteriormente, os dados são introduzidos e agrupados numa plataforma gerida pela NOAA, a Rede Global de Referência de Gases de Efeito de Estufa, que em conjugação com outros dados de outras estações, são a base de pesquisa para os cientistas climáticos, bem como a referência para os decisores políticos, com o objetivo de tomarem medidas concretas de luta contra as mudanças climáticas.

As medições dos dados obtidos em Mauna Loa mostram que apesar de décadas de tentativas de redução das emissões de dióxido de carbono, a comunidade global continua a falhar redondamente este objetivo, sendo que nem as restrições da pandemia, como os sucessivos confinamentos, foram suficientes para reverter a situação.