Os Estados Unidos registaram o inverno mais quente da sua história: recordes de cobertura de gelo e incêndios

A temperatura ficou 3,0 °C acima da média do século XX. Foi uma estação com condições extremas, incluindo um mínimo histórico de gelo nos Grandes Lagos e o maior incêndio da história no Texas.

incêndio 'Smokehouse Creek', Texas
Bombeiros a combater as chamas do incêndio 'Smokehouse Creek' no Texas. Foto: Texas A&M AgriLife/Sam Craft.

O inverno recente foi o mais quente já registado nos Estados Unidos, um sinal claro de que o mundo está a caminhar para uma era sem precedentes como resultado da crise climática.

A temperatura média nos Estados Unidos entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024 foi de 3,1°C, indicou a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), a mais alta num registo que remonta à década de 1890.

A temperatura ficou 3,0 °C acima da média do século XX no país considerado o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa do mundo atrás da China. O segundo inverno mais quente foi em 2016, com uma média de 2,67 °C, enquanto o mais frio já registado foi em 1979, com temperaturas geladas de -3 °C.

Oito estados do Alto Médio Oeste, os Grandes Lagos e o Nordeste dos EUA tiveram os invernos mais quentes já registados, em parte graças ao fenómeno climático El Niño.

O governador de Minnesota, Tim Walz, anunciou recentemente que o estado tinha desbloqueado financiamento federal para empresas afetadas pela redução da neve, "desde esqui e caminhadas na neve até festivais de inverno".

O calor foi forte em fevereiro. Os dados mostraram que a temperatura média nos Estados Unidos contíguos, que exclui o Havai, o Alasca e os territórios ultramarinos, foi de 5,06 °C no mês, a terceira mais quente já registada.

Inverno com incêndios florestais, secas e inundações

O incêndio florestal Smokehouse Creek, que começou a 26 de fevereiro e se tornou o maior da história do Texas, queimou mais de 400.000 hectares em Texas Panhandle e no oeste de Oklahoma, afirmou a NOAA.

O calor persistente causou um declínio constante na cobertura de gelo nos Grandes Lagos, atingindo um mínimo histórico de 2,7% de cobertura a 11 de fevereiro, quando a cobertura de gelo normalmente alcança o seu ponto máximo.

surfistas, praia, EUA
Uma dupla de surfistas aproveita as temperaturas amenas ao longo do Lago Michigan a 28 de dezembro de 2023, em St. Joseph, Michigan. Crédito: Don Campbell /The Herald-Palladium/AP.

"Atravessamos um limiar onde estamos num mínimo histórico na cobertura de gelo para todos os Grandes Lagos", afirmou recentemente Bryan Mroczka, cientista da NOAA.

A ausência de gelo afeta tudo, desde empresas que dependem de desportos ao ar livre até peixes que utilizam o gelo para se protegerem de predadores durante a época da desova, comenta a agência de notícias francesa AFP.

Também torna a linha costeira mais suscetível à erosão, aumentando os possíveis danos às infraestruturas costeiras.

Fevereiro também foi o terceiro mês mais chuvoso já registado nos EUA, mas embora algumas regiões tenham sofrido com a seca, padrões climáticos incomuns trouxeram fortes chuvas e nevões a partes do oeste, causando ventos fortes, inundações, deslizamentos de terra e cortes de energia em algumas zonas da Califórnia.

Crise climática, números alarmantes

Fevereiro de 2024 foi o mais quente já registado em todo o mundo, o nono mês consecutivo de temperaturas historicamente elevadas em todo o planeta, afirmou o Observatório Climático Europeu Copernicus no início desta semana.

O Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus (C3S) disse no mês passado que o período de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024 marcou a primeira vez que a Terra suportou 12 meses consecutivos de temperaturas 1,5 °C mais altas do que na era pré-industrial.

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) alertou que o mundo provavelmente ultrapassará a meta de aquecimento de 1,5 °C até ao início da década de 2030. Manter o aquecimento abaixo de 1,5 °C tem sido considerado crucial para evitar um desastre climático planetário a longo prazo.

Referência da notícia:

National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). The U.S. had its warmest winter on record. 2024.