Ondas de calor agravam a qualidade do ar aumentando a poluição

As alterações climáticas estão a aumentar a intensidade e frequência das ondas de calor e, o calor extremo, agravado por incêndios florestais e poeiras do deserto, está a ter impacto na qualidade do ar, na saúde humana e no ambiente.

Ondas de calor
As ondas de calor estão a ter impacto na qualidade do ar.

O terceiro Boletim da Qualidade do Ar e do Clima de 2023 da Organização Meteorológica Mundial (OMM) faz referência às ondas de calor e tem como objetivo chamar a atenção para o facto de não serem apenas as temperaturas elevadas que constituem um perigo, mas também os impactos da poluição resultante.

Interação entre as ondas de calor e a qualidade do ar

As alterações climáticas causadas pelos gases com efeito de estufa resultantes das atividades humanas estão a aumentar a frequência e a intensidade das ondas de calor, pois estes gases retêm o calor na atmosfera. Existe um consenso científico crescente de que as ondas de calor aumentarão o risco e a gravidade dos incêndios florestais.

De acordo com o Dr. Lorenzo Labrador, um cientista da OMM do "Global Atmosphere Watch Programme", as vagas de calor e os incêndios florestais estão intimamente ligados. O fumo dos incêndios florestais contém uma mistura de químicos que afeta não só a qualidade do ar e a saúde, mas também danifica as plantas, os ecossistemas e as colheitas, conduzindo a mais emissões de carbono e, por conseguinte, a mais gases com efeito de estufa na atmosfera.

Eventos de 2022

No hemisfério norte, as ondas de calor nos Estados Unidos desencadearam incêndios florestais de grandes proporções no noroeste do país, assolando vastas áreas do Canadá e as que ocorreram no Continente Europeu foram acompanhadas de intrusões de poeiras do deserto em toda a Europa, o que conduziu, em 2022, a uma qualidade do ar perigosa para muitos milhões de pessoas e enviou nuvens de fumo através do Atlântico e para o Ártico.

Deserto
Durante situações de ondas de calor, a Europa sofre, por vezes, a intrusão de poeiras do deserto.

O verão de 2022 foi o mais quente de que há registo na Europa. A circulação atmosférica que provocou a onda de calor prolongada levou à intrusão de poeiras do deserto em toda a Europa, o que conduziu a um aumento das concentrações de PM - uma vasta gama de partículas minúsculas frequentemente designadas por aerossóis suspensos na atmosfera, que prejudicam a saúde humana - e de ozono troposférico.

Enquanto o ozono a grande altitude (estratosférico) nos protege dos raios ultravioleta nocivos do sol, o ozono próximo da superfície da Terra (troposférico) é prejudicial para a saúde humana, além de poder reduzir a quantidade e a qualidade do rendimento das culturas alimentares de base.

Centenas de locais de monitorização da qualidade do ar excederam o nível de orientação da Organização Mundial de Saúde para a qualidade do ar com ozono de 100 μg m-3 para uma exposição de 8 horas. Esta situação ocorreu primeiro no sudoeste da Europa, passando depois para a Europa Central e chegando finalmente ao nordeste, na sequência da propagação da onda de calor em todo o continente.

A deposição atmosférica de compostos contendo azoto devido ao vento dos incêndios também tem impacto nos ecossistemas - um fenómeno que irá aumentar com o aquecimento do clima e as ondas de calor.

Na Califórnia e no noroeste dos Estados Unidos, verificou-se que os incêndios contribuem em grande medida para a deposição de azoto em vários ecossistemas naturais, excedendo frequentemente os limiares de carga crítica e afetando negativamente a biodiversidade, a água potável e mesmo a qualidade do ar através de emissões que conduzem a uma maior poluição atmosférica.

As ondas de calor e as condições de seca são propícias aos incêndios florestais que, uma vez iniciados, crescem rapidamente ao encontrarem vegetação seca e facilmente combustível. Estas situações levam a um aumento das emissões de aerossóis.