Recordes de temperatura são atingidos no hemisfério norte, com ameaça de El Niño persistente

Estão a ser quebrados recordes de temperatura no hemisfério norte, impulsionados pelo fenómeno El Niño, e os especialistas alertam para a possibilidade de sua persistência até o final do ano, com possíveis consequências para o território australiano.

El Niño
El Niño pode agravar as condições climático-meteorológicas a curto e médio prazo.

Os recordes de temperatura continuam a ser alcançados no hemisfério norte, com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) a declarar a primeira semana de julho como a mais quente já registada no planeta.

Este cenário é exacerbado pelo fenómeno climático de origem natural, o El Niño, que trouxe água do oceano com temperaturas mais elevadas para as Américas devido ao declínio dos ventos alísios no Pacífico. Os especialistas alertam, além disso, para a possibilidade de persistência do El Niño até ao final do ano, aumentando a preocupação com verões escaldantes no hemisfério sul.

Impactes incertos no hemisfério sul

Os climatologistas têm previsto aumentos nas temperaturas globais há já vários anos, mas a atual série de recordes está a ser impulsionada em parte pelo fenómeno El Niño. Este fenómeno, causado pelo declínio dos ventos alísios no Pacífico, está a resultar em águas mais quentes do oceano, originando também temperaturas extremas em partes da Europa, dos Estados Unidos e da China.

Enquanto o hemisfério norte enfrenta recordes de calor, os australianos estão apreensivos com a possibilidade de o El Niño persistir até o final do ano. Os especialistas do Bureau of Meteorology (BOM) permanecem em alerta para o fenómeno e observam mudanças atmosféricas que podem indicar a sua persistência nos últimos meses do ano.

Aliás, os modelos atuais do ENOS Outlook não alteram a previsão de longo prazo de condições mais quentes e secas em grande parte da Austrália para o período entre agosto a outubro de 2023. Tal como adiantado numa notícia anterior da nossa equipa, o El Niño é um fenómeno que já não se verifica na Austrália desde 2016.

A investigadora Ruby Lieber, do Australian Research Council Centre for Climate Extremes, com sede na University of Melbourne, enfatiza que os eventos testemunhados no hemisfério norte não garantem uma reprodução exata nas latitudes abaixo do equador.

Embora as temperaturas mais elevadas do que a média possam ser esperadas, cada evento é único, e não há certeza sobre os impactes que se repercutirão na Austrália.

Um resultado do clima em mudança

Além do El Niño, o aumento persistente das temperaturas médias globais é alimentado por altos níveis de carbono libertados para a atmosfera por indústrias do setor da energia, da agricultura e dos transportes. Desde a década de 1980, os aumentos dos valores em termos de temperatura média do ar na superfície do planeta são constantes.

Andrew Dowdy, investigador principal do BOM, ressalta que as mudanças climáticas causadas pela ação antrópica estão a originar o aumento da temperatura em todo o mundo, incluindo na Austrália. O país já vivenciou um aumento médio de 1,47 °C desde 1910, com extremos de calor mais frequentes e intensos. Estas tendências são projetadas para continuar nas próximas décadas, trazendo temperaturas extremas e ondas de calor mais frequentes.

A quebra de recordes de temperatura no hemisfério norte, impulsionada pelo fenómeno El Niño, causa apreensão entre os australianos, que podem enfrentar um verão mais quente do que a média se o El Niño persistir até o final do ano.

Enquanto os eventos no hemisfério norte não garantem uma repetição exata no hemisfério sul, os cientistas alertam para as consequências das mudanças climáticas causadas pela ação humana, já que se verifica o aumento das temperaturas globalmente e da frequência de fenómenos extremos. A necessidade de ações efetivas para enfrentar as mudanças climáticas torna-se, assim, cada vez mais urgente para evitar cenários climáticos ainda mais extremos no futuro.