Ondas de calor podem levar a um aumento da mortalidade

Numa fase em que as alterações climáticas são um assunto sobejamente comentado, a probabilidade de termos verões cada vez mais quentes pode ter implicações diretas na saúde da população. Saiba mais sobre este assunto, aqui!

Calor intenso.
O calor intenso pode ter efeitos, a curto prazo, na saúde dos chamados grupos de risco, no qual se incluem os idosos.

O risco de ocorrência de ondas de calor, potencialmente mortíferas para a população, aumentou substancialmente nos últimos 20 anos. É expectável que esta tendência continue e que o número de vítimas mortais relacionado com situações de calor extremo também aumente, sendo que a Europa e particularmente o Sul da Europa serão das áreas mais afetadas.

(...) será importante sensibilizar a população para os riscos associados a estes eventos, ajudando à adaptação e reduzindo o impacte de futuras ondas de calor.

Um estudo recentemente divulgado, que foi coordenado por investigadores do Instituto Federal da Tecnologia de Zurique (ETH) e que contou com a participação de uma investigadora portuguesa (pertencente ao Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge), indica que não só as ondas de calor serão cada vez mais frequentes como serão cada vez mais mortíferas, principalmente junto da população mais vulnerável, como as crianças, os idosos, os doentes crónicos e os sem-abrigo.

Uma onda de calor, como a que se viveu em 2003, em que as temperaturas na Europa chegaram aos 47,5 °C, provocou um excesso de vítimas mortais entre 45 000 e 70 000, em poucas semanas, para além dos avultados prejuízos materiais (na ordem do 14 mil milhões de euros) resultantes das quebras nas produções agrícolas e dos incêndios florestais. Contudo, na época, este evento extremo foi considerado único num século, o que não acontece atualmente.

O que esperar para o futuro?

Passados 20 anos da onda de calor de 2003, espera-se que um evento com o que ocorreu nesse ano aconteça a cada 10 ou 20 anos. E se nada for feito, esta frequência pode diminuir drasticamente para uma onda de calor a cada 2 ou 5 anos. Através da análise de dados recolhidos desde 2013, relativos ao excesso de mortalidade diária relacionada com o calor em 748 cidades e regiões, em 47 países da Europa, Sudeste Asiático, América Latina, Estados Unidos da América e Canadá, é possível constatar que se nada for feito, o impacte das ondas de calor na população será bastante severo, com a mortalidade a poder representar 10% das mortes num país.

Por exemplo, em Paris, espera-se que 15% das mortes no futuro estejam relacionadas com a ocorrência de vagas de calor, devido a dois fatores significativos: a constante subida das temperaturas e a estrutura etária da população, cada vez mais envelhecida. Para além disso, este estudo baseia-se no pressuposto que as temperaturas nos próximos anos possam subir entre 1,5 °C a 2 °C, perspetiva conservadora já que outros estudos apontam para um aumento que pode chegar aos 2,6 °C.

É ainda importante salientar que o estudo da ETH não contempla o previsível aumento da população a nível mundial, a concentração da população nos grandes centros urbanos e o envelhecimento acentuado da população em certas áreas do globo. Posto isto, é importante alterar comportamentos, de forma a conter o aumento da frequência das ondas de calor, mas também será importante sensibilizar a população para os riscos associados a estes eventos, ajudando à adaptação e reduzindo o impacte de futuras ondas de calor.