O recuo das linhas de costa

Os efeitos das alterações climáticas podem ser devastadores para zonas costeiras e marinhas vulneráveis, assim como para a função e estrutura dos seus ecossistemas

Linhas de costa
As regiões costeiras estão cada vez mais ameaçadas por diversos fatores, entre eles a subida do nível do mar.

O desafio das alterações climáticas precisa de ser enfrentado através de abordagens e instrumentos integrados e baseados nos ecossistemas, tais como a gestão costeira integrada.

Alterações climáticas e linhas de costa

As alterações climáticas ameaçam as zonas costeiras, que já se encontram sob tensão devido à atividade humana. A subida do nível do mar altera a forma das linhas costeiras, contribui para a erosão costeira, destruição gradual da terra pelo mar e leva a inundações e a mais intrusão subterrânea de água salgada. Os oceanos mais quentes e mais ácidos também são suscetíveis de perturbar os ecossistemas costeiros e marinhos.

A erosão costeira tem-se verificado por todo o globo, ameaçando assim as zonas costeiras. Por exemplo na Europa, um quinto da costa já está severamente afetada, com as costas a recuar entre 0,5 e 2 metros por ano, e em alguns casos mais extremos até 15 metros. A erosão costeira tem efeitos dramáticos sobre o ambiente, ameaça habitats e vida selvagem e sobre a atividade humana, como é o caso do turismo.

Durante décadas, as áreas costeiras têm experimentado intensa urbanização e forte crescimento populacional. A União Europeia adiciona cerca de 68.000 km de costa, três vezes mais do que os Estados Unidos. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, quase metade da população da UE vive a menos de 50 km do mar. Além disso, a costa é o destino de férias mais popular da Europa.

Para que os decisores políticos tomem as medidas adequadas, é importante compreender melhor os efeitos das alterações climáticas nas comunidades e recursos costeiros, pelo que a realização de investigação, recolha de dados e monitorização do estado das costas são essenciais.

Medição do recuo das linhas de costa

Dadas as constantes mudanças nas zonas costeiras, os satélites de observação da Terra são uma ferramenta útil e imprescindível para melhor as monitorizar e compreender, dada a observação frequente que fazem da Terra.

Satélites
Os satélites de observação da Terra tornaram-se ferramentas científicas poderosas para entender melhor a Terra e a atmosfera.

A Agência Espacial Europeia, ESA, tem vindo a desenvolver vários produtos para melhor monitorizar a Terra e a atmosfera. De acordo com o programa de Ciência da Observação da Terra, da ESA, o projeto “Coastal Change from Space” fornece informações importantes sobre as alterações costeiras em todo o mundo e permite um serviço global de monitorização da erosão costeira, avaliação dos riscos ambientais, e investigação sobre o potencial impacto das alterações climáticas na costa, incluindo a subida do nível do mar e o efeito de sistemas meteorológicos cada vez mais dinâmicos.

Aproveitando imagens de satélite recolhidas ao longo de 25 anos, incluindo dados das missões Sentinel-1 e Sentinel-2 do Copernicus, a equipa mapeou 2.800 km de litoral analisados em quatro países: Reino Unido, Irlanda, Espanha e Canadá. Com os novos desenvolvimentos é possível que cada pixel de cada imagem de satélite tenha muito mais precisão no solo, bem como para identificar onde o litoral está localizado em cada data específica.

A frequência das imagens das missões Sentinel-1 e Sentinel-2 tornou possível observar as mudanças ocorridas nas linhas costeiras. Estes resultados foram validados por uma equipa de cientistas independentes dos quatro países usando dados de observação de campo e conhecimento local. As 30.000 imagens obtidas estão a ser analisadas para ajudar os cientistas a entender melhor os processos locais nas regiões costeiras.

A próxima etapa será usar estes conjuntos de dados para melhorar o desempenho de modelos e adicioná-los a outras informações morfológicas sobre áreas costeiras para melhorar as previsões e facilitar o uso de estratégias de mitigação fundamentadas.