Cidades com mais jardins? Cientistas alertam para a necessidade urgente de vegetação para combater o calor

As alterações climáticas e o aumento da urbanização criam problemas que afetam gravemente os cidadãos de diversas formas. Saiba mais aqui!

calor; vegetação
As ondas de calor em Portugal tendem a ocorrer especialmente em julho e agosto, e a sua frequência e intensidade têm aumentado especialmente nas últimas décadas.

As ondas de calor são particularmente prevalecentes durante o verão, com impactos prejudiciais na saúde, no estatuto socioeconómico e no ambiente. Estes fenómenos meteorológicos envolvem períodos prolongados de temperaturas anormalmente elevadas, com múltiplos impactos e diversas causas, exigindo a adoção de diferentes medidas para lidar com os mesmos.

Entre os seus impactos socioeconómicos está a redução da produtividade do trabalho, especialmente em setores como a agricultura e a construção, que são amplamente realizados ao ar livre. Além disso, a diminuição da produção agrícola pode afetar a segurança alimentar. Em relação à saúde, as altas temperaturas provocam desidratação e agravam doenças crónicas, sobretudo em grupos vulneráveis, como os idosos. Também impactam negativamente a saúde mental devido ao stress.

As ondas de calor são particularmente prevalecentes durante o verão, com impactos prejudiciais na saúde, no estatuto socioeconómico e no ambiente.

Em Portugal, as ondas de calor têm sido um acontecimento extremo devastador. Este ano, segundo a Direção Geral de Saúde (DGS), foram registados 264 óbitos no continente, mais 21,2% face ao previsto, entre os dias 26 e 30 de julho, sobretudo nos maiores de 75 anos e na região Norte, devido às temperaturas elevadas nessa semana.

As ondas de calor em Portugal tendem a ocorrer especialmente em julho e agosto, e a sua frequência e intensidade têm aumentado especialmente nas últimas décadas. Isto aumenta o risco de incêndios florestais, e a agricultura enfrenta o desafio de se adaptar à situação com culturas mais viáveis.

Calor nas cidades: como combater?

O aumento da frequência deste fenómeno na bacia do Mediterrâneo exige a implementação de políticas e estratégias, tanto públicas como privadas, nas esferas económica, social e ambiental.

Os modelos climáticos apresentam projeções de temperatura com diferentes cenários de emissão de carbono. As projeções mais pessimistas mostram várias regiões até ao final do século XXI onde as altas temperaturas e a baixa humidade se vão combinar, impondo limites à sobrevivência dos seres vivos.

áreas verdes
A diferença de temperatura entre as áreas com e sem infraestruturas verdes pode chegar aos 20 ºC.

O impacto na saúde e na mortalidade é especialmente intenso em áreas densamente povoadas, onde o tráfego, a concentração de atividades económicas e os materiais utilizados nas ruas e edifícios provocam a concentração de calor. Nestas áreas, são recomendadas medidas como restrições de tráfego e a promoção de infraestruturas verdes.

Os benefícios da arborização urbana

A natureza multifuncional da infraestrutura verde torna-a especialmente aconselhável para combater o calor em ambientes urbanos. Ajuda a atenuar a temperatura, a fornecer humidade, a reduzir a poluição por partículas, a promover a biodiversidade com plantas nativas e a facilitar hábitos de recreação e exercício saudáveis. E tudo isto é ampliado pela sua natureza sustentável enquanto solução baseada na natureza.

arborização das cidades
A ideia, como afirma o lema da cidade de Singapura, é que as cidades estejam localizadas num jardim, e não o contrário.

Os planos de prevenção do calor e o comportamento das pessoas estão a reduzir a vulnerabilidade ao calor extremo. Entre 2000 e 2014, a temperatura mínima de mortalidade - ou seja, a de menor risco - foi de 15°C, enquanto entre 2016 e 2019 subiu para 17,7°C, demonstrando a resiliência do corpo humano.

Ao considerar a ideia de "esverdear" a cidade - ou seja, aumentar a vegetação -, o objetivo é garantir que os residentes têm acesso a zonas verdes na sua envolvente imediata. Isto pode ser conseguido, para além de grandes parques e jardins, através de telhados, muros verdes, áreas interiores ou árvores nas ruas.

A ideia, como afirma o lema da cidade de Singapura, é que as cidades estejam localizadas num jardim, e não o contrário. Tornar as cidades mais verdes é uma estratégia essencial para que os seus habitantes consigam lidar com um mundo cada vez mais quente.

Referência da notícia

Elisa Gallo, Marcos Quijal-Zamorano, Raúl Fernando Méndez Turrubiates, Cathryn Tonne, Xavier Basagaña, Hicham Achebak & Joan Ballester. Heat-related mortality in Europe during 2023 and the role of adaptation in protecting health. Nature Medicine (2024).