Nuvem Cavum: que buraco é esse no céu?

As nuvens Cavum estão entre as formações de nuvens mais atrativas avistadas pelos observadores do céu. Uma destas nuvens foi recentemente captada em imagem de satélite no Sudeste de França. O que as origina? Contamos-lhe mais aqui!

Nuvem Cavum; nuvens; Sudeste de França
Nuvem Cavum captada a 14 de janeiro de 2023 no Sudeste de França. O que origina estas invulgares e atraentes nuvens? Fonte: MODIS no satélite Aqua da NASA.

Incorporada como novidade no Atlas Internacional das Nuvens da Organização Meteorológica Mundial em 2017, a nuvem cavum, quando vista de baixo, apresenta-se como um buraco bem definido, normalmente em forma de círculo ou elipse, e que parece ter sido cortada de uma camada de nuvens cirrocúmulos ou altocúmulos, surgindo apenas com uns pequenos “farrapos” de nuvens no meio do buraco.

Também é impressionante vista a partir de cima. A partir deste buraco é possível ver-se o céu azul das camadas superiores da atmosfera.

Na imagem de satélite captada a 14 de janeiro de 2023 e que abrange parte do Sudeste de França pode-se observar uma longa cavum. O Espectrómetro de Imagem de Resolução Moderada (MODIS) no satélite Aqua da NASA gerou a imagem de cor natural que é possível apreciar.

A nuvem Cavum, também chamada hole-punch cloud e fallstreak cloud, é o resultado da temperatura do ar fria e da instabilidade atmosférica desencadeada por um avião que se desloca através de uma camada de nuvens. Vista de baixo, pode parecer que parte da nuvem está a cair do céu. Ao que parece, é isto o que realmente acontece.

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Como se forma a nuvem Cavum?

Este fenómeno da nuvem Cavum ocorre em nuvens médias (altoestratos e altocúmulos) compostas por gotículas de água líquida que estão super arrefecidas; isto é, as gotículas permanecem líquidas, mesmo quando as temperaturas estão abaixo do ponto típico de congelação da água (0°C). Mesmo assim, até as gotículas super arrefecidas têm os seus limites.

“Durante algum tempo, estes buracos chamativos deram origem a diferentes teorias sobre a sua formação. Em 2011 o dilema foi resolvido quando a maioria deles foi relacionado com a passagem dos aviões.” - José Miguel Viñas em "Conocer la Meteorología: Diccionario ilustrado del tiempo y el clima".

O arrefecimento extra que se dá por cima das asas dos aviões pode estimular as gotas até ao ponto de congelação quando um determinado avião passa através da camada de nuvens. Os cristais de gelo geram mais cristais de gelo à medida que as gotículas líquidas continuam a congelar. Eventualmente, acabam por se tornar suficientemente pesadas, de modo que os cristais de gelo começam a cair do céu, deixando o vazio, ou o dito buraco, na camada de nuvens.

Aquilo que produziu a nuvem captada no Sudeste de França e a virga

Os cristais de gelo que caem são muitas vezes visíveis no centro dos buracos como rastos de precipitação - característica chamada virga (precipitação que cai da nuvem mas que nunca chega a atingir o solo). Quando os aviões passam através das nuvens num ângulo bastante acentuado, produzem uma cavum pequena e circular.

Se passarem através das nuvens num ângulo pouco profundo, podem produzir longas "nuvens cavum", com longos rastos de virga, como foi o caso da nuvem captada sobre uma boa parte da área geográfica do Sudeste de França.

Há mais fatores que podem influenciar o comprimento deste tipo de nuvens, tais como a espessura da camada de nuvens, a temperatura do ar e o grau de cisalhamento horizontal do vento.