Lições do clima da Terra: que aprendemos com o último aquecimento global?

Há cerca de 56 milhões de anos, a Terra sofreu um dos maiores e mais rápidos eventos de aquecimento climático da sua história. Estudos sobre o aquecimento global ocorrido no passado são importantes para se tentar perceber as consequências que poderão ocorrer no futuro. Saiba mais aqui!

Aquecimento global
Estudar fenómenos climáticos do passado é importante para preparar o futuro.

Através da análise e estudos sobre o aquecimento global ocorrido no passado, os cientistas tentam perceber as consequências que poderão ocorrer no futuro com a atual mudança climática associada ao aquecimento global que estamos a viver.

Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno

O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE, PETM em inglês), foi uma brusca mudança do clima que marcou o fim da época geológica do Paleoceno e o começo do Eoceno, há 55,8 milhões de anos.

Trata-se de um dos períodos de mudança do clima mais significativos, é a maior e mais rápida perturbação climática, aquecimento global, da era Cenozoica (era geológica que se iniciou há cerca de 65,5 milhões de anos), alterando repentinamente a circulação oceânica e atmosférica, provocando a extinção de múltiplas espécies marinhas e terrestres, e causando grandes mudanças sobre os mamíferos terrestres, marcando assim a aparição das linhagens dos mamíferos atuais.

Aquecimento climático
Há cerca de 56 milhões de anos a Terra sofreu um dos maiores e mais rápidos eventos de aquecimento climático da sua história.

O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno foi excecional tanto em termos de amplitude (aumento de 5-8 °C) quanto ao seu período de duração (5.000 anos, um tempo muito curto em escala geológica), durou cerca de 200 000 anos e teria sido causado por uma alta concentração de dióxido de carbono, (CO2) e metano na atmosfera, dois poderosos gases com efeito de estufa, semelhante ao que se passa atualmente.

Estudo da Universidade de Genebra

Foi desenvolvida uma investigação por parte de uma equipa de cientistas da Universidade de Genebra, com o objetivo de investigar a influência das mudanças climáticas nos sistemas sedimentares, ou seja, nos processos de formação e deposição de sedimentos, e entender como essas mudanças poderiam ter influenciado a transmissão dos sedimentos para as profundezas do oceano.

Na época do MTPE, pensava-se que havia mais precipitação e, portanto, mais erosão, e que grandes quantidades de areia haviam sido transportadas primeiro pelos sistemas fluviais para os oceanos.

No entanto, o que este estudo veio a confirmar, não foi um aumento da taxa anual de precipitação, mas sim um aumento na sazonalidade e intensidade, que resulta no aumento da mobilidade das áreas mais profundas de um rio, que, por sua vez, transportam grandes quantidades de argilas fluviais depositadas nas planícies aluviais adjacentes para as profundezas dos oceanos.

Assim, o estudo concluiu que o aquecimento global ocorrido no passado (MTPE) foi marcado por um aumento na sazonalidade e intensidade das chuvas, o que levou ao movimento de grandes quantidades de argila para o oceano, tornando-o inabitável para certas espécies vivas.

Corais em risco
Existem espécies marinhas, designadamente os corais, que estão em risco.

A equipa de investigadores chegou a esta conclusão, graças à análise de sedimentos retirados das águas profundas do Golfo do México. Graças à amostra obtida, conseguiu-se determinar que foram as argilas e não as areias que foram transportadas em primeiro lugar para os oceanos, o que levou a um aumento da turvação oceânica.

Atualmente, com o aquecimento global que está a decorrer verifica-se também um aumento da sazonalidade e intensidade das chuvas. Deste modo é provável que isso desestabilize os sistemas sedimentares da mesma forma que durante o MTPE e com as mesmas consequências para os oceanos e espécies vivas. As conclusões deste estudo podem ser encontradas na revista Geology.