Podem as baleias ajudar a travar o aquecimento global?

Estudo indica que as baleias ajudam a retirar enormes quantidades de CO2 da atmosfera, chegando a captar mais de 3 dezenas de toneladas deste gás. Farão os maiores animais do mundo parte da solução para combater o aquecimento global? Saiba mais aqui!

baleias; aquecimento global
Estes dóceis seres vivos podem capturar até 33 toneladas de dióxido de carbono.

A baleia, um ser vivo dócil apesar do seu tamanho, pode ser acusada de ingerir enormes quantidades, toneladas de uma só vez, de krill ou plâncton. Poderíamos então pensar que, com a sua alimentação, a baleia é uma verdadeira ameaça e afronta ao equilíbrio dos mares e oceanos. Mas não! A verdade é que estes gigantes mamíferos fazem exatamente o oposto.

Um artigo recente publicado na revista Trends in Ecology & Evolution, liderado por Heidi Pearson, bióloga da University of Alaska Southeast, sugere que as baleias são importantes, mas muitas vezes negligenciados, sequestradores de carbono. Isto é, são responsáveis por absorver e armazenar nos seus corpos grandes quantidades de carbono, contribuindo para a redução da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera e para o combate às alterações climáticas.

Baleias: aliadas da ação climática

De acordo com o estudo, estes mamíferos, que podem chegar a pesar 150 toneladas e alcançar uma longevidade que pode chegar aos 100 anos, ajudam a retardar as alterações climáticas mesmo após a sua morte. As carcaças destes animais acabam no fundo dos mares e oceanos quando morrem e o carbono que foi armazenando ao longo das suas vidas, é ali depositado e transferido, onde permanece por séculos.

Dependendo do seu tamanho, uma baleia pode captar até 33 toneladas de dióxido de carbono. Para que tenhamos um termo de comparação, uma árvore absorve, aproximadamente, 20 toneladas por ano. Esta é uma demonstração da importância dos mares e oceanos para captar grande parte dos gases com efeito de estufa produzidos pelo Homem, e imprescindibilidade destes mamíferos marinhos como arma a utilizar.

O estudo afirma ainda que estes cetáceos contribuem diretamente para o combate ao aquecimento global e fazem-no de forma indireta, através da defecação. As fezes das baleias são ricas em nutrientes que são absorvidos pelo fitoplâncton que, por realizar a fotossíntese, absorve igualmente dióxido de carbono da atmosfera.

As baleias ingerem diariamente até 4% do seu peso em krill e plâncton, o que equivale a quase 3.600 quilos, no caso da baleia azul. O fitoplâncton, apesar de infinitamente mais pequeno do que as baleias, contribui com pelo menos 50% de todo o oxigénio para a atmosfera e consegue absorver cerca de 40% de todo o CO2 produzido, quantidade equivalente à capturada por 1,70 mil milhões de árvores, ou seja, quatro florestas amazónicas.

Ora, as baleias através das suas fezes, ricas em ferro, fósforo e nitrogénio, de elevada flutuabilidade, fertilizam a superfície do mar. Por serem animais de grande porte, o volume das suas fezes é muito importante e funciona como adubo para o crescimento do plâncton, que serve de alimento para os ecossistemas marinhos. Estes mamíferos têm então um efeito multiplicador, já que aumentam a produção de fitoplâncton aonde quer que vão.

“Devido ao seu tamanho e longevidade, as baleias têm um grande impacto no ciclo do carbono, pois armazenam carbono com mais eficiência do que animais pequenos, comem uma grande quantidade de presas e produzem um grande volume de excrementos”, pode ler-se no estudo.

Ameaça: a caça baleeira

Apesar de ser uma prática que foi abolida de águas territoriais portuguesas na década de 80 do século XX, com a caça da última baleia com lança e arpão, nas imediações da ilha do Pico, em 1987, esta é ainda uma prática relativamente comum em alguns países, o mais conhecido destes é o Japão. Esta é uma atividade muito antiga, com especial importância no século XIX. Estima-se que esta prática tenha ajudado a reduzir a população baleeira de 3 a 4 milhões de indivíduos, para 1,3 milhões.

A título de exemplo, em meados da década de 1950 havia apenas 450 baleias jubarte no sudoeste do Atlântico (em comparação com cerca de 27 mil, na década de 1830). Atualmente, estes cetáceos recuperaram para 93% da sua população pré-exploração, ainda assim seis das treze grandes espécies de baleias estão classificadas como ameaçadas ou vulneráveis, devido à caça.

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Como resultado do declínio nas populações baleeiras, estima-se que, aproximadamente, entre 190.000 a 2 milhões de toneladas de carbono tenham sido emitidas por ano (o equivalente a cerca de 400.000 automóveis nas estradas), o que poderia ter acabado no fundo dos mares e oceanos.

Mas não só da pesca e da caça sofrem estes cetáceos. Estes estão também expostos a vastas pressões de carácter ambiental que afetam de forma negativa a sua vida e que são responsáveis pelo decréscimo da biodiversidade e a debilitação dos seus ecossistemas, como é o caso da poluição marinha, nomeadamente os microplásticos.

Aumentar a proteção das baleias contra as ameaças causadas pelo homem traria benefícios ao planeta, a nós que o habitamos e aos próprios mamíferos. Estima-se que uma baleia, de uma das maiores espécies, possa valer 2€ milhões, uma vez que, dado o seu tamanho capturam maiores quantidades de CO2 e produzem mais fezes.

Restaurar as populações de baleias aos números anteriores à caça pode ser uma estratégia para reduzir o impacto negativo na atmosfera, infligido pela mão humana. As baleias poderiam ser uma malha natural para capturar esse gás nocivo para a camada de ozono.