Estarão as alterações climáticas a tornar algumas aves mais pequenas?

Uma das muitas consequências das alterações climáticas na biodiversidade e nos ecossistemas é pouco conhecida do público comum, e pode ser mesmo classificada como excecional. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Andorinhas-das-árvores.
Um par de andorinhas-das-árvores, uma das espécies de aves migratórias mais afetadas pelas alterações climáticas que se verificam na América do Norte.

É caso para dizer que os cientistas não param de se surpreender com as diversas consequências das alterações climáticas. Um estudo desenvolvido pela Universidade da Califórnia, sediada na cidade de Los Angeles, sugere que nos últimos 30 anos, o tamanho das aves migratórias presentes no território norte-americano diminuiu, nalguns casos, significativamente. Por outras palavras, este artigo demonstra como a temperatura pode afetar fortemente as características físicas dos animais.

(...) as aves presentes em ecossistemas mais quentes estão a experimentar uma redução na sua massa corporal a um ritmo mais rápido, evidência de um processo de adaptação a temperaturas mais elevadas.

Segundo o mesmo estudo, esta situação é uma consequência direta de uma rápida adaptação a temperaturas mais elevadas, por parte de algumas espécies de aves. Após a análise cuidada de 105 espécies, percebeu-se que o tamanho corporal diminuiu em média 0,6%, sendo que em certas espécies este valor chegou aos 3%. É ainda importante compreender que este fenómeno foi detetado na maioria das espécies estudadas, que estão distribuídas um pouco por todo o subcontinente Norte-Americano.

Por exemplo, a andorinha-das-árvores registou uma diminuição da massa corporal na ordem do 2,8%. Já os piscos-de-peito-ruivo diminuíram 1,2% e os pica-paus cerca de 2,2%. Aparentemente, estes valores podem parecer insignificantes, mas em termos evolutivos representam mudanças drásticas nas espécies, principalmente por terem ocorrido num espaço temporal extremamente curto (30 anos).

Efeitos diretos deste fenómeno

Sabe-se que no meio selvagem, os corpos mais pequenos ajudam as aves a lidar com temperaturas mais elevadas – a maior relação entre a superfície e o volume ajuda a dissipar o calor. O contrário acontece com as aves de maiores dimensões, que com os corpos mais arredondados conservam o calor de forma mais eficaz.

Este estudo indica que as aves presentes em ecossistemas mais quentes estão a experimentar uma redução na sua massa corporal a um ritmo mais rápido, evidência de um processo de adaptação a temperaturas mais elevadas. Contudo, a redução esperada do tamanho das aves não está a acompanhar o ritmo da subida das temperaturas em certos locais na América do Norte. Assim, é possível que num futuro próximo, uma grande parte das espécies estudadas possa estar em risco de sofrer problemas de saúde, algo que pode pôr em causa o estado de conservação.

Outro dos aspetos curiosos deste estudo é o facto de independentemente da diminuição registada nos corpos de muitas aves, o tamanho das asas continua igual. Ou seja, a forma das aves está também a mudar. Isto pode estar associado ao facto de que a asas têm um papel menos importante na regulação da temperatura corporal.

É importante, ainda, salientar que este estudo mostra que as aves que vivem em altitudes mais elevadas tendem a ter asas mais longas, algo que as ajuda a voar no ar mais rarefeito, associado a ambientes montanhosos. Nestas áreas, as aves têm asas mais longas e corpos menores, apesar de se registarem temperaturas mais baixas.

Esperança no futuro destas espécies

Assim, é possível compreender que, apesar de o estudo incidir em aves migratórias, que têm a possibilidade de voar para regiões onde as temperaturas são mais baixas, os seus mecanismos de defesa contra as alterações climáticas estão a ficar cada vez mais refinados, algo que faz com que haja esperança no futuro destas espécies.