Esta vila algarvia é o refúgio favorito dos espanhóis — e vai perceber porquê

O segredo mais bem guardado do Algarve já não é assim tão secreto — e eles não o largam. Para os nossos vizinhos, este destino é “ideal para ser explorado num fim de semana”.

Alcoutim
A imprensa espanhola rendeu-se a esta vila. Foto: CM Alcoutim

Há um pequeno pedaço do Algarve onde o tempo parece ter decidido tirar férias. E para onde é que os espanhóis, de mochila às costas e olhos a brilhar, quase todos os fins de semana? Para lá, claro. Mais precisamente, para Alcoutim, situada no distrito de Faro, junto ao rio Guadiana.

Uma vila tão discreta quanto encantadora, mas que se tornou, segundo o jornal espanhol ‘El Cronista’, num verdadeiro “sonho de fim de semana” para os nossos vizinhos do lado.

Escondida entre as colinas da serra do Caldeirão e as águas do rio Guadiana, Alcoutim é um convite à paz — daquela que não se vende em resorts nem se encontra nos guias mais comerciais. “Oferece dias maravilhosos de paz e tranquilidade”, escreveu o jornal. A verdade é que quem passa por esta vila sente que entrou num lugar onde ainda se ouve o silêncio. E isso, hoje em dia, vale ouro.

Alcoutim é um destino ideal para explorar, graças aos seus arredores encantadores e pitorescos, que incluem edifícios históricos, ruas estreitas e um castelo que oferece vistas deslumbrantes do rio”, garantem.

Beleza natural (e fluvial) à beira do Guadiana

Logo ao lado do centro da vila, encontra-se um dos tesouros mais refrescantes da região: a praia fluvial do Pego Fundo. A água é límpida, quase cristalina, rodeada por um cenário de vegetação verdejante que nos faz esquecer que estamos no Algarve.

Nada de multidões, guarda-sóis enfiados em areia alheia ou vendedores de bolas de Berlim. Aqui reina o sossego, os piqueniques com vista para o rio e os mergulhos que fazem esquecer qualquer calor.

“Longe das multidões e da agitação dos centros turísticos do litoral algarvio, Alcoutim é um paraíso de tranquilidade entre a serra do Caldeirão e o rio Guadiana, fronteira natural com a vizinha Espanha”, lê-se no site ‘AMAL’. “A região mantém vivo o seu artesanato, eminentemente ligado à vida rural, com peças que vão das tradicionais mantas de lã ou de trapos, à cestaria em cana e vime, olaria, entre muitas outras.”

Para quem gosta de se mexer, o Guadiana também é cenário ideal para passeios de barco, caiaque ou longas caminhadas pelas margens. A natureza está intacta, como se ninguém tivesse tido coragem de a interromper.

Alcoutim
Perfeito para passeios de barco. Foto: CM Alcoutim

E, se há um lugar onde o passado e o presente conversam tranquilamente, é no castelo de Alcoutim. No alto da colina, com as muralhas a abraçar o horizonte, encontra-se uma das vistas mais bonitas da região. O 'El Cronista' não hesitou em elogiar “o castelo que oferece vistas deslumbrantes do rio”, e com razão. Lá de cima, vê-se não só o Guadiana a serpentear suavemente entre os dois países, mas também Sanlúcar de Guadiana, a povoação espanhola irmã, mesmo em frente.

Descendo pelas ruelas de Alcoutim, deparamo-nos com as típicas casas caiadas, de branco impecável, onde o azul e o amarelo das portas e janelas saltam à vista. Tudo é simples, mas de uma beleza desarmante — o tipo de beleza que não se cansa de ser fotografada.

A tirolesa que atravessa fronteiras (literalmente)

Mas, se pensa que Alcoutim é só calma e contemplação... pense outra vez. Aqui também se voa. Literalmente. A vila tem a única tirolesa do mundo que liga dois países. Sim, leu bem. Lança-se de Sanlúcar de Guadiana e aterra-se em Alcoutim, com os pés a dançar sobre o rio Guadiana e o coração a bater em modo “isto é mesmo real?”.

Alcoutim
A única tirolesa transfronteiriça do mundo é gerida pela organização Limite Zero. Foto: Limite Zero

Esta atração tem conquistado aventureiros espanhóis e portugueses, sendo uma das experiências mais originais que se podem ter por estas bandas. Uma travessia aérea internacional que dura apenas alguns segundos, mas que fica na memória para sempre.

Festival do Contrabando: quando a ponte flutua e a história ganha vida

Um dos momentos mais vibrantes do calendário cultural de Alcoutim é, sem dúvida, o Festival do Contrabando.

Se há um evento que põe Alcoutim no mapa todos os anos — ou, mais recentemente, de dois em dois anos — é este.

Realizado em abril, recria os tempos em que o Guadiana era palco de travessias clandestinas, em noites escuras e silenciosas, com sacos às costas e segredos nos bolsos.

Festival do Contrabando
O Festival do Contrabando é um dos momentos altos da vila. Foto: Facebook / Festival do Contrabando

Durante o festival, as ruas de Alcoutim e Sanlúcar enchem-se de vida com performances de rua, mercados de época, teatro, música, marionetas gigantes e até concertos para idosos. Em 2025, o evento juntou mais de 50 000 pessoas, que atravessaram a ponte flutuante — construída apenas para o festival — como se voltassem a um tempo sem passaportes, mas cheio de histórias.

Segundo o ‘Guadiana Digital’, participaram companhias de sete países diferentes e foi decidido que, a partir de agora, o festival será bienal, regressando em 2027 para celebrar os seus 10 anos. A ponte, claro, é a estrela do evento — uma ligação temporária entre dois países, onde se celebra tudo aquilo que os une: arte, cultura e um passado comum.

Como chegar a este paraíso escondido

Chegar a Alcoutim é mais fácil do que parece. Se vem de Espanha, a rota mais comum é cruzar a fronteira em Ayamonte e seguir pela A-499 até encontrar a N-122. A viagem é tranquila, com paisagens que vão abrindo o apetite para o que está para vir. Há quem prefira atravessar o Guadiana de barco, a partir de Sanlúcar, ou esperar pela famosa ponte do festival. Mas em qualquer altura do ano, vale a pena a visita.

E se der um salto à vizinha Guerreiros do Rio, a poucos quilómetros de Alcoutim, encontrará mais casas brancas, ruas estreitas e uma calma quase cinematográfica. É um passeio curto, mas cheio de encanto.

E, claro que, entre mergulhos no rio e aventuras na tirolesa, há que alimentar o estômago. Pode ter a certeza que Alcoutim não desilude. Os restaurantes locais servem iguarias típicas da região: lampreia, enguia, borrego, porco e javali são reis na ementa, com sabores autênticos e porções generosas.

A gastronomia local é um espelho da terra: simples, honesta e cheia de carácter.

No fim, ficará a sensação de ter descoberto um segredo — daqueles que dá vontade de guardar só para si, mas que acaba sempre por contar aos amigos. Alcoutim é essa vila onde se respira fundo, se vive devagar e se atravessa fronteiras com um sorriso.

Como diz o El Cronista, é uma vila “ideal para explorar num fim de semana”, e nós só podemos confirmar: vale cada curva da estrada, cada travessia do rio e cada segundo de paz à beira do Guadiana.