Já conhece a cidade que parece desafiar a gravidade e o tempo?
Parece um truque de fotografia, mas é real: Bonifácio fica a 70 metros do chão e existe há 1200 anos.

No extremo sul da Córsega, ergue-se uma cidade que mais parece ter sido pintada no topo de falésias vertiginosas. Imagine andar pelas ruelas estreitas da Alta Cidade e, de repente, dá de caras com casas pintadas a cores pastel, agarradas a mais de 70 metros de calcário branco sobre o mar — uma visão de perder o fôlego.
Bonifácio, com os seus mais de 1.200 anos, é um daqueles lugares em que parece que a própria falésia decidiu fazer da cidade a sua casa. É que, a mais de 70 metros acima do Mar Mediterrâneo, impressiona pela forma como se agarra às rochas calcárias.
A história deste destino suspenso começa em 828, quando o marquês Bonifácio da Toscana mandou erguer um forte para se proteger das invasões saracenas. Ao longo dos séculos, a cidade passou pelas mãos de Pisa, foi ocupada por génios — literalmente, os genoveses — enfrentou cercos dramáticos e, ainda hoje, preserva um sotaque muito próprio, com laivos do dialeto genovês.
Esta é cidade mais antiga da ilha francesa e combina de forma única a sua Cidade Velha, situada no topo da colina, com a marina, ao nível do mar. Sim, porque, na prática, Bonifácio divide-se em dois mundos distintos.
Dois mundos, uma cidade
A Alta Cidade, ou cidadela velha, é um labirinto de ruas empedradas, repleto de pequenas praças encantadoras como a Place d’Armes, igrejas antigas como Santa Maria Maggiore ou São Domingos, e fortalezas imponentes como o Bastion d’Étendard, que oferece uma vista soberba sobre o porto. Já a zona da marina vibra com outra energia: é um porto natural animado, onde convivem barcos de pesca, iates luxuosos e cafés com esplanadas sempre convidativas, tudo abrigado pelas mesmas falésias impressionantes que tornaram Bonifácio famosa.
Mas, atenção, porque a subida até à zona alta não é das mais fáceis, especialmente nos dias mais quentes. Ainda assim, cada passo é recompensado com vistas panorâmicas incríveis. Pelo caminho, o miradouro junto à Chapelle Saint Roch oferece uma das melhores perspetivas da fortificação e do mar que se estende ao longe.

Para quem preferir evitar a subida a pé, um pequeno comboio turístico parte da marina e leva os visitantes até ao centro histórico, proporcionando um passeio confortável e panorâmico.
A Escadaria do Rei de Aragão e outros encantos
Outro destaque imperdível é a Escadaria do Rei de Aragão. Feitas as contas, são 187 degraus escavados em inclinação acentuada diretamente na rocha, que formam um percurso tão espetacular quanto vertiginoso.
Diz a lenda que foram escavados numa só noite pelos soldados de Afonso V de Aragão, durante o cerco de 1420. No entanto, a realidade é menos épica, mas igualmente fascinante: a escadaria terá sido construída aos poucos por monges franciscanos para lhes permitir aceder a uma nascente de água potável na base da falésia. Atualmente, quem se aventura por ali — equipado com capacete, por segurança — pode até receber um diploma de coragem, especialmente se for criança.

A meio da subida para a Alta Cidade, encontra-se a pequena Chapelle Saint‑Roch e, ao lado, um miradouro com uma das vistas mais emblemáticas de Bonifácio. Um pouco mais acima, entra-se pela Porta de Génova, a antiga entrada da cidade, e sobe-se até à praça principal, onde o mar volta a exibir-se lá em baixo num azul quase irreal.
Do porto partem os barcos para as famosas Ilhas Lavezzi, um pequeno arquipélago granítico conhecido pelas suas praias remotas e águas cristalinas, um verdadeiro tesouro natural a menos de meia hora de barco.
Um paraíso ao largo: Ilhas Lavezzi
Sim, a apenas vinte minutos de barco de Bonifácio, encontra-se o arquipélago das Ilhas Lavezzi. Aqui não existem cafés, restaurantes ou qualquer estrutura turística — por isso, é essencial levar consigo água, comida, protetor solar, chapéu e um saco para o lixo. Contudo, a recompensa é grande: trilhos de cerca de 15 minutos ligam enseadas escondidas e formações rochosas que parecem saídas de um sonho.