Ciclone tropical Alvaro, o primeiro de 2024, afetou com força Madagáscar

O ciclone tropical Alvaro deslocou centenas de pessoas e afetou milhares de outras depois de atingir Madagáscar. Este é o primeiro fenómeno da temporada de ciclones do sudoeste do oceano Índico de 2023/204. Conheça os pormenores!

O pequeno gigante Álavaro superou as previsões iniciais e atingiu a ilha de Madagáscar no primeiro dia do ano, sendo o primeiro ciclone de 2024.
O pequeno gigante Alvaro superou as previsões iniciais e atingiu a ilha de Madagáscar no primeiro dia do ano, sendo o primeiro ciclone de 2024.

O ciclone tropical Alvaro, formado no Canal de Moçambique nos últimos dois dias de 2023, moveu-se para leste e atingiu a costa centro-sudoeste de Madagáscar, próximo a Morombe, perto das 19.20h locais (16.20h em Portugal), no primeiro dia deste ano de 2024.

O ciclone foi o primeiro evento nomeado da temporada de ciclones do sudoeste do oceano Índico de 2023/24 e atingiu o pico por volta das 17 horas locais, com ventos sustentados de 110 km/h e com pressão mais baixa de 985 hPa.

O ciclone manteve esta força até atingir aquele “pequeno” pedaço de terra montanhoso, tendo logo perdido forço após o contacto com a massa continental. Às 17 horas locais de 2 janeiro, o sistema Alvaro era já uma depressão tropical, porém, assim que tomou contacto novamente com o oceano Índico, a 3 de janeiro, voltou a intensificar-se novamente para uma tempestade tropical, com ventos sustentados de 85 km/h.

Por esta hora, estará já como depressão extratropical, no mar, a sudoeste de Madagáscar e a norte das Terras Austrais e Antárticas Francesas, com ventos sustentados de 65km/h. É no mar que se prevê que se mantenha até que se dissipe. A sua influência estende-se até à Tasmânia e parte sul da Austrália, através de um extenso rio atmosférico, alimentado pela disponibilidade de humidade presente no oceano.

Uma trajetória pouco habitual

A incerteza inicial quanto à sua trajetória obrigou as administrações moçambicanas e zimbábues a tomar medidas de preparação para os impactos deste fenómeno natural nos seus territórios. O Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique chegou a emitir um aviso vermelho para os distritos da Beira e Nhamatanda.

A trajetória que o ciclone tomou não é muito comum, apesar de não ser inédita. Na história recente da bacia, vários fenómenos seguiram este padrão, como foram os casos dos fenómenos Jasmine, durante a temporada 2021/2022, ou mesmo do evento Iman, que se deu na temporada 2020/2021.

Este movimento geralmente para leste é explicado por um fluxo direcionador dominante localizado entre 500 e 800 hPa, que sopra de oeste para leste. Posteriormente, o fluxo orientador é dirigido para o eixo noroeste/sudeste, o que explica a trajetória sudeste e que permitiu que o ciclone Alvaro se tivesse mantido afastado do grande pedaço de terra africano e tenha preferido atormentar a ilha que inspirou a incrível saga que adota o mesmo nome, Madagáscar.

A dimensão do ciclone tropical Alvaro foi captada pelas lentes da Agência Espacial Europeia (ESA), que divulgou uma imagem do fenómeno, registada por um dos satélites do sistema Copernicus, o Sentinel 3, a 1 de janeiro.

De acordo com o Gabinete Nacional de Gestão de Riscos e Desastres (BNGRC), mais de 400 pessoas foram obrigadas a abandonar as suas residências para seis locais de evacuação e um total de 4.543 pessoas foram afetadas. Além disso seis escolas completamente destruídas e outras quatro danificadas. As regiões mais atingidas são Haute Matsiatra, Atsimo-Andrefana e Menabe.

O BNGRC também mencionou a inundação de cerca de 933 habitações, bem como de 200 ha de campos de arroz. Em Fianarantsoa, um troço de estrada desabou em Mahazengy.

O governador local de Morombe, onde se deu o primeiro contacto, relatou danos materiais significativos e inundações em várias partes da cidade. Felizmente, não houve registo de vítimas, mas as condições severas levaram muitos residentes a evacuar as suas casas, procurando refúgio em escolas e aldeias próximas.

Lições de um fenómeno

O Fórum Regional de Previsão Climática da África Austral prevê que a África Austral venha a sofrer pelo menos 13 ciclones nesta temporada, superior à média de nove por temporada. No ano passado, as condições adversas causadas por estes eventos causaram graves danos, afetando 5.000 pessoas, matando 13 pessoas e ferindo 16 na região. Em 2022, a África Austral foi afetada por 11 ciclones, incluindo um que causou destruição significativa e deslocou mais de 100.000 pessoas em Moçambique, Malawi e Madagáscar.

A atual temporada ciclones terá começado mais tarde do que havia sido previsto. O episódio confirma que, num contexto de El Niño, as temporadas de ciclones no sudoeste do oceano Índico tendem a começar tarde.

Este evento também confirma que um início tardio ou uma temporada menos ativa não significa menos perigo e lembra-nos até que ponto a previsão da intensidade continua a ser o elemento mais complexo. As primeiras simulações dos modelos de previsão não previam um sistema maduro porém, o Alvaro conseguiu chegar ao estágio de ciclone tropical antes de impactar Madagáscar.