Chuvas fortes e sismos: poderão estar relacionados?

Dois eventos com imenso potencial mortífero e destruidor, que aparentemente não estariam conectados, podem afinal ter alguma correlação. Fique a saber mais sobre o assunto, connosco!

Aproximação de uma tempestade.
A tempestade tropical Hilary, fotografada a chegar a uma cidade da Califórnia.

Depois das fortes chuvas que assolaram a Califórnia no inverno, no passado fim de semana foi a tempestade tropical Hilary que provocou inundações e destruição generalizada. Para além deste estado norte americano, também o Noroeste do México foi afetado pela passagem deste evento, classificado como incomum pelos especialistas meteorológicos. Foi precisamente no estado mexicano da Baixa Califórnia do Sul (situado na Península da Baixa Califórnia) que a passagem deste evento extremo provocou uma vítima mortal.

O que à partida seriam dois eventos completamente distintos, poderão afinal ter algum tipo de correlação (...)

Atualmente é uma tempestade pós-tropical, que se está a deslocar de Sul para Norte, tendo deixado a Califórnia para descarregar alguma precipitação nos estados do Nevada, Oregon e Idaho. Estima-se que até meio da semana a tempestade se tenha dissipado. Curiosamente, aquando da passagem do Hilary na Califórnia, e enquanto produzia chuvas torrenciais, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) registou um sismo de magnitude 5.1 na Escala de Richter, a cerca de 7 km a Sudeste de Ojai, uma pequena cidade 130 km a Noroeste de Las Vegas.

Para já, nada indica que estes dois eventos estejam relacionados, de alguma forma. Em termos científicos, não há qualquer evidência que comprove claramente que um terramoto no Sul da Califórnia esteja associado à precipitação intensa que se registou devido à passagem de uma tempestade tropical, na mesma área geográfica. Contudo, alguns estudos podem indicar algum tipo de ligação.

Poderão, ou não, estar relacionados?

Um estudo de 2006, intitulado “Evidência de atividade sísmica desencadeada por chuva” constatou que a atividade sísmica poderia estar relacionada com as mudanças de pressão dos poros, no solo e subsolo, associadas à infiltração das águas da chuva. Há ainda a questão do percurso das águas da chuva em fraturas abertas, que levam a mudanças hidráulicas que por sua vez podem estar interligadas à ocorrência de sismos.

O USGS, por sua vez, refuta este tipo de correlação, argumentando que a água da chuva não se infiltra facilmente a vários quilómetros de profundidade, onde ocorrem a maioria dos sismos. Este facto torna improvável que o risco sísmico seja afetado pela precipitação, segundo a mesma fonte. Contudo, o USGS admite que a infiltração de água no subsolo, junto às falhas tectónicas, possa gerar mudanças nas tensões e consequentemente nas taxas de sismicidade.

Alguns académicos da Universidade de Stony Brook, em Nova Iorque, estudaram especificamente o caso da Califórnia e chegaram à conclusão que as variações anuais de tensão nas falhas daquele estado são maiores durante anos de precipitação e também durante anos de seca excecionalmente fortes, algo que também já terá sido verificado num estudo idêntico, desenvolvido na China.

O que à partida seriam dois eventos completamente distintos, poderão afinal ter algum tipo de correlação que está neste momento a ser averiguado pela comunidade académica mundial.