Chegou a hora da despedida: até sempre cacilheiros do Tejo!

Os ferries que fazem a ligação entre Almada e Lisboa começaram a ser substituídos por embarcações elétricas. Ainda antes do adeus, conheça a história dos barcos que marcaram a identidade destas duas cidades.

Cacilheiro no Tejo
Esta é a icónica imagem do Tejo que deixará de ser vista com a substituição dos velhos cacilheiros. Foto: Tiago Fernandez via Adobe Stock

Há imagens que são icónicas em Lisboa: O elétrico 28 a subir e a descer as ruas estreitas de Alfama, a Torre de Belém, nas margens do rio, ou o Castelo de São Jorge na colina mais alta da cidade.

E também o cacilheiro, obviamente, a unir as duas margens do Tejo. Há quase cinco décadas que os ferries laranjas levam e trazem milhões de passageiros todos os anos, entre Cacilhas, em Almada, e Cais do Sodré, em Lisboa.

Os cacilheiros laranjas marcaram profundamente o quotidiano destas duas cidades, mas chegou a hora da despedida.

A travessia entre Cacilhas e Cais do Sodré iniciou um novo capítulo na história dos transportes fluviais. As emblemáticas embarcações laranjas e brancas começaram agora ser substituídas por modernos navios elétricos. Na era da transição energética, o fim dos cacilheiros seria, mais tarde ou mais cedo, inevitável.

Mais velocidade, mais espaço e mais ecológicas

Os novos barcos, movidos a eletricidade, são mais ecológicos, silenciosos e rápidos, podendo atingir 30 km/hora. São também mais espaçosos, com capacidade para 540 passageiros e 20 bicicleta, e estão equipados com ar condicionado, tomadas elétricas e casas de banho.

A modernização da frota da Transtejo implicou um investimento total de cerca de 90 milhões de euros — 57 milhões para a aquisição e 33 milhões destinados à manutenção até 2035.

Resta saber agora o que acontecerá com os velhos cacilheiros. A Transtejo ainda não confirmou o destino final das embarcações, algumas das quais com mais de 30 anos de serviço.

as novas embarcações da Transtejo movidas a eletricidade
As novas embarcações, movidas a energia elétrica, são mais ecológicas, menos ruidosas e mais velozes do que os cacilheiros. Foto: Transtejo e Softlusa

Os velhos cacilheiros poderão, em última instância, seguir para abate, mas, se houver interessados, podem até reaproveitados para outros fins, como já aconteceu com o Rio Tejo Segundo, convertido em restaurante flutuante na Baía do Seixal.

Cinco décadas de travessias no Tejo

Para contar a história dos cacilheiros, é preciso recordar que, no passado, já fizeram as ligações com todos os cais da margem sul do rio, partindo do Seixal, Montijo, Barreiro, Trafaria e Porto Brandão. Ao longo da década de 1990, os ferries laranjas foram sendo gradualmente substituídos pelos modernos catamarãs.

A travessia dos cacilheiros começa, aliás, em 1977 quando a Transtejo/Soflusa inicia o processo de modernização da frota, encomendando a construção de 12 embarcações com capacidade para 500 passageiros aos estaleiros de São Jacinto, em Aveiro, de Foznave, na Figueira da Foz e de Argibay, em Alverca, os grandes construtores navais das décadas de 1980 e 1990.

Inicia-se, então, a viagem dos cacilheiros no Tejo, entre 1980 e 1982, com embarcações de mais de 300 toneladas, que substituíram os barcos mais antigos, construídos em madeira.

O ano de 1980 marca a entrega do navio da classe "Cacilhense", o primeiro de uma nova geração de oito ferries. Mas o “cacilheiro” é o nome que se colou à identidade das embarcações do Tejo desde a década de 1930, quando o Cais de Cacilhas, em Almada, passou por grandes obras de ampliação.

Até à construção da Ponte 25 de Abril, os barcos aliás, foram a única ligação entre as duas margens do rio. No dia da sua inauguração, a 6 de agosto de 1966, muitos pensaram que as embarcações do Tejo iriam sofrer o rude golpe do progresso.

catamarã do Tejo
Na década de 1990, os Catamarãs substituíram os cacilheiros em todas as travessias da margem sul, exceto Cacilhas. Foto: José Luís Oliveira Pires via Facebook (Página Cacilheiros do Tejo)

Mas os ferries resistiram até aos dias de hoje, modernizando o seu design e tecnologia. O tempo dos cacilheiros pode até ter chegado ao fim, mas irá certamente permanecer na memória dos portugueses e dos turistas por muito mais décadas.

Referências da notícia

Um novo ciclo no Tejo: operação elétrica inicia em Cacilhas – Transtejo e Soflusa

Um pouco de história – Transtejo e Soflusa