Barcos que voam sobre a água: os novos sistemas de transporte marítimo que prometem um futuro mais verde
Se o século XX foi o dos comboios de alta velocidade e dos aviões comerciais, o século XXI poderá ser o século dos barcos que sobrevoam a água. Uma nova geração de transporte marítimo que combina eficiência, silêncio e respeito pelo mar.

Em Espanha o transporte marítimo continua a ser um pilar do turismo e da mobilidade. Todos os anos, milhões de passageiros cruzam as águas entre a península e as Ilhas Baleares ou Canárias, e os portos de Barcelona, Valência e Málaga consolidam as suas posições como líderes europeus no tráfego de cruzeiros e ferries.
No entanto, com o aumento da consciência ambiental e a urgência da redução das emissões, o setor procura reinventar-se. E neste cenário de inovação, surge um protagonista inesperado: o barco que “voa” sobre a água.
As origens do navio que se eleva acima das ondas
Embora possa parecer tecnologia futurista hoje em dia, o conceito de fazer uma embarcação subir acima da superfície do mar não é novo. No final do século XIX, o engenheiro italiano Enrico Forlanini foi o primeiro a projetar um protótipo de hidrofólio. Por outras palavras, um barco equipado com lâminas subaquáticas que elevam o casco para fora da água à medida que ganha velocidade.
FORLANINI, padre del Aliscafo
— Josto MaffeoX (@JostoMaffeo) December 13, 2023
13 Diciembre 1848. Nace en #Milano, #Italia , Enrico #Forlanini.
Será #ingeniero, padre de muchos inventos.
Uno es el #aliscafo (inglés #hydrofoil) navío que desliza y se eleva sobre las aguas.
Sigue navegando en el mundo@controladores pic.twitter.com/iv3dXJwOcd
Em 1906, a sua criação atingiu a velocidade de 68 km/h no Lago Maggiore, em Itália, um marco que marcou o início de uma ideia revolucionária: reduzir o atrito com a água para ganhar velocidade e eficiência.
Décadas depois, engenheiros como Alexander Graham Bell (conhecido por inventar o telefone) e o seu colaborador Casey Baldwin aperfeiçoaram o sistema, criando o "HD-4" em 1919, um hidrofólio capaz de ultrapassar os 110 km/h. No entanto, a complexidade e o custo destas máquinas impediram o seu uso comercial. Pelo menos até agora.
O renascimento ecológico do hidrofólio: Gustav Hasselskog e os Candela
Mais de um século depois, o sueco Gustav Hasselskog trouxe a ideia de volta à tona, literalmente, com uma abordagem sustentável. Fundador da Candela Technology, Hasselskog apresentou o Candela C-7 em 2019, o primeiro barco elétrico produzido em massa com lâminas subaquáticas (fólios) controladas automaticamente.
Hoje, a sua empresa fabrica modelos como o Candela C-8 e o Candela P-12 Shuttle, um ferry urbano já em fase de testes em Estocolmo que promete revolucionar a mobilidade marítima.
- @NEOM has ordered a fleet of @CandelaBoat's high-speed electric hydrofoil shuttle ships to be used as water transport around its islands https://t.co/p5xHRogVBl pic.twitter.com/YnvHPh0BFU
— designboom (@designboom) August 30, 2024
Este último, totalmente elétrico, pode transportar até 30 passageiros a uma velocidade de 30 nós sem gerar ondas ou ruído, e com um consumo de energia equivalente ao de um carro elétrico.
A ciência por detrás do barco que voa sobre a água
O princípio é simples, mas genial: à medida que a velocidade aumenta, as lâminas subaquáticas criam sustentação, elevando o casco do barco para fora da água. Isto reduz drasticamente o atrito, o principal inimigo da navegação eficiente.

Sensores e sistemas eletrónicos ajustam o ângulo da asa em tempo real para manter um voo estável, mesmo em mares agitados. O resultado é uma navegação suave, silenciosa e sem rastos: perfeita tanto para as áreas costeiras protegidas como para as rotas turísticas onde o impacto ambiental deve ser minimizado.
Vantagens de um futuro sem ruído nem rastos
Hidrofólios elétricos como os da Candela ou os franceses da SeaBubbles (que já operam em Genebra e Paris) prometem uma nova era de sustentabilidade marítima. As suas principais vantagens incluem:
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Emissões diretas zero: ao funcionarem com motores elétricos alimentados por bateria, eliminam completamente a poluição por dióxido de carbono e partículas.
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Sem ruído ou vibrações: os passageiros desfrutam de uma viagem mais agradável, enquanto a vida marinha permanece intacta.
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Eficiência energética: ao reduzir o atrito, elas requerem muito menos energia do que um barco convencional.
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Sem deixar rasto: evitam a erosão costeira e o impacto noutras embarcações ou ecossistemas sensíveis.
Além disso, a sua manutenção é mais simples e barata devido à eliminação dos motores de combustão e das hélices tradicionais. Cidades como Estocolmo, Genebra e Veneza já estão a testar frotas de hidrofólios elétricos para transporte urbano, e espera-se que em breve estejam disponíveis em rotas turísticas do Mediterrâneo.
Em Espanha a combinação de um extenso litoral, inovação tecnológica e um compromisso com a sustentabilidade torna o país um local ideal para a sua adoção. De facto, os primeiros passos já estão a ser dados. A empresa Candela Technology completou uma travessia de Sotogrande (Espanha) a Ceuta (África) com o seu modelo de hidrofólio elétrico Candela C-8, obtendo resultados muito positivos.