Australian Open: será a alta competição compatível com calor extremo?

As temperaturas elevadas deixam impactes em recursos hidrográficos e em comunidades. Mas também nos atletas de alta competição, como por exemplo tenistas e futebolistas. Como lidam eles com o calor tórrido? Veja aqui como as políticas do Australian Open protegem os atletas!

Ténis.
As pausas para hidratação, na prática desportiva, assumem especial importância em dias em que se registam valores elevados de temperatura.

É sabido pela população, tendo sido estudado e comprovado pelos académicos, que as temperaturas extremas podem ter efeitos sérios na mortalidade. Temperaturas muito acima ou muito abaixo do normal, para uma dada altura do ano, podem ser responsáveis por picos de mortalidade que se verificam geralmente na população mais vulnerável, ou seja, jovens, idosos e doentes crónicos.

No Open da Austrália existe, desde 2019, uma Política de Calor Extremo (...) que pondera quatro elementos (...)

Contudo, os atletas de alta competição de certas modalidades também estão muitas vezes expostos a temperaturas anómalas, que podem afetar o desempenho e a sua condição física. Apesar de terem uma forte preparação física (e psicológica), condições de calor extremo, por exemplo, podem levar os atletas a ficarem severamente desidratados e a perderem peso de forma muito rápida, no decorrer da prática desportiva.

Nos últimos dias, um conhecido jogador de futebol de nacionalidade brasileira (Hulk) perdeu cerca de 6 kg durante os 90 minutos de um jogo de futebol. O jogo, também disputado no Brasil, decorreu num contexto de temperaturas e humidade elevadas, situação comum nesta altura no ano em certas latitudes no Hemisfério Sul, onde o verão está na sua plenitude.

O mesmo aconteceu nestas últimas duas semanas, no primeiro Grand Slam de ténis do ano, que decorreu na Austrália. Neste caso, um dos torneios de ténis mais famosos do mundo teve um início atribulado, devido às temperaturas elevadas. Num dos primeiros dias de competição, vários encontros foram suspensos devido aos mais de 35 °C que se faziam sentir por volta do meio-dia, em Melbourne, meia-noite em Portugal Continental.

As políticas que protegem os atletas

No caso do futebol, foi introduzida há relativamente pouco tempo a pausa para hidratação, uma pausa a meio da primeira e da segunda parte que serve para os atletas se hidratarem quando se verificam valores de temperatura e de humidade elevados. Contudo, é no ténis que se desenvolveram políticas mais concretas que visam promover a integridade física dos atletas.

No Open da Austrália existe, desde 2019, uma Política de Calor Extremo (EHP, na sigla em inglês), que pondera quatro elementos: o calor radiante, a temperatura do ar à sombra, a humidade relativa e a velocidade do vento, em todo o recinto onde se disputa o torneio. Através da ponderação destes fatores existe uma escala que pode variar entre o 1 e 5, em que “1” significa que existem condições ideais para a prática do ténis, e “5” leva à suspensão da prática desportiva, principalmente nos courts exteriores.

Esta Política permite ainda a existência de intervalos de 10 a 15 minutos entre sets, quando a escala chegar a “4”. As partidas que se jogam em courts que têm coberturas amovíveis têm menos probabilidade de alcançar o nível “5” já que dispõem de sistemas de climatização que regulam de forma eficaz a temperatura, assim que a cobertura é fechada.

Esta política é resultado do trabalho da Federação Australiana de Ténis e da Universidade de Sydney, que apostaram na medição mais abrangente das condições meteorológicas no Melbourne Park (local onde se realiza o torneio) e na análise intensiva dos efeitos do calor no corpo humano, com o objetivo de melhorar as condições dos jogadores, potenciando as suas capacidades.

A aplicação de novas tecnologias permite a medição em tempo real dos 4 fatores que compõem o EHP, recolhendo informação valiosa e precisa que acaba por tornar o Open da Austrália mais seguro para os atletas, bem como para os trabalhadores e o próprio público.