Alterações climáticas: mais guerras e deslocações em massa

Num debate de alto nível do órgão de segurança máximo da ONU, António Guterres adverte que as alterações climáticas e a má gestão ambiental são multiplicadores de risco e podem agravar as tensões, dificultando a prevenção de conflitos e os esforços de manutenção da paz.

Seca na Somália
As secas cada vez mais severas na Somália levaram à deslocação da população, minando a segurança alimentar e deixando as mulheres vulneráveis à exploração sexual.

O Secretário-Geral da ONU António Guterres avisou os membros do Conselho de Segurança que nenhuma região do mundo está imune aos piores impactos climáticos e que "a janela de oportunidade" para evitar este grave problema para a humanidade "está a fechar-se rapidamente".

"Incêndios florestais, inundações, secas e outros fenómenos climáticos extremos estão a afetar todos os continentes. Os efeitos das alterações climáticas são particularmente profundos quando se sobrepõem com fragilidades e conflitos passados ou atuais. É evidente que as alterações climáticas e a má gestão ambiental são multiplicadores de risco", advertiu durante um debate aberto sobre a manutenção da paz e de segurança internacionais.

Como resultado, e com capacidades de resposta limitadas e recursos naturais em diminuição, alertou que as queixas e tensões podem aumentar, dificultando a prevenção de conflitos e os esforços de manutenção da paz.

Para ilustrar isto, baseou-se no exemplo da Somália, onde "secas e inundações mais frequentes e intensas estão a minar a segurança alimentar, aumentando a competição por recursos escassos e exacerbando as tensões comunitárias existentes, das quais o movimento Al Shabaab beneficia".

A maioria dos refugiados vem de países com pouca adaptação às alterações climáticas

A este cenário complicado, acrescentou que mais de 30 milhões de pessoas foram deslocadas por catástrofes relacionadas com o clima e que 90% dos refugiados vêm dos países mais vulneráveis, com menor capacidade de adaptação às alterações climáticas.

Por sua vez, muitos destes refugiados são acolhidos por nações que também sofrem os efeitos das alterações climáticas, um quadro que complica a situação das comunidades de acolhimento e dos orçamentos destes países.

Apesar de todas estas ameaças, Guterres enviou uma mensagem de otimismo e salientou que ainda há tempo para agir e assegurar que a ação climática contribui para a paz e segurança internacionais.

Para o conseguir, enumerou três prioridades-chave:

  1. Manter o compromisso de todos os países de limitar o aquecimento global a não mais de 1.5 ºC, do Acordo de Paris. Para isto, apelou aos países para que se comprometessem a apresentar os planos onde se responsabilizam a tomar medidas concretas para reduzir o impacto do aquecimento global, uma vez que 45% das emissões globais de poluentes precisam de ser reduzidas até 2030.
  2. Conseguir grandes avanços na adaptação e resiliência, atribuindo pelo menos 50% do financiamento global do clima. Neste ponto, os países desenvolvidos devem cumprir o seu compromisso de fornecer 100 mil milhões de dólares, por ano, em financiamento climático ao mundo em desenvolvimento, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas em Glasgow, na Escócia, em Novembro.
  3. Reforçar mutuamente a adaptação ao clima e a construção da paz, com base nas plataformas de diálogo para a gestão cooperativa dos recursos naturais na região do Lago Chade, que promovem a reflorestação e melhoram o acesso a meios de subsistência sustentáveis.
  4. São três os pontos-chave para tentar reverter a crise atual e para fazer com que os países mais vulneráveis às alterações climáticas se tornem mais seguros.

Riscos climáticos e segurança

Guterres acrescentou que as mulheres devem ser atores críticos em todos estes esforços e que a Organização está a incorporar os riscos climáticos na sua análise política e nas suas iniciativas de prevenção de conflitos e de construção da paz.

"O Mecanismo de Segurança Climática está a apoiar missões no terreno, equipas nacionais, e organizações regionais e sub-regionais para analisar e abordar os riscos de segurança relacionados com o clima e desenvolver respostas integradas e atempadas", afirmou.