A mineralização destrutiva de lítio: o custo oculto da eletricidade

As baterias de lítio desempenham um papel fundamental na transição de combustíveis fósseis para energias verdes. Alimentam veículos elétricos e armazenam energia em redes renováveis, ajudando a reduzir as emissões dos setores de transporte e energia. Saiba mais aqui!

Lítio; mineralização;
A transição para um novo sistema de energia é muitas vezes entendida como um conflito entre as empresas de combustíveis fósseis e os proponentes da ação climática.

Para evitar o pior da presente crise climática, é necessário reduzir rapidamente as emissões de carbono. Para isso, os sistemas de energia em todo o mundo devem fazer a transição de combustíveis fósseis para energias renováveis. As baterias de lítio desempenham um papel fundamental nesta transição.

Debaixo da planície de sal do Atacama (Salar de Atacama - uma extensão majestosa de elevada altitude com gradientes de branco e cinza, salpicada de lagoas vermelhas e rodeada por vulcões imponentes) está a maior parte das reservas mundiais de lítio. O Chile abastece atualmente quase um quarto do mercado global, contudo, extrair lítio dessa paisagem única tem um grave custo ambiental e social.

Nas instalações de mineralização, que ocupam mais de 78 km2 e são operadas pelas multinacionais SQM e Albemarle, a salmoura - solução de água saturada de sal - é bombeada para a superfície e colocada em tanques de evaporação, resultando num concentrado rico em lítio.

A mineralização do lítio e o combate à crise climática

Todo este processo de mineralização utiliza enormes quantidades de água num ambiente ressecado. Como resultado, a água doce é menos acessível para as 18 comunidades indígenas que vivem no perímetro e os habitats de espécies como os flamingos andinos foram interrompidos.

Esta situação é agravada pela seca induzida pelo colapso climático e pelos efeitos da extração e processamento do cobre, do qual o Chile é o maior produtor mundial. Para agravar ainda mais estes danos ambientais, o estado chileno nem sempre impôs o direito dos povos indígenas ao consentimento prévio.

Estes factos levantam uma questão incómoda que ecoa pelo mundo: lutar contra a crise climática significa sacrificar comunidades e ecossistemas? As cadeias de suprimentos que produzem tecnologias verdes começam em fronteiras extrativistas como o deserto do Atacama.

Estamos à beira de um boom global na mineralização ligado à transição energética. Um relatório recente publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE) afirma que cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris aumentaria a procura por "minerais críticos" usados para produzir tecnologias de energia limpa.

Os números são particularmente dramáticos para as matérias-primas usadas no fabrico de veículos elétricos: em 2040, a AIE prevê que a procura por lítio terá aumentado 42 vezes em relação aos níveis de 2020.

As consequências da extração de minerais

Os setores de recursos naturais, que incluem atividades extrativas como a mineralização, são responsáveis por 90% da perda de biodiversidade e mais de metade das emissões de carbono. É estimado que o setor de mineralização produza cerca de 100 biliões de toneladas de resíduos todos os anos.

A extração e o processamento são normalmente intensivos em água e energia e contaminam os cursos de água e o solo. Junto com estas mudanças calamitosas no ambiente natural, a mineralização está ligada a violações dos direitos humanos, doenças respiratórias, expropriação do território indígena e exploração do trabalho.

A mineralização de lítio no Chile tem mostrado uma série de efeitos negativos para o ambiente e para a população indígena, que sofre diretamente com isso.

Uma vez que os minerais são arrancados do solo, as mineradoras tendem a acumular lucros e deixar para trás pobreza e contaminação. Esses lucros multiplicam-se ao longo das vastas cadeias de abastecimento que produzem veículos elétricos e painéis solares. O acesso a estas tecnologias é altamente desigual e as comunidades que sofrem os danos da extração frequentemente têm os seus benefícios negados.

As comunidades indígenas no deserto do Atacama estão na linha de frente dos impactos devastadores das alterações climáticas. Mais do que uma desculpa para intensificar a mineralização, é importante que a atual crise climática seja um impulso para transformar os padrões vorazes e ambientalmente prejudiciais de produção e consumo que causaram esta crise em primeiro lugar.