Tempo em Portugal para outubro: das temperaturas muito acima da média à possibilidade de chuvas intensas?

Setembro despede-se com temperaturas dignas de verão! Que se prevê para outubro? Virá a tão desejada chuva para mitigar a seca grave que afeta uma grande parte da nossa geografia? Eis a previsão para Portugal, Açores e Madeira.

previsão do tempo; outubro; previsão mensal; Portugal
Outubro arrancará com temperaturas substancialmente superiores à média climatológica de referência. E para as semanas seguintes, que se prevê em Portugal continental, Açores e Madeira?

Setembro “diz adeus” com tempo estável, geralmente soalheiro e temperaturas invulgarmente elevadas para a época do ano praticamente de norte a sul de Portugal continental, após uma primeira quinzena caracterizada por várias depressões e gotas frias que produziram períodos de chuva ou aguaceiros, por vezes fortes, e trovoadas em vários locais do nosso território. Ainda assim, a sua distribuição espacial foi imensamente irregular.

Climatologia de outubro, o primeiro mês verdadeiramente de outono

Outubro pode ser considerado como o primeiro mês verdadeiramente outonal. Em Portugal continental, as temperaturas médias são entre 4 a 5 ºC mais baixas em relação às de setembro, sendo que essa diferença é mais substantiva no interior, pois o litoral e os Arquipélagos estão expostos ao efeito termorregulador do mar.

No interior Norte e Centro o casaco terá de estar sempre por perto, pois nessas áreas o tempo mais fresco será cada vez mais notório. À noite as geadas chegarão a mais zonas, não se ficando apenas pela alta montanha. Por outro lado, durante o dia e em particular no Centro e Sul do território, a manga curta ainda será bastante utilizada durante o período diurno.

É o terceiro mês mais chuvoso do ano em Portugal continental

No que diz respeito à chuva, outubro é conhecido pela chuva de carácter frontal no nosso país graças à chegada cada vez mais frequente de frentes e depressões atlânticas, em particular à fachada atlântica e sobretudo ao Litoral Norte e Centro, mas também nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela.

Ainda assim, neste mês tampouco se descarta a ocasional formação de gotas frias que com o seu carácter errático podem produzir aguaceiros e trovoadas convectivas e até mesmo queda de granizo, sendo que algumas chuvadas podem ser potencialmente torrenciais, podendo ocorrer em qualquer ponto da nossa geografia continental. Tendo isto em conta, podem gerar-se vários tipos de situações sinóticas que podem trazer chuva, seja ela abundante, ou não.

previsão do tempo; meteorologia; outubro; portugal
Outubro costuma ser um dos meses mais chuvosos do ano em Portugal continental. Como será em 2023?

Devido ao acima exposto, outubro é, de acordo com a normal climatológica 1981-2010, o terceiro mês mais chuvoso do ano em Portugal continental, apresentando um valor de precipitação média mensal de 108,8 mm. Por um lado o Minho, Douro Litoral, áreas expostas ao fluxo de Sul/Sudoeste, áreas montanhosas destacam-se como as que mais nuvens e precipitação retêm.

Os Açores também são uma das regiões mais chuvosas do país. Por outro lado, com muito menor precipitação acumulada destacam-se as regiões do Alentejo e Algarve, assim como a Madeira.

Prevê-se um outubro muito mais quente do que o normal de norte a sul de Portugal continental

Segundo o modelo da nossa maior confiança, as anomalias serão muito significativas nos primeiros dias de outubro (1 a 9 de outubro), prevendo-se valores de temperatura consideravelmente acima da média de referência de norte a sul de Portugal.

anomalia de temperatura; Sudoeste Europeu
Para a segunda semana de outubro (9-16 de outubro) prevê-se entre 1 ºC e 3 ºC acima da média de norte a sul de Portugal continental e Madeira. Nos Açores as anomalias térmicas serão mais suaves, ou sem significado estatístico.

Os mapas projetam valores térmicos entre 3 ºC a 6 ºC acima do normal em quase toda a geografia, exceto em pontos do litoral ocidental e algarvio, onde a anomalia térmica positiva será ligeiramente mais suave, entre 1 ºC a 3 ºC acima do habitual. Para o interior Centro prevê-se uma anomalia térmica positiva brutal, com temperaturas tremendamente acima da média, entre 6 ºC a 10 ºC acima do normal.

Para a segunda quinzena do mês todos os cenários estão em aberto, pois os mapas meteorológicos projetam diversos e distintos cenários a partir de 7/10 de outubro.

Aliás, a esta distância temporal, prever o tempo mais além de 10/15 dias é pura ficção científica, pelo que as perspetivas aqui desmontadas para a segunda metade do mês de outubro devem apenas ser encaradas como tendências e não como certezas.

Ainda assim, à data de hoje, os mapas sugerem algum movimento atmosférico. Assim, prevê-se no cômputo geral, temperaturas entre 1 ºC e 3 ºC acima da média, exceto nalgumas áreas do Norte e do Centro onde a anomalia térmica positiva será muito mais suave - entre 0 e 1 ºC acima do normal -, em particular na última semana (23-30 outubro).

E para a chuva, o que está em perspetiva?

Como já foi acima mencionado, outubro é conhecido pelas suas chuvadas outonais, muito mais frequentes e intensas, podendo em certos anos dar origem a alguns dilúvios (inundações) em boa parte do território de Portugal continental. Uma das suas causas são as depressões atlânticas (normalmente mais fáceis de prever pois aparecem nos mapas com vários dias de antecedência) e, em ocasiões mais raras, os rios atmosféricos.

O problema é quando surgem gotas frias ou depressões isoladas em altitude, pois estas não se podem prever até um par de dias antes. Além disto, este tipo de previsão meteorológica geralmente complica-se por causa do carácter errático e de autêntica “lotaria” destas perturbações, dado que saber onde irá chover e trovejar é, muitas vezes, difícil de antecipar até poucas horas antes.

anomalia de precipitação; Portugal; outubro
Na segunda semana de outubro prevê-se chuva acima da média nalgumas regiões de Portugal continental, mas a incerteza em torno deste cenário ainda é bastante alta.

Posto isto, tudo indica que a primeira metade de outubro será consideravelmente mais seca do que o normal em Portugal continental e Madeira, em particular na primeira semana. Exceção feita aos Açores onde se prevê uma impressionante quantidade de chuva acima da média, especialmente nos Grupos Central e Oriental (10 a 30 mm acima do habitual).

Já para a segunda semana (9 a 16 outubro) o panorama poderá alterar-se razoavelmente em Portugal continental (mas não de maneira significativa), não se descartando inclusive níveis de precipitação entre 0 e 10 mm acima da média no Litoral Norte e Centro (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Lisboa) e pontos do interior Norte e Centro (Vila Real, Viseu e Bragança).

No resto do país não se antecipa anomalia de precipitação estatisticamente significativa (mapa pintado a branco), o mesmo se aplicando aos Açores e Madeira, o que por outro lado não exclui a hipótese de que a chuva esteja dentro dos índices pluviométricos habituais.

Na segunda quinzena de outubro, a situação poderá mudar, de acordo com as últimas atualizações do nosso modelo de referência. Enquanto que na terceira semana (16-23 outubro) não se projeta qualquer anomalia de precipitação nos Açores e Continente, na Madeira os níveis de precipitação poderão revelar-se 10 mm superiores à média.

Para a última semana (23-30 outubro), tanto a Madeira como parte do Sul de Portugal (Algarve e Baixo Alentejo) poderiam registar precipitação acima da média. Uma vez mais, ter em conta que a previsão para a segunda quinzena de outubro deverá muito provavelmente sofrer alterações.

Um jato polar ondulado

Após o domínio do anticiclone de bloqueio nos primeiros dias de outubro, que poderá originar temperaturas recorde nalguns locais do nosso país, um dos cenários mais consistentes previsto pelos mapas à data de hoje aponta para um jato polar mais ondulado, em particular durante a segunda quinzena, o que poderia abrir caminho à chegada de frentes, depressões ou gotas frias.

Todavia, há um outro fator que entra em jogo - sobretudo nesta época do ano - e que complica ainda mais as previsões a médio e longo prazo: a presença de ciclones tropicais ou pós-tropicais no Atlântico Norte, o que aumenta consideravelmente a incerteza associada à meteorologia.

De qualquer das maneiras, é preciso que chova bastante, de uma forma contínua e sem intensidades extremas, para que a situação de seca se mitigue substancialmente nos campos, solos e aquíferos.