Na próxima semana a NAO positiva poderá impor-se: quanta chuva cai em Portugal com este regime?
Para a próxima semana perspetiva-se a instalação de um regime NAO+ à escala europeia, segundo o modelo de referência utilizado pela Meteored. Que significa isto para Portugal no que diz respeito ao tempo, e em concreto à chuva?

O índice NAO (Oscilação do Atlântico Norte, em português), é uma ferramenta importante utilizada para a previsão de padrões meteorológicos de médio e longo prazo e uma das teleconexões que mais influencia o clima português, sobretudo no inverno. Este índice fornece excelentes informações sobre o comportamento do fluxo atmosférico, e “pistas” sobre a sua potencial evolução, ou seja, indica-nos a possível movimentação das diferentes de massas de ar frio e quente, que se situam a norte e a sul da nossa corrente de jato.
O seu cálculo é bastante simples, tratando-se apenas da diferença de pressão ao nível do mar entre a depressão da Islândia e o anticiclone dos Açores. O resultado deste cálculo pode dar um índice (ou fase) positivo (NAO+) ou negativo (NAO-) e, de acordo com as previsões dos modelos, poderá tornar-se positivo a partir de meados da próxima semana. Algumas vezes a diferença de pressão é elevada, mas noutras ocasiões não é assim muito robusta. E é esta variação, que diz respeito à já referida oscilação: a NAO.
O que costuma acontecer quando se estabelece um NAO+?
De acordo com as últimas atualizações do modelo Europeu (ECMWF), a partir da próxima quarta-feira, 22 de outubro, haverá uma mudança de regime no ‘puzzle’ meteorológico europeu, instalando-se um padrão NAO+. Quando isto acontece, as depressões tendem a circular pelas latitudes altas, enquanto Portugal e outros países do sul do continente europeu mantêm-se sob a influência das altas pressões subtropicais.

Porém, nesta ocasião, há uma nuance em relação à chuva que se destaca para Portugal continental, corroborada tanto pelo mapa semanal de anomalia de precipitação do modelo ECMWF, como pelo mapa gráfico de regimes meteorológicos a médio e longo prazo deste mesmo modelo. Abaixo explicamos em que consistirá esta nuance, relacionada com a atual previsão da distribuição de chuva para a próxima semana (20-26 outubro).
Especificamente em Portugal, o que poderá ocorrer na próxima semana?
Normalmente, um padrão NAO+ implica uma ausência generalizada de precipitação em Portugal continental, uma vez que as altas pressões subtropicais tendem a condicionar a situação meteorológica no nosso país. Com um tempo predominantemente seco e estável e geralmente soalheiro, são raros os dias em que ocorre precipitação, e quando a mesma acontece é residual ou muito escassa.

Mas nas latitudes a norte da nossa geografia, a NAO+ consiste numa circulação zonal forte, com ventos de Oeste, que se traduzem numa maior formação de depressões atlânticas e das suas respetivas frentes, impactando em países e regiões europeias como as Ilhas Britânicas e a Escandinávia.
A previsão de um sinal pouco robusto do padrão NAO+ (diferença de pressão pouco elevada), aliada à perspetiva de um gradual aparecimento da sua fase oposta, o padrão NAO- (representada nas barras verdes da imagem acima, embora bem mais ténue que a NAO+), combina-se com os evidentes contrastes regionais da distribuição pluviométrica prevista para a próxima semana e ilustrada pelos mapas de anomalias de precipitação do modelo Europeu.

Nestes mapas de anomalias de precipitação vislumbra-se a Região Norte e algumas zonas do Centro de Portugal continental com anomalias de chuva positivas, isto é, chuva acima do normal para esta época do ano (+10 a +30 mm em geral, sendo +30 a +60 mm no Alto Minho - distrito de Viana do Castelo, e 0 a +10 mm no Nordeste Transmontano - distrito de Bragança, e em algumas zonas da Região Centro), por oposição a valores normais ou inferiores à média climatológica de referência no resto do país.
Assim, a nuance em relação à chuva é que, fugindo ligeiramente àquilo que seria de esperar com um padrão NAO+, como desta vez o mesmo se mostra pouco robusto, algumas frentes atlânticas mais ativas de depressões nas latitudes altas irão gerar precipitação em latitudes mais meridionais, chegando até países como Portugal, nomeadamente à sua região mais setentrional.
Padrão NAO+ resultará num tempo bastante ameno para a época
Tudo indica que no curto-médio prazo, o panorama de temperaturas acima da média, com calor fora de época, irá prolongar-se por, pelo menos, mais uma semana. Os mapas semanais do modelo ECMWF demonstram isso com clareza, evidenciando anomalias térmicas positivas bem acentuadas para a época nas três unidades territoriais portuguesas: Continente, Açores e Madeira.
Em toda a geografia portuguesa, à exceção do Grupo Ocidental açoriano onde se prevê uma anomalia de calor ligeiramente mais suave, são expectáveis temperaturas entre 1 e 3 ºC superiores aos valores médios de referência.