O tempo no inverno astronómico em Portugal: será muito variável?

Com a mudança de estação, agora os olhares concentram-se nas previsões a longo prazo, com maior interesse ainda por se tratar do inverno. Serão meses muito frios e chuvosos ou predominarão os sistemas anticiclónicos? Confira a previsão aqui!

Serra da Estrela; neve
Os nevões costumam ser habituais nesta época do ano em sistemas montanhosos como a Serra da Estrela. E este ano, como será?

O inverno astronómico teve início no passado 21 de dezembro, mas o climatológico já está connosco há alguns dias, uma vez que abrange os meses inteiros de dezembro, janeiro e fevereiro. Nestas primeiras semanas tivemos um panorama meteorológico relativamente temperado, com precipitação abundante na vertente atlântica, com destaque para as regiões do Minho e Douro Litoral, à exceção dos primeiros dias do início do mês com as depressões Dora e Ernest, momento em que o frio se fez sentir de forma mais evidente. A médio prazo e a coincidir com a quadra natalícia, tudo parece indicar que as temperaturas suaves que temos tido por estes dias vão baixar de forma significativa, mesmo com chuva escassa ou restringida a áreas específicas.

O mais comum é recorrer a modelos sazonais, uma ferramenta em desenvolvimento e investigação constante que permite elaborar previsões muito gerais a longo prazo. Mas da mesma forma que é habitual consultar os modelos sazonais, assim o é interpretá-los incorretamente. Devemos fazer uso deles tendo em conta que são uma ferramenta probabilística, que somente nos indicará os dados de partida com os quais se produzirá um cenário ou outro.

Temperaturas poderão ser ligeiramente mais elevadas que o normal para a época

Atualmente, as previsões sazonais que se podem consultar no Centro Europeu de Previsão a Médio Prazo, inclinavam-se por um início de inverno normal ou ligeiramente húmido no que diz respeito à precipitação, o que se justifica com as frentes atlânticas e sistemas de baixa pressão que nos têm atingido durante os primeiros dias do inverno climatológico, em contraste com o ambiente temperado pouco habitual que dezembro está a apresentar, quando já decorreram mais de dois terços do mês. Todavia, as temperaturas vão baixar de forma significativa no último terço de dezembro, finalizando com valores próximos ao normal.

Segundo o ECMWF, no que diz respeito a janeiro, o cenário contemplado pelos modelos de previsão sazonal aponta para valores de temperatura que condizem com os valores de referência. No entanto, em fevereiro prevê-se um panorama em que as temperaturas se situem em valores ligeiramente acima do normal, sobretudo no interior das regiões Norte e Centro. Já no mês de março, esta tendência de anomalia térmica positiva parece ter continuidade, antecipando-se que as temperaturas não só continuem ligeiramente acima da média de referência (0.25 ºC a 0.50 ºC), como se alarguem para oeste e para sul, deixando apenas alguns territórios do litoral ocidental de fora.

Precipitação poderá ser escassa

Para janeiro os modelos sazonais intuem um cenário em que a precipitação apresentará anomalia negativa, estimando-se que seja mais escassa que o habitual em todo o país, sobretudo na região do Norte. Tanto para o mês de fevereiro, como para o mês de março, espera-se um panorama favorável à manutenção de um inverno seco em redor de toda a Península Ibérica.

Projeções climatológicas como estas podem ser interpretadas como uma maior probabilidade de surgimento de situações que impliquem fluxos poucos definidos na nossa latitude, mais propensa a alterações significativas atmosféricas entre umas e outras regiões

No entanto, convém referir que não será seco de forma totalmente uniforme. Assim sendo, projeções climatológicas como estas podem ser interpretadas como uma maior probabilidade de surgimento de situações que impliquem fluxos pouco definidos na nossa latitude, sem um fluxo zonal persistente, e por isso mais apto a alterações significativas atmosféricas entre umas e outras regiões.

Por fim, estes modelos não só devem ser interpretados de uma forma probabilística, como também devem ser consultados para previsões gerais, em grande escala, e não para previsões regionais. Tudo porque os sistemas meteorológicos mais pequenos, que são os que provocam maior impacto social e à escala local, são completamente invisíveis para estas ferramentas de previsão. Desta forma, teremos que ir confirmando ou desmentindo estas primeiras impressões com recurso aos modelos convencionais à medida que as semanas forem passando.