Previsão da segunda quinzena de outubro em Portugal: comboio de depressões e muita chuva devido a bloqueio escandinavo

Nos próximos dias a chuva cairá de forma generalizada em Portugal continental, após uma primeira quinzena de outubro com tempo estável e calor intenso. Agora um bloqueio escandinavo provocará uma reviravolta na situação meteorológica. Eis a previsão!

Esta sexta-feira (13), com nuvens, chuva abundante sob a forma de aguaceiros e trovoada, é apenas o primeiro dia de uma mudança no estado do tempo que será radical em Portugal continental e em completo contraste com o que fomos testemunhando nas últimas semanas.

Como já explicamos ao longo destes últimos dias na Meteored Portugal, a crista subtropical finalmente cedeu, abrindo uma via para a aproximação e chegada de depressões e respetivas frentes até ao nosso país. Além disto, os centros de baixas pressões atlânticos irão canalizar ar subtropical temperado e bastante húmido para a nossa geografia, verdadeiros rios atmosféricos, pelo que são esperadas grandes acumulações nalgumas regiões.

Poderoso bloqueio escandinavo desviará as depressões para sul

A começar já neste fim de semana, um poderoso anticiclone de bloqueio irá instalar-se em redor da Escandinávia, com pressões máximas a rondar os 1035 hPa e bem sustentado em altitude. Aquilo que se observa na cartografia sinóptica é praticamente uma inversão da situação que vivemos na reta final de setembro e na primeira metade de outubro, altura em que as depressões circularam por latitudes muito mais altas.

Para os próximos dias prevê-se a chegada de várias depressões e das suas frentes associadas. Numa grande parte de Portugal continental a quantidade de precipitação acumulada será muito significativa.

Assim, caso este cenário se cumpra, estaríamos a referir-nos a um quadro sinóptico drasticamente oposto ao das últimas semanas, com um estado do tempo muito mais concordante à época outonal em que estamos. De acordo com o modelo que merece a nossa maior confiança (ECMWF), a próxima semana será incrivelmente chuvosa de norte a sul do território de Portugal continental - obviamente com diferenças regionais no que toca às acumulações pluviométricas ou quantidades de chuva acumulada.

Isto é “denunciado” não só pelas previsões deterministas a curto prazo, como também pelos mapas de tendência semanal que insistem numa anomalia de precipitação positiva em toda a geografia do Continente.

Até ao final de terça, 17 de outubro, as acumulações poderão ultrapassar 100 mm em grande parte do Minho, e em áreas dos distritos de Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Santarém e Coimbra. Todo o país será regado, mas com especial ênfase nas regiões a norte de Montejunto-Estrela e em particular a oeste da Barreira de Condensação, áreas nas quais a maior parte das nuvens e da precipitação fica retida devido ao efeito exercido pela orografia.

A passagem de várias frentes muito ativas vão deixar, até ao final da primeira metade da próxima semana, registos entre 50 e 75 mm nas regiões mais centrais do país e mais no interior Norte. Abaixo de 50 mm, boa parte do Alentejo e praticamente todo o Algarve.

Este panorama deverá manter-se para a segunda metade da semana vindoura, com o bloqueio escandinavo a forçar a circulação e o desvio das depressões para latitudes mais baixas. Estamos a falar de um autêntico comboio, com uma elevada probabilidade de chuva abundante e persistente, que avançaria de oeste para leste e que também poderia chegar de maneira muito mais escassa, dispersa e intermitente à Madeira.

Como já foi referido, a metade do território situada a sul de Montejunto-Estrela será substancialmente menos regada, apesar das importantes acumulações previstas, cruciais para mitigar a grave seca meteorológica que afeta essas regiões.

Na semana de 16 a 23 de outubro o poderoso anticiclone de bloqueio que estará a rodar a Escandinávia provocará o desvio de depressões diretamente para Portugal continental e Espanha.

Como já foi dito, as regiões mais para sul e para leste em Portugal (Alentejo e Algarve de um modo geral) serão as menos beneficiadas pela água da chuva. Contudo, em absoluto contraste com as áreas a sul do Tejo, algumas das regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela tais como as montanhas minhotas e pontos do distrito de Aveiro poderão atingir ou superar 300 mm acumulados até 22 de outubro, se a atual previsão se mantiver.

É possível que as quantidades finais de precipitação sofram alterações em relação às previsões atuais, mas de uma coisa os modelos parecem não ter dúvidas: vai chover e não vai ser pouco. As saídas mais recentes dão uma consistência cada vez mais firme no que toca à perspetiva de chuva abundante e persistente na semana de 16 a 23 de outubro.

Aliás, a totalidade dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro vão ultrapassar, possivelmente, os 200 mm neste período imensamente chuvoso de 9 dias. Algumas partes dos distritos de Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Coimbra e Leiria também poderão superar 200 mm. O resto do país superará provavelmente os 100 mm, sendo um desses exemplos o de Lisboa. Os distritos menos regados serão os de Évora e Beja, rondando, grosso modo, 50 mm.

Como poderá terminar o mês de outubro?

Terá continuidade a precipitação na última semana de outubro? Para já tudo indica que as altas pressão vão permanecer instaladas em redor da Escandinávia-Islândia, embora os primeiros sinais apontem para um tempo não tão instável, mas mais variável em que as anomalias pluviométricas não serão tão acentuadas. Contudo, as temperaturas deverão situar-se em valores normais para um final de outubro, com a continuidade de chuva em várias regiões.

É bom lembrar o seguinte: outubro é o terceiro mês mais chuvoso do ano à escala de Portugal continental, pelo que caso se mantivesse o anticiclone de bloqueio, a seca agravar-se-ia ainda mais. Todavia, resta perceber o que nos espera na reta final deste impressionantemente atípico ano de 2023: o nosso modelo de referência aposta por um final bastante agitado na nossa latitude.