O tempo em dezembro em Portugal: o que nos reserva?

O inverno climatológico começou oficialmente hoje. Neste 1 de dezembro arrancou o trimestre, que é, geralmente, mais frio e instável. Deixamos para trás um outono climatológico caracterizado por uma incrível sequência de dias com estados do tempo anormalmente quentes (outubro) e secos (outubro e novembro) em Portugal continental. Isto contrariou, de forma expressiva, aquilo que seria de esperar para esta estação, ou seja, situações meteorológicas com chuva e frio mais frequentes na maioria dos 90 dias que compõem o outono.

Quanto aos Açores, houve situações meteorologicamente muito instáveis neste Arquipélago durante o outono, a última das quais, bastante recente, gerou fortes inundações. Mas, como poderá estar o tempo no mês de dezembro em Portugal continental e Ilhas?

Dezembro com temperaturas dentro do normal, mas haverá exceções

Segundo o nosso modelo de maior referência – o HRES-IFS do ECMWF -, nestes primeiros dias do mês, apesar da influência e relativa proximidade do anticiclone dos Açores às nossas latitudes que, com as suas altas pressões costuma resultar em dias estáveis e soalheiros, a impressionante ondulação do jato polar fará com que o ar polar, muito frio, penetre ocasionalmente no nosso país, resultando, por vezes, em temperaturas ainda mais baixas do que o habitual.

O anticiclone não impedirá também que algumas frentes cá cheguem e provoquem queda de precipitação. Assim, com estes ‘sobe e desce das temperaturas’, provocados pela inevitável variabilidade associada à ondulação serpenteante do jato polar, teremos alternância de dias temperados, com outros mais frios.

Se este panorama se confirmar, acabaremos por registar uma primeira quinzena de dezembro bem variável: por um lado, nesta primeira semana, devido à variabilidade de dias temperados com dias mais frios, as temperaturas estarão, em geral, dentro dos valores climatológicos normais, exceto no Nordeste Transmontano (distrito de Bragança), onde se prevê uma anomalia positiva – até 1 ºC acima do habitual.

Por outro lado, na segunda semana do mês, que arrancará dia 6, o cenário será termicamente idêntico, até mesmo no Nordeste Transmontano, embora com as devidas diferenças noutras partes do território. Por exemplo, o litoral da região Centro onde estarão temperaturas até 1 ºC abaixo do normal. Nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, predominarão os ventos de norte na primeira quinzena de dezembro, com potencial de instabilidade nas várias ilhas destas Regiões Autónomas.

Pouca chuva prevista para dezembro

Quanto à precipitação, devido à referida ondulação serpenteante do jato polar, estima-se a invasão de algumas frentes atlânticas vindas de noroeste, associadas a depressões que em geral estarão sobre as Ilhas Britânicas, intercaladas com dias com pouca ou nenhuma chuva. Tudo indica que nesta primeira quinzena, as chuvas sejam algo irregulares em termos espaciais e temporais, concentrando-se mais nas Regiões Norte e Centro. Na Região Sul, como já é habitual, deverá ser mais escassa.

Uma vez mais, o modelo Europeu aposta em cenários diferentes entre uma e outra semana da primeira quinzena. Nesta primeira semana, a precipitação que cair, deverá rondar valores inferiores à normal climatológica. Ao invés, prevê-se que a segunda semana acumule valores de chuva superiores à média de referência no Norte e no Centro de Portugal continental. Inclusive, o Europeu projeta a hipótese, incrivelmente remota e pouco provável, de nevar a cotas muito mais baixas do que o habitual em boa parte das serras do país, já na próxima semana, entre os dias 8 e 10.

E na segunda quinzena de dezembro: teremos chuva e frio no Natal?

De momento, para a segunda metade do mês, as previsões do ECMWF apontam para um cenário de maior estabilidade meteorológica, com temperaturas dentro do normal, exceto numa fina fatia do litoral ocidental português, onde poderá ficar ligeiramente mais frio.

No que diz respeito à precipitação, existe uma grande incerteza dos modelos – sobretudo devido à distância temporal e à volatilidade da dinâmica atmosférica – mas, para já, há sinais de que os valores de pluviosidade acumulada na segunda quinzena de dezembro serão bem inferiores ao normal no país. Os mapas sugerem essa hipótese, principalmente, para as sub-regiões do Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Interior e Trás-os-Montes.