O modelo europeu altera a sua previsão: prevê agora NAO+ até 8 de dezembro, eis como poderá afetar Portugal

O modelo europeu antecipa para os próximos 14 dias um domínio da NAO+, índice climatológico que fornece “pistas” sobre o estado do tempo a médio e longo prazo. Quais são os possíveis efeitos para o tempo em Portugal?

tempo em Portugal
As altas pressões (anticiclone) são um dos principais fatores meteorológicos associados à teleconexão climática NAO+ na nossa geografia (tempo tendencialmente estável). Este mapa demonstra que, por vezes, nem mesmo o domínio anticiclónico impede a ocorrência de chuva nalgumas zonas do país, devido a linhas de instabilidade produzidas por vales depressionários que conseguem 'romper' o 'escudo' das altas pressões.

O índice NAO (Oscilação do Atlântico Norte, em português), é uma ferramenta importante utilizada para a previsão de padrões meteorológicos de longo prazo e uma das teleconexões que mais influencia o clima português, sobretudo no inverno. Este índice fornece excelentes informações sobre o comportamento do fluxo atmosférico, e “pistas” sobre a sua potencial evolução, ou seja, indica-nos a possível movimentação das diferentes de massas de ar frio e quente que estão a norte e a sul da nossa corrente de jato.

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O seu cálculo é bastante simples, tratando-se apenas da diferença de pressão ao nível do mar entre a depressão da Islândia e o anticiclone dos Açores. O resultado deste cálculo pode dar um índice positivo (+) ou negativo (-) e, de acordo com as previsões dos modelos, está prestes a tornar-se positivo. Algumas vezes a diferença de pressão é elevada, outras vezes não é assim muito robusta. E é esta variação, que é a dita oscilação: a NAO.

O que significa uma NAO positiva?

Ao longo desta fase, tanto o anticiclone dos Açores como a depressão na Islândia se mostram bastante intensos e o gradiente de pressão entre ambos os sistemas é forte. Este aumento na diferença de pressão traduz-se numa corrente de jato mais intensa e menos ondulante, o que gera uma maior estabilidade meteorológica. Este panorama parte a Europa em “dois”. Por um lado, a Europa setentrional (norte) verifica, por norma, um aumento das tempestades, com chuva superior à média e temperaturas também elas acima do normal.

Neste gráfico de regimes meteorológicos observa-se um domínio do padrão NAO+ até 8 de dezembro. Porém, é possível que nos dias vindouros este domínio tão evidente do NAO+ se altere, uma vez que o ECMWF contempla outros cenários para boa parte do período em questão.

Todavia, o sul da Europa, e especificamente Portugal e Espanha, costumam registar uma diminuição das depressões, com precipitação abaixo da média e temperaturas, de um modo geral, superiores aos valores da normal climatológica de referência. Os principais fenómenos meteorológicos associados a uma NAO positiva (NAO+) nas imediações da nossa geografia são os anticiclones e as massas de ar tropicais, sejam de cariz marítimo ou continental.

Em traços gerais, o que podemos esperar do tempo em Portugal continental para esta semana?

O mapa de previsão de anomalia média semanal de precipitação da Meteored para a semana que se estende entre 24 de novembro e 30 de novembro confirma a tendência daquilo que costuma ser o padrão atmosférico no nosso país quando a teleconexão climática NAO+ se impõe.

Porém, nesta ocasião, isto somente se deverá verificar do ponto de vista da precipitação, pelo que teremos dias predominantemente estáveis, secos e soalheiros entre terça (25) e domingo (30), embora esteja prevista a ocorrência de precipitação escassa confinada a algumas zonas (maioritariamente na Região Norte e no litoral Centro no sábado, 29 de novembro nalgumas zonas).

Já no mapa de anomalia de temperatura média semanal não se observa a mesma correspondência que habitualmente as temperaturas têm com um padrão NAO+ (normalmente superiores à média). De acordo com as previsões para a presente semana, as temperaturas estarão dentro dos valores médios de referência em grande parte do território do Continente, sendo inferiores ao normal (-1 ºC) no Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo e Algarve.

Grosso modo, as regiões a sul do Tejo registarão valores térmicos inferiores ao normal esta semana.

Isto deve-se, em primeiro lugar, ao facto de que teleconexões climáticas apenas devem ser encaradas como “pistas” e tendências do tempo e não como correspondências 100% precisas do que vai acontecer, pelo que nem sempre correspondem ao que se passa na realidade.

Em segundo lugar, ter em conta que esta semana estaremos sob a influência dos ventos de Norte e Nordeste que impulsionarão uma nova massa de ar polar até à nossa geografia. Embora este ar frio chegue mais enfraquecido e ‘temperado’ à nossa latitude, estará frio o suficiente para produzir temperaturas ligeiramente inferiores ao normal (ou anomalias térmicas negativas) nas regiões meridionais de Portugal continental já acima referidas.

A previsão do tempo para a próxima semana mostra uma elevada incerteza

Para a semana de 1 a 8 de dezembro vislumbra-se uma grande complexidade nos mapas de cenários do modelo Europeu (ECMWF).

Desde logo porque, embora o gráfico de barras dos regimes meteorológicos a médio e longo prazo do ECMWF esteja a projetar um padrão atmosférico condicionado pela NAO positiva (normalmente pouca chuva, ventos fracos e temperaturas acima do normal), tanto os mapas de anomalias de temperatura e precipitação médias semanais do ECMWF e da Meteored, bem como os modelos numéricos deterministas vislumbram um cenário meteorológico bastante diferente para Portugal continental: chuva acima do normal e temperaturas acima da média.

A precipitação poderá chegar entre os dias 1 e 2 de dezembro e manter-se, pelo menos, até ao dia 3.

Na semana de 1 a 8 de dezembro é provável que o Norte e Centro de Portugal continental registem precipitação em níveis superiores aos valores médios de referência.

Entre os dias 3 e 8 de dezembro a incerteza na previsão aumenta consideravelmente quanto à teleconexão climática dominante, uma vez que o ECMWF vislumbra um desdobramento em vários possíveis cenários, dividindo-os entre NAO+, bloqueio ou NAO-.

Com NAO+ e bloqueio anticiclónico o tempo no nosso país é tendencialmente estável e seco, apesar de não se poder descartar a ocasional intromissão de uma ou outra depressão isolada em altitude, ou de frentes de fraca atividade associadas a vales depressionários.

Mas, com a NAO-, a precipitação tende a ser mais frequente no nosso país, o que converge com a atual previsão de chuva plasmada nos mapas deterministas para os primeiros dias de dezembro.

Neste conjunto de cenários do ECMWF percebe-se a elevada incerteza no padrão meteorológico dominante, uma vez que o modelo mostra várias possibilidades para o período de 3 a 8 de dezembro, podendo variar entre o bloqueio, NAO+ e/ou NAO-.

Deste modo, na primeira metade do período destes próximos 14 dias, o padrão atmosférico dominante deverá certamente ser a NAO+ (25 novembro a 1 de dezembro - tempo predominantemente estável e seco, com temperaturas normais, sendo inferiores ao normal nalgumas zonas). Porém, a partir de 2 de dezembro a incerteza aumenta consideravelmente, o que converge com a provável alteração da previsão para um dos outros padrões referidos (bloqueio ou NAO-).