Na próxima semana o jato polar estará extremamente ondulante e Alfredo Graça avisa: “Portugal estará em evidência"

Um jato polar sinuoso e o índice NAO em valores negativos originarão uma segunda semana de novembro muito chuvosa em grande parte de Portugal. O modelo europeu prevê anomalias positivas em quase toda a nossa geografia.

chuva trovoada Portugal
Na segunda semana de novembro (dias 10 a 16) a chuva, por vezes acompanhada de trovoada, poderá voltar a cair com bastante frequência em Portugal, segundo as mais recentes previsões do modelo Europeu.

A frente fria que está a passar esta quarta-feira (5) por Portugal abrirá as portas a um período instável e chuvoso no nosso país, com aguaceiros e trovoadas localmente fortes a alternar com chuva persistente. Uma das chaves para esta mudança de padrão reside nos níveis mais elevados da troposfera, naquilo que é conhecido como a corrente de jato polar.

O jato polar vai ondular sobre Portugal na próxima semana

A corrente de jato polar é um canal de ventos muito fortes em forma de tubo que corre a cerca de 9-16 km acima da superfície da Terra (troposfera superior e estratosfera inferior). É como um "rio" de ar que flui a velocidades de 100-250 km/h, com milhares de quilómetros de comprimento, mas apenas alguns quilómetros de largura.

Na nossa latitude, o jato polar delimita geralmente a frente polar, uma zona de baixa pressão que separa o ar frio polar (a norte) e o ar tropical, que forma uma fronteira a partir do sul. Este duelo de massas de ar gera uma instabilidade abundante, com tempo “tempestuoso” à superfície.

Um jato polar ondulante, que circula em latitudes mais baixas, implica normalmente um estado do tempo chuvoso, ventoso, com trovoadas e agitação marítima em Portugal. As ondulações mais pronunciadas podem materializar-se sob a forma de depressões ou de cristas, com mudanças de tempo significativas, como a que está a desenhar-se atualmente.

Na próxima semana o jato polar vai produzir ondulações significativas, gerando uma atmosfera muito dinâmica.

De acordo com as últimas saídas do modelo ECMWF, a corrente de jato polar tornar-se-á bastante “sinuosa” na próxima semana em Portugal, ou seja, com grandes ondulações e a fluir muito mais para sul do que é habitual. Esta situação vai permitir a formação e chegada de depressões cavadas às imediações de Portugal continental, com as respetivas frentes atlânticas associadas.

Esta configuração sinóptica provocará tempo chuvoso por todo o país, embora com maior propensão nas Regiões Norte e Centro, com as condições meteorológicas outonais de chuva e instabilidade a chegarem também ao arquipélago da Madeira. Por outro lado, no arquipélago dos Açores, vislumbra-se um panorama substancialmente mais seco do que o normal, fruto da influência das altas pressões.

De acordo com o modelo ECMWF (Europeu) a próxima semana (10-16 novembro) será chuvosa de norte a sul de Portugal continental, com anomalias positivas de precipitação que se estendem por toda a geografia, desde o Minho e Trás-os-Montes até ao Algarve e ao arquipélago da Madeira. As anomalias oscilarão entre +10 e +30 mm em grande parte do território, com desvios de 0 a +10 mm no arquipélago da Madeira e no Nordeste Transmontano. A única exceção será, como já foi referido acima, os Açores (anomalias negativas de precipitação: entre -10 e -30 mm).

A NAO vai regressar a valores negativos

O índice NAO vai voltar a assinalar valores negativos durante parte da próxima semana, o que sinaliza a aproximação de depressões e chegada de mais frentes associadas a Portugal continental. Esta situação encontra uma correspondência clara nos mapas de precipitação acumulada da Meteored, que se baseiam nas projeções do modelo europeu.

A cartografia revela a probabilidade bastante razoável de durante a próxima semana voltarem a cair entre 100 e 150 mm de chuva nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e zonas mais ocidentais do distrito de Vila Real, e entre 60 e 75 mm no resto do distrito de Vila Real, nos distritos de Viseu, Coimbra e Leiria e em algumas zonas do Nordeste Transmontano, Beira Alta e Beira Baixa.

Eis a previsão de chuva acumulada do modelo Europeu para os próximos 6 dias em Portugal continental. O Noroeste minhoto poderá superar facilmente os 100 mm, e inclusive alcançar 150 mm ou mais.

Segundo o modelo europeu, alguns dos dias mais chuvosos poderão ser quarta e quinta-feira, dias 12 e 13 de novembro, embora a distância temporal ainda seja demasiado distante para fornecer mais pormenores.

Apesar da elevada incerteza deste panorama, é possível que uma grande depressão possa surgir sobre o Atlântico, com mais de 2000 km de diâmetro, deixando Portugal continental exposto à sua parte mais ativa. Esta situação poderá dar origem a algumas frentes frias muito ativas, que atravessariam o nosso país de oeste para leste.