Macroalga asiática chega às praias do Algarve e preocupa empresários

O Algarve enfrenta um desafio ambiental: algas invasoras cobrem os areais, afastam turistas, dificultam a pesca e colocam em risco a principal fonte de riqueza da região. Saiba mais aqui!

Alga asiática
A "macro alga algarvia" tem vindo a acumular-se nas praias do Algarve, Cascais e noutras áreas da costa portuguesa desde a sua introdução em 2019.

O Algarve, conhecido pelas suas praias douradas, águas transparentes e clima ameno, é um dos destinos turísticos mais importantes de Portugal. Todos os anos, milhões de visitantes nacionais e estrangeiros escolhem a região para férias, impulsionando uma economia fortemente dependente do turismo, da hotelaria e da restauração.

No entanto, nos últimos anos, este setor tem enfrentado um inimigo inesperado: a presença massiva de algas invasoras, em particular a macroalga asiática Rugulopteryx okamurae. Originária do Pacífico, esta espécie instalou-se nas águas portuguesas e tem vindo a colonizar os fundos marinhos do Barlavento algarvio.

Quando se soltam do substrato, as algas são arrastadas pelas correntes até às praias, onde se acumulam em grandes volumes. O resultado é um cenário pouco apelativo: extensos tapetes escuros que cobrem a areia, libertando odores intensos e atraindo insetos.

Impactos no turismo

Banhistas e turistas, ao depararem-se com a areia coberta de algas em decomposição, muitas vezes optam por abandonar o local em busca de praias mais limpas.

Isto traduz-se em perda de receitas para concessionários, bares de praia e restaurantes das zonas mais afetadas.

A perceção negativa também se espalha rapidamente através das redes sociais e de plataformas de avaliação turística, onde fotografias de praias invadidas por algas podem afastar potenciais visitantes.

A bióloga Ester Serrão, da Universidade do Algarve, alertou recentemente que, sem a ação das câmaras municipais para remover as algas, o impacto poderia ser “uma catástrofe total” para o turismo.

Além da imagem, há um problema prático: a acumulação de biomassa dificulta a utilização plena das praias, reduzindo o espaço disponível para os banhistas e diminuindo a qualidade da experiência balnear, um dos maiores atrativos da região.

Consequências para a pesca e os negócios locais

Não é apenas o turismo que sofre. Os pescadores enfrentam sérias dificuldades com a proliferação desta macroalga.

Muitas vezes, as redes ficam sobrecarregadas com toneladas de algas em vez de peixe, obrigando a um esforço acrescido e reduzindo a rentabilidade da atividade.

Barlavento Algarvio
Esta alga asiática, apesar de não ser tóxica para os humanos, causa problemas graves para a biodiversidade marinha, a pesca e o turismo. Fonte: Barlavento

Em algumas zonas, lançar redes tornou-se quase impossível. Os custos associados à remoção da biomassa também recaem sobre os municípios e empresas de limpeza urbana. Em algumas praias, como na Lagoa, já foram registados gastos na ordem das dezenas de milhares de euros para retirar centenas de toneladas de algas.

Estes encargos extraordinários pressionam orçamentos municipais e levantam a questão de quem deve assumir a responsabilidade financeira a longo prazo.

Medidas em curso

Perante este desafio, várias iniciativas têm surgido. O Observatório Marinho do Algarve (OMA), coordenado pelo Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), tem promovido a monitorização da proliferação da alga e estabelecido parcerias com entidades regionais, como a AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos), a Região de Turismo do Algarve e a CCDR.

Está em preparação um plano político que será apresentado no Dia Nacional da Sustentabilidade, em setembro, com propostas de ação como: sistemas de alerta precoce, avaliação dos impactos ambientais, sociais e económicos, e soluções de tratamento e valorização da biomassa.

No plano político, o Partido Socialista apresentou na Assembleia da República um projeto de resolução para apoiar a investigação científica, restaurar ecossistemas afetados e criar uma linha de financiamento destinada a ajudar os municípios na limpeza das praias.

Paralelamente, algumas autarquias e associações, como a Associação Limpeza Urbana (ALU), têm procurado soluções inovadoras, como o aproveitamento das algas para a produção de fertilizantes, rações ou até fibras têxteis.

Experiências-piloto com tecnologia de aspiração em mar aberto já demonstraram ser possível retirar dezenas de toneladas de biomassa em poucas horas, evitando que chegue às praias.

Oportunidade ou ameaça?

Embora a invasão represente uma ameaça séria, também pode abrir caminho a novas oportunidades. A valorização económica da biomassa é uma via promissora, que poderia transformar um problema ambiental em recurso útil para a agricultura ou a indústria.

No entanto, esta transformação exige investimento em investigação e na criação de cadeias logísticas adequadas para recolha, transporte e processamento.