Estudo revela que árvores da Amazónia criam chuva na seca com água superficial; confira

Mesmo durante a estação seca, a floresta amazónica mantém a formação de chuvas ao reciclar água superficial, reforçando a sua importância climática e ecológica.

Cientistas explicam como a floresta mantém chuvas com água recente da estação.
Cientistas explicam como a floresta mantém chuvas com água recente da estação. Foto: Adobe Stock

A Amazónia não é apenas a maior floresta tropical do mundo. Também atua como um motor essencial do ciclo da água, capaz de criar as próprias chuvas mesmo durante os períodos mais secos do ano.

De acordo com um estudo recente publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a vegetação local tem um papel ativo no retorno da humidade à atmosfera através de um processo contínuo de transpiração.

Este fenómeno ocorre quando as árvores absorvem água do solo através das raízes e a libertam pelas folhas em forma de vapor. Esse vapor, por sua vez, alimenta os chamados "rios voadores", correntes invisíveis que transportam a humidade e contribuem com chuvas em diferentes partes do país.

Durante a estação seca, cerca de até 70% das chuvas que caem sobre a floresta têm origem neste processo. Mas de onde vem a água utilizada pelas árvores, se as chuvas são escassas neste período? Essa foi a pergunta que motivou a equipa de cientistas a realizar um levantamento detalhado na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará.

A floresta adapta-se para manter a chuva, mesmo na seca

O estudo foi conduzido em dois tipos de terrenos: o platô, onde o lençol freático fica a cerca de 40 metros de profundidade, e o baixio, próximo a um igarapé, com água mais acessível no subsolo.

O que surpreendeu os investigadores foi que a maior parte da água utilizada pelas árvores na seca vem de camadas muito rasas do solo, com até 50 centímetros de profundidade. Mesmo em locais com lençóis freáticos profundos, como o platô, em média, 69% da água transpirada vinha dessas camadas superficiais.

Essas águas são provenientes das chuvas recentes da própria estação seca. Por outras palavras, a floresta recicla rapidamente a água que recebe: a chuva cai, infiltra-se no solo raso, é absorvida e devolvida à atmosfera quase que de imediato. Isso reforça a importância do equilíbrio ecológico para manter esse ciclo contínuo.

Árvores com diferentes habilidades fazem a diferença

Outro aspeto inovador da investigação foi identificar como diferentes espécies de árvores desempenham papéis distintos no ciclo hidrológico. Nem todas são igualmente eficazes em utilizar água do solo seco. Isso depende de um traço chamado resistência ao embolismo, que mede a capacidade da planta de absorver água mesmo sob condições adversas.

Espécies mais resistentes conseguem extrair água de solos mais secos e, por isso, devolvem mais vapor à atmosfera durante a seca. Já as mais vulneráveis adotam outras estratégias, como desenvolver raízes mais profundas.

Essas diferenças refletem a riqueza biológica da floresta e mostram como a diversidade vegetal contribui diretamente para a manutenção das chuvas — não só dentro da Amazónia, mas também noutras regiões do Brasil.

Sem floresta, não há chuva. E sem chuva, não há futuro

A investigação deixa um alerta claro: a perda de vegetação coloca em risco o ciclo das águas. Se as árvores forem removidas, a floresta perde a sua capacidade de reciclar a água, o que pode comprometer não apenas o clima regional, mas também a produção agrícola em regiões como o Sudeste, Centro-Oeste e Sul, todas beneficiadas pelos “rios voadores”.

Num cenário em que a desflorestação avança, impulsionada por projetos de lei como o chamado "PL da Devastação", essa realidade torna-se ainda mais preocupante. Menos árvores significam menos vapor, e menos vapor resulta em menos chuva para todo o país.

Referências da notícia

Amazônia atua como ‘fábrica de nuvens’ e mantém chuvas na estação seca, diz pesquisa. 21 de agosto, 2025. VEJA.