Fósseis revelam adaptações bipedais e manipulativas em Paranthropus boisei

A revelação inesperada: a mão de Paranthropus boisei une destreza humana e força brutal de gorila. Saiba mais aqui!

Durante muito tempo, pensou-se que apenas a linhagem Homo (a nossa) fazia ferramentas. No entanto, o P. boisei demonstrou capacidades de preensão robusta.

A recente descoberta do espécime KNM-ER 101000, um esqueleto parcial que inclui ossos da mão e do pé, forneceu a primeira associação inequívoca de material pós-craniano com o hominídeo Paranthropus boisei. Recuperado em Koobi Fora, no Quénia, este fóssil é estimado como sendo ligeiramente mais antigo que 1,52 milhões de anos. Esta descoberta é crucial, pois a capacidade de Paranthropus para usar e fabricar ferramentas tem sido um tema de debate constante, amplamente devido à falta de ossos da mão que pudessem ser definitivamente atribuídos ao género.

A taxonomia e a análise da mão

A atribuição taxonómica a P. boisei é fortemente corroborada pelos restos craniodentários. Os dentes do espécime assemelham-se aos de P. boisei em tamanho, e o quociente entre o canino e o terceiro molar superior está dentro do intervalo caraterístico de P. boisei. Além disso, o espécime exibe o hiperespesso esmalte dentário, uma característica do género, e o fragmento parietal sugere a presença de uma crista sagital proeminente, comum em machos da espécie.

A análise da mão de KNM-ER 101000 revela uma morfologia surpreendente, que combina capacidades manipulativas cruciais com caraterísticas de preensão poderosas.

As proporções intrínsecas da mão são semelhantes às dos humanos modernos, com um polegar relativamente longo em relação aos outros dedos. Esta morfologia sugere que o P. boisei era capaz de formar preensões de precisão, como as necessárias para manipular objetos ou ferramentas.

O Paranthropus boisei era tão conhecido pelos seus dentes e maxilares maciços, adaptados para triturar vegetação dura

O polegar robusto e a falange distal do polegar (mDP1) bem desenvolvida, com fortes inserções musculares, também indicam uma capacidade de manipulação.

Os contrastes

Em contraste com as caraterísticas de destreza semelhantes às humanas, a morfologia da mão exibe uma notável convergência com a dos gorilas, particularmente na robustez do complexo hipotenar e das falanges não-polegares. Esta forte preensão, facilitada por um gancho (hamulus) longo no osso hamato, sugere uma força de agarre significativa.

No entanto, em vez de ser primariamente uma adaptação para a escalada (que se reflete em dedos menos curvos do que nos símios arbóreos), a convergência com os gorilas é interpretada como uma adaptação ao processamento manual intensivo de vegetação dura, alinhando-se com a dieta especializada de P. boisei.

O Paranthropus boisei e o Homo erectus coexistiram durante cerca de um milhão de anos.

Apesar da destreza potencial, o KNM-ER 101000 reteve caraterísticas primitivas no pulso e na base do polegar que diferem dos humanos modernos e Neandertais. Isto sugere que as preensões de precisão-pinça teriam sido menos eficazes no P. boisei em comparação com os membros posteriores do género Homo, embora o uso de ferramentas básicas não seja descartado.

Quanto à locomoção, os ossos do pé, incluindo um ângulo de torção elevado no metatarsal e a morfologia das falanges, indicam um compromisso claro com o bipedismo e um pé mais rígido.

A curvatura reduzida das falanges pedais sugere que a preensão pedial não era uma caraterística importante, indicando uma maior adaptação terrestre em comparação com hominídeos anteriores.

Em suma, a descoberta do KNM-ER 101000 sugere que P. boisei era bípede e tinha uma mão capaz de preensão de precisão e de força. A sua morfologia manual única reflete uma via evolutiva distinta, onde as capacidades manipulativas eram utilizadas para o processamento de uma dieta altamente especializada, suportando um modelo de coexistência ecológica com o género Homo.

Referência da notícia

Mongle, C.S., Orr, C.M., Tocheri, M.W. et al. New fossils reveal the hand of Paranthropus boisei. Nature (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-09594-8