Burj Al Babas: castelos de conto de fadas ou pesadelo arquitetónico?
O que deveria ter sido um refúgio de luxo, hoje revela-se sombrio. Conheça a cidade fantasma, com mais de 500 castelos idênticos abandonados, ruas vazias e silêncio absoluto.

Quantas vezes já viu filmes sobre apocalipses em que cidades inteiras ficam desertas, ruas e edifícios vazios, quase como se o tempo tivesse parado? O Burj Al Babas, na província de Bolu, na Turquia, é uma versão real dessa visão cinematográfica.
O que devia ser um resort de luxo para investidores internacionais transformou-se numa cidade fantasma, onde o silêncio domina e cada casa abandonada conta a história de um projeto grandioso que nunca chegou a cumprir as promessas iniciais.
O plano de sonho
O projeto começou em 2014, idealizado pelo Sarot Group, com a intenção de construir 732 moradias de luxo, todas muito semelhantes entre si. Os compradores pretendidos eram sobretudo investidores do Médio Oriente interessados em segundas residências ou refúgios de verão.
Cada casa incluía interiores modernos e exteriores com fachadas góticas, podendo alguns elementos ser personalizados, como elevadores, piscinas privadas ou hidromassagens.
Além das casas, estava prevista a construção de um complexo central com comércio, restaurantes, um centro de bem-estar, ginásio e até uma mesquita, concebido para oferecer uma experiência completa de resort de luxo. Os terrenos eram amplos, com jardins e terraços que nunca chegaram a ser concluídos ou ocupados.
O que falhou
Mas, nem tudo foi um conto de fadas. Apesar da ambição inicial, apenas 587 das 732 casas foram concluídas ou tiveram algum progresso de construção significativo. Em 2018, o projeto entrou em falência, acumulando dívidas estimadas em cerca de 27 milhões de dólares.
As causas do fracasso incluem a instabilidade económica da Turquia na época, flutuações cambiais e a desistência de muitos investidores internacionais que tinham comprado as casas. A localização também não ajudou: apesar das águas termais próximas, revelou-se pouco prática, já que ficava distante de aeroportos, sem acesso fácil a serviços urbanos e longe de qualquer praia, dificultando a atratividade do resort.
Situação recente e consequências
Em 2025, surgiram processos judiciais relacionados com o Burj Al Babas, incluindo acusações de fraude qualificada contra vários responsáveis pelo projeto. Alguns compradores, mais de 200 segundo relatos, continuam à espera de soluções, seja para a conclusão das casas, seja para receber compensações.

O local tornou-se também numa atração para visitantes curiosos e fotógrafos, que procuram registar o contraste entre a promessa de luxo e a realidade de abandono. As casas desertas, alinhadas em filas perfeitas, criam um cenário surreal, quase cinematográfico, lembrando mais uma cidade fantasma do que um resort de luxo.
Ao aproximar-se de Burj Al Babas, a primeira sensação é de estranheza. Cada casa parece saída de um conto de fadas, mas o silêncio que paira entre elas revela a realidade: o complexo está abandonado. Nenhum carro circula pelas ruas, nenhuma luz acende-se nas janelas, e o único som constante é o vento a percorrer os jardins e terraços inacabados.
Ao caminhar entre os castelos, nota-se que o abandono não é apenas físico. Jardins planeados nunca receberam árvores nem flores, terraços amplos permanecem vazios, e portas e janelas mostram sinais de desgaste. Algumas casas exibem detalhes arquitetónicos impressionantes, mas sem vida nem mobiliário.
Reflexões sobre o projeto
O caso do Burj Al Babas demonstra a importância de alinhar ambição e viabilidade económica. Projetos grandiosos exigem garantias financeiras sólidas, pois mudanças nas condições económicas, flutuações cambiais ou atrasos de investidores podem comprometer todo o empreendimento.
A escolha do local também trouxe limitações. Embora a presença de águas termais e de paisagens naturais fosse um ponto positivo, a distância a centros urbanos, a falta de infraestrutura adequada e a inacessibilidade logística dificultaram a concretização do projeto.
Além disso, surgiram críticas culturais e ambientais. Muitos moradores de Mudurnu consideraram que os castelos destoavam do estilo arquitetónico local turco, e questionaram a destruição de áreas florestais para permitir a construção. Por fim, os investidores que adquiriram casas viram os pagamentos e contratos interrompidos, gerando disputas legais em torno de direitos de propriedade e compensações pendentes.

Burj Al Babas é, assim, um lugar de paradoxos. É um sonho de conto de fadas que se tornou numa lição sobre ambição, localização e viabilidade económica, onde cada castelo vazio parece contar a história de promessas não cumpridas e de um projeto que nunca encontrou habitantes para o povoar.
Já está a pensar visitar esta cidade fantasma? Saiba que o Burj Al Babas fica a cerca de 250 quilómetros a leste de Istambul, e o acesso mais fácil é de carro. Os visitantes devem estar preparados para pagar um valor simbólico aos seguranças que supervisionam o espaço, com relatos de pagamentos que variam entre 10 e 50 euros por cerca de 30 minutos de visita.
Não se preocupe porque, apesar da aparência fantasmagórica, a experiência é segura e permite explorar tanto os exteriores como algumas das casas inacabadas, oferecendo uma oportunidade única de ver de perto este estranho projeto imobiliário.