Serão os tardígrados os primeiros astronautas interestelares?

Além do Programa Artemis, o lendário regresso da NASA à Lua, há também várias missões planeadas que envolvem a ESA, a JAXA, a China e a Rússia. Na década de 2030, a NASA e a China esperam enviar missões tripuladas a Marte, que culminarão na criação de uma base permanente na superfície. Mas, como podem contribuir para isto os tardígrados, também conhecidos por ursos de água?

Tardígrado; Urso de água
O tardígrado (urso de água) pode ser o ser vivo mais duro da natureza, capaz de sobreviver a temperaturas extremas, desidratação, fome, e até mesmo ao vácuo do espaço.

Quando se trata de missões interestelares, não há planos para missões tripuladas em cima da mesa. Embora existam propostas de envio de missões robóticas, o envio de astronautas para estrelas e exoplanetas próximos ainda não é viável.

Contudo, de acordo com uma nova investigação, liderada pela Universidade da Califórnia, as missões interestelares poderiam ser realizadas, num futuro próximo, com uma tripulação especial: os tardígrados (comummente conhecidos como "ursos de água").

A investigação

O novo estudo, intitulado "Interstellar space biology via Project Starlight", foi conduzido por investigadores da UC Santa Barbara, do Centro de Saúde da UCLA, da Universidade da Florida, e da Ruhr-University Bochum, e será publicado na edição de janeiro de 2022 da Acta Astronautica.

Para que este estudo corresse sem percalços, a equipa considerou de que forma o programa Starlight da NASA poderia permitir estudos biológicos interestelares, utilizando microrganismos tolerantes à radiação, capazes de criptobiose - estado de latência que pode ser presenciado em alguns animais, quando se encontram em condições adversas do meio ambiente.

Como exemplo, a equipa considerou os tardígrados que se tornaram o ponto focal de muita investigação espacial nos últimos tempos. Estes seres são pequenos, medem 0.5 mm de comprimento e têm oito pés com garras e ventosas.

Podem, tipicamente, ser encontrados em musgo e líquenes, onde se alimentam de células vegetais, algas e pequenos invertebrados, mas podem também ser encontrados em qualquer biosfera do planeta, desde montanhas e lençóis de gelo a florestas tropicais e trincheiras do mar profundo.

Os ursos de água e o espaço

O que os torna especialmente interessantes para a investigação espacial é a sua resistência a temperaturas e pressões extremas, radiação, desidratação, fome, e mesmo o quase vácuo do espaço.

Até à data, foram realizados vários testes onde os ursos de água foram levados para o espaço e expostos a calor e frio extremos, radiação solar e até mesmo ao vácuo do espaço. Em todos os casos, os ursos de água estiveram sob condições que teriam matado outros organismos, conseguindo até produzir descendência saudável.

A principal vantagem de usar os ursos de água para este estudo foi perceber qual a possibilidade de os seres vivos sobreviverem ao espaço e às suas condições.

Como tal, estes seriam candidatos ideais para testar como as viagens através do meio interestelar afetam os seres vivos, o que terá implicações consideráveis para missões no espaço profundo e, talvez um dia, viagens interestelares com naves espaciais tripuladas.

Há mesmo a possibilidade de investigar se as bactérias e as simples formas de vida podem sobreviver à viagem através do espaço interestelar para semear novos mundos com vida.