Será que o despovoamento implica maior biodiversidade? Eis os resultados de um estudo realizado no Japão

Será que o despovoamento implica uma maior biodiversidade? Conheça o resultado deste estudo realizado no Japão!

Investigadores levaram a cabo um estudo em que procuraram compreender os efeitos do despovoamento humano sobre a biodiversidade, com foco particular no Japão — o primeiro país industrializado a enfrentar uma redução sustentada da população.

À medida que muitos países desenvolvidos (como Portugal, Coreia do Sul, Espanha ou Itália) enfrentam taxas de natalidade abaixo do nível de substituição e populações em envelhecimento, surge a ideia esperançosa de que a redução da presença humana possa conduzir automaticamente à recuperação dos ecossistemas naturais e da biodiversidade.

O estudo analisou dados recolhidos entre 2004 e 2021, abrangendo 158 locais rurais e periurbanos do arquipélago japonês, em paisagens conhecidas como WAPU (Wooded, Agricultural and Peri-Urban).

O Japão tem mais de 5.600 ilhas, cada uma com ecossistemas únicos — algumas habitadas por espécies endémicas.

Estas zonas representam mosaicos ecológicos compostos por campos agrícolas, matas secundárias, zonas florestais, áreas aquáticas e pequenas povoações — tradicionalmente sustentadas por práticas humanas como a agricultura do arroz.

O trabalho considerou mais de 1,5 milhão de registos de 464 espécies de aves, borboletas, pirilampos e rãs, bem como cerca de 2.900 espécies de plantas (nativas e invasoras).

Os resultados

Contrariando a expectativa de que a redução da população humana resultaria numa regeneração espontânea da biodiversidade, os investigadores concluíram que, independentemente de a população local estar a crescer ou a diminuir, a biodiversidade está geralmente em declínio.

Esse declínio é particularmente acentuado nas áreas onde as terras agrícolas são abandonadas ou transformadas — seja por intensificação agrícola ou expansão urbana.

Em muitos casos, a ausência de gestão leva à degradação do solo, ao crescimento de espécies invasoras, ao colapso de estruturas ecológicas e à perda de espécies nativas.

Ao contrário do que sucede noutros países onde a pressão populacional leva à degradação ambiental, no Japão, a própria ausência humana está a contribuir para a perda de habitats.

Verificou-se que apenas nas regiões onde a população permanece relativamente estável e onde subsistem práticas agrícolas tradicionais (como a cultura de arrozais), a biodiversidade se também se mantém estável. O abandono da terra, por outro lado, não conduz automaticamente à sua renaturalização (rewilding).

Outro ponto importante do estudo é a identificação do Japão como um país de vanguarda do despovoamento global, o que o torna um caso de estudo exemplar. Os autores sublinham que confiar apenas no despovoamento como ferramenta passiva de conservação ambiental não só é insuficiente, como pode ser contraproducente. Em vez disso, propõem abordagens de conservação ativas, como renaturalização planeada, manutenção de práticas agrícolas sustentáveis, e políticas de uso do solo adaptadas às novas realidades demográficas.

Em síntese, o estudo conclui que o despovoamento, por si só, não representa uma solução para a crise ecológica. A biodiversidade continua a deteriorar-se na ausência de intervenção humana positiva. Se os países em processo de despovoamento não tomarem medidas coordenadas para gerir os seus territórios rurais e restaurar os seus ecossistemas, perderão a oportunidade de transformar essa transição demográfica num benefício ambiental duradouro.

Referência da notícia

Uchida, K., Matanle, P., Li, Y. et al. Biodiversity change under human depopulation in Japan. Nat Sustain (2025). https://doi.org/10.1038/s41893-025-01578-w