Será que o despovoamento implica maior biodiversidade? Eis os resultados de um estudo realizado no Japão
Será que o despovoamento implica uma maior biodiversidade? Conheça o resultado deste estudo realizado no Japão!

À medida que muitos países desenvolvidos (como Portugal, Coreia do Sul, Espanha ou Itália) enfrentam taxas de natalidade abaixo do nível de substituição e populações em envelhecimento, surge a ideia esperançosa de que a redução da presença humana possa conduzir automaticamente à recuperação dos ecossistemas naturais e da biodiversidade.
O estudo analisou dados recolhidos entre 2004 e 2021, abrangendo 158 locais rurais e periurbanos do arquipélago japonês, em paisagens conhecidas como WAPU (Wooded, Agricultural and Peri-Urban).

Estas zonas representam mosaicos ecológicos compostos por campos agrícolas, matas secundárias, zonas florestais, áreas aquáticas e pequenas povoações — tradicionalmente sustentadas por práticas humanas como a agricultura do arroz.
Os resultados
Contrariando a expectativa de que a redução da população humana resultaria numa regeneração espontânea da biodiversidade, os investigadores concluíram que, independentemente de a população local estar a crescer ou a diminuir, a biodiversidade está geralmente em declínio.
Esse declínio é particularmente acentuado nas áreas onde as terras agrícolas são abandonadas ou transformadas — seja por intensificação agrícola ou expansão urbana.

Ao contrário do que sucede noutros países onde a pressão populacional leva à degradação ambiental, no Japão, a própria ausência humana está a contribuir para a perda de habitats.
Outro ponto importante do estudo é a identificação do Japão como um país de vanguarda do despovoamento global, o que o torna um caso de estudo exemplar. Os autores sublinham que confiar apenas no despovoamento como ferramenta passiva de conservação ambiental não só é insuficiente, como pode ser contraproducente. Em vez disso, propõem abordagens de conservação ativas, como renaturalização planeada, manutenção de práticas agrícolas sustentáveis, e políticas de uso do solo adaptadas às novas realidades demográficas.
Em síntese, o estudo conclui que o despovoamento, por si só, não representa uma solução para a crise ecológica. A biodiversidade continua a deteriorar-se na ausência de intervenção humana positiva. Se os países em processo de despovoamento não tomarem medidas coordenadas para gerir os seus territórios rurais e restaurar os seus ecossistemas, perderão a oportunidade de transformar essa transição demográfica num benefício ambiental duradouro.
Referência da notícia
Uchida, K., Matanle, P., Li, Y. et al. Biodiversity change under human depopulation in Japan. Nat Sustain (2025). https://doi.org/10.1038/s41893-025-01578-w