Os cientistas advertem: o calor extremo pode piorar a qualidade do ar que respiramos
As ondas de calor não representam apenas um risco direto pelas temperaturas elevadas, mas também agravam de forma significativa a poluição atmosférica e os seus impactos na saúde pública. Saiba mais aqui!

Diversos estudos recentes demonstram que as ondas de calor não representam apenas um risco direto pelas temperaturas elevadas, mas também agravam de forma significativa a poluição atmosférica e os seus impactos na saúde pública.
Investigadores da Universidade do Texas A&M analisaram as condições de uma onda de calor registada em agosto de 2024, em College Station, onde as temperaturas variaram entre 32 °C e 41 °C sem influência de incêndios florestais, e observaram aumentos preocupantes nos níveis de ozono, compostos orgânicos voláteis oxigenados e nanopartículas ácidas, cuja formação se intensifica com o calor e a radiação solar.

O estudo mostrou ainda que as árvores emitem mais isopreno durante as ondas de calor. Este composto, embora inofensivo por si só, reage com outros poluentes sob forte radiação solar e contribui para a formação de ozono e de aerossóis orgânicos secundários, prejudiciais à saúde respiratória.
Paralelamente, investigadores do ISGlobal, em Barcelona, revelaram que a mortalidade associada às partículas finas provenientes de incêndios florestais está gravemente subestimada. Publicado em The Lancet Planetary Health, o estudo analisou dados de 541 milhões de pessoas distribuídas por 654 regiões em 32 países europeus, entre 2004 e 2022.
Os resultados indicam que essas partículas PM₂,₅ (partículas finas) estão ligadas a uma média anual de 535 mortes, incluindo 31 por causas respiratórias e 184 por doenças cardiovasculares. Se se tivesse assumido que essas partículas tinham o mesmo impacto que as originadas por outras fontes, o número estimado seria de apenas 38 mortes por ano, uma subestimação de 93%.

Os investigadores alertam ainda que o aquecimento global provocado pelas atividades humanas está a aumentar a frequência e intensidade dos incêndios, criando condições que favorecem a sua propagação e, consequentemente, a emissão massiva de partículas nocivas.
Estes dados sublinham o efeito sinérgico entre fenómenos climáticos e poluentes, onde a soma dos fatores gera impactos muito mais graves do que os efeitos isolados de cada um.
O conjunto destas descobertas aponta para um cenário preocupante: as ondas de calor intensificam a poluição atmosférica não apenas através das emissões humanas, mas também pela intensificação de reações químicas naturais, como as emissões biogénicas das árvores; os incêndios florestais libertam partículas cujo impacto na saúde humana tem sido gravemente subestimado; e a combinação de calor extremo e poluição multiplica os riscos para a saúde pública. Assim, o calor, a poluição urbana e os incêndios formam um verdadeiro triângulo perigoso que ameaça não só a qualidade do ar que respiramos, mas também a nossa sobrevivência em contextos de crise climática.