Pergunta para queijinho: que ave voa tão alto como os aviões e plana sete horas sem parar?

Que espécie é esta que desafia as leis da gravidade, mas está ameaçada de extinção? Saiba tudo sobre a ave com o voo mais alto do mundo.

Grifo-de-Rüppell
Entre todas as aves, o grifo-de-Rüppell detém o recorde do voo mais alto. Foto: Charles J. Sharp, CC BY-SA 4.0 DEED, via Wikimedia Commons

O voo de uma ave é uma das grandes maravilhas da natureza. Rasgando o céu, de asas abertas, parece que sussurra segredos ao vento. É como se o tempo parasse, como se o mundo suspendesse a rotação só para que nada perturbe um espetáculo inesquecível.

Há diferentes tipos de voo, adaptados ao ambiente, dietas alimentares ou o comportamento social de cada espécie. De longos e sustentados até movimentos ziguezagueantes ou intermitentes, que aproveitam as correntes de ar para economizar energia.

Entre a panóplia de coreografias aéreas, algumas espécies distinguem-se dos seus pares, desafiando as leis da gravidade para alcançar altitudes comparáveis a dos aviões comerciais. É o caso do grifo-de-Rüppell (Gyps rueppelli), batizado em homenagem ao naturalista alemão Eduard Rüppell.

Voando até ao topo do mundo

Detendo o recorde oficial do voo mais alto, a espécie é capaz de atingir os impressionantes 11.300 metros de altitude e chegar à troposfera. O desempenho está bem acima do Evereste, a montanha mais alta do mundo, com o seu pico a subir até aos 8.849 metros.

A altitude do voo de grifo-de-Rüppell
O grifo-de-Rüppell evoluiu fisiologicamente para conseguir otimizar o uso de oxigénio que lhe permite sobreviver em altitudes elevadíssimas.

Habitando principalmente as regiões de savana, podem ser vistos em diferentes países africanos, como Senegal, Etiópia, Tanzânia ou Quénia. Ultimamente, porém, têm vindo a acrescentar novas rotas na sua migração.

Nos anos mais recentes, sobrevoam, também, em números crescentes, os céus do continente europeu, onde são avistados uma média de 75 grifos-de-Rüppell por ano, segundo o Vulture Conservation Foundation. São inclusive observados em Portugal e em Espanha, durante a sua viagem para Gibraltar.

Se a altitude do seu voo já é uma proeza extraordinária, o que dizer então da sua capacidade para permanecer no ar por até sete horas seguidas?

O grifo-de-Rüppell, com uma longa história evolutiva, adaptou-se às condições mais extremas e onde nenhuma outra ave conseguiria sobreviver. A estrutura modificada da sua hemoglobina permite-lhe transportar mais oxigénio no sangue e tolerar o ar rarefeito das altitudes elevadas.

As cinco aves com o voo mais alto
A altitude do voo do grifo-de-Rüppell foi registada em 1973, após a espécie ver-se envolvida num acidente com um avião que sobrevoava a Costa do Marfim.

As capacidades desta espécie foram reconhecidas em 1973 após ver-se envolvida num acidente com um avião que sobrevoava a Costa do Marfim. Um grifo colidiu com uma aeronave a 11.300 metros, levando os investigadores a confirmarem a sua habilidade inigualável de voo. Desde então, passou a ser reconhecido oficialmente como a ave que voa mais alto no mundo.

Higienizar a natureza

Sendo uma ave de rapina necrófaga, alimenta-se de animais em decomposição, desempenhando um papel crucial nos ecossistemas. A sua função pode não ser glamorosa, mas é altamente eficiente para prevenir a disseminação de doenças infeciosas e a contaminação dos solos e cursos de água.

Ao removerem as caraças de animais, aceleram também a decomposição da matéria orgânica. A sua capacidade de voar em grandes altitudes permite-lhes chegar a áreas remotas para outros animais, contribuindo para a limpeza desses lugares incessíveis.

Os seus serviços ecológicos são insubstituíveis, mas a espécie encontra-se seriamente ameaçada. O grifo-de-Rüppell está classificado como Criticamente em Perigo na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Os perigos que ameaçam o grifo-de-Rüppell

As mudanças do clima, a escassez de alimentos ou a destruição do seu habitat estão a acelerar o declínio da espécie. O envenenamento acidental e intencional também tem sido apontado como uma grande ameaça.

Grifo-de-Rüppell
A perda de habitat, o envenenamento e as alterações climáticas são as grandes ameaças à sobrevivência do grifo-de-Rüppell. Imagem: Pikpik/domínio público

Protegê-lo tem sido, por isso, uma prioridade de inúmeras organizações internacionais, como o Vulture Conservation Foundation, o GREFA – Grupo de Reabilitação Autóctone e do seu Habitat ou o IUCN Centre for Mediterrannean Cooperation.

É preciso, no entanto, que todos estejamos cientes dos perigos que esta espécie enfrenta e queiramos também participar nesta missão, assegurando que o grifo-de-Rüppell continue a planar por muitos e muitos anos no topo do mundo.

Referências da notícia

Grifo-de-rüppell (Gyps rueppelli). Aves de Portugal

Rüppell's Vulture - Gyps rueppelli. The Peregrine Fund

First Rüppell’s Vulture GPS-tagged in Portugal already travelled to Africa. Vulture Conservation Foundation