Pergunta para queijinho: que ave voa tão alto como os aviões e plana sete horas sem parar?
Que espécie é esta que desafia as leis da gravidade, mas está ameaçada de extinção? Saiba tudo sobre a ave com o voo mais alto do mundo.

O voo de uma ave é uma das grandes maravilhas da natureza. Rasgando o céu, de asas abertas, parece que sussurra segredos ao vento. É como se o tempo parasse, como se o mundo suspendesse a rotação só para que nada perturbe um espetáculo inesquecível.
Entre a panóplia de coreografias aéreas, algumas espécies distinguem-se dos seus pares, desafiando as leis da gravidade para alcançar altitudes comparáveis a dos aviões comerciais. É o caso do grifo-de-Rüppell (Gyps rueppelli), batizado em homenagem ao naturalista alemão Eduard Rüppell.
Voando até ao topo do mundo
Detendo o recorde oficial do voo mais alto, a espécie é capaz de atingir os impressionantes 11.300 metros de altitude e chegar à troposfera. O desempenho está bem acima do Evereste, a montanha mais alta do mundo, com o seu pico a subir até aos 8.849 metros.

Habitando principalmente as regiões de savana, podem ser vistos em diferentes países africanos, como Senegal, Etiópia, Tanzânia ou Quénia. Ultimamente, porém, têm vindo a acrescentar novas rotas na sua migração.
Nos anos mais recentes, sobrevoam, também, em números crescentes, os céus do continente europeu, onde são avistados uma média de 75 grifos-de-Rüppell por ano, segundo o Vulture Conservation Foundation. São inclusive observados em Portugal e em Espanha, durante a sua viagem para Gibraltar.
O grifo-de-Rüppell, com uma longa história evolutiva, adaptou-se às condições mais extremas e onde nenhuma outra ave conseguiria sobreviver. A estrutura modificada da sua hemoglobina permite-lhe transportar mais oxigénio no sangue e tolerar o ar rarefeito das altitudes elevadas.

As capacidades desta espécie foram reconhecidas em 1973 após ver-se envolvida num acidente com um avião que sobrevoava a Costa do Marfim. Um grifo colidiu com uma aeronave a 11.300 metros, levando os investigadores a confirmarem a sua habilidade inigualável de voo. Desde então, passou a ser reconhecido oficialmente como a ave que voa mais alto no mundo.
Higienizar a natureza
Sendo uma ave de rapina necrófaga, alimenta-se de animais em decomposição, desempenhando um papel crucial nos ecossistemas. A sua função pode não ser glamorosa, mas é altamente eficiente para prevenir a disseminação de doenças infeciosas e a contaminação dos solos e cursos de água.
Os seus serviços ecológicos são insubstituíveis, mas a espécie encontra-se seriamente ameaçada. O grifo-de-Rüppell está classificado como Criticamente em Perigo na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Os perigos que ameaçam o grifo-de-Rüppell
As mudanças do clima, a escassez de alimentos ou a destruição do seu habitat estão a acelerar o declínio da espécie. O envenenamento acidental e intencional também tem sido apontado como uma grande ameaça.

Protegê-lo tem sido, por isso, uma prioridade de inúmeras organizações internacionais, como o Vulture Conservation Foundation, o GREFA – Grupo de Reabilitação Autóctone e do seu Habitat ou o IUCN Centre for Mediterrannean Cooperation.
É preciso, no entanto, que todos estejamos cientes dos perigos que esta espécie enfrenta e queiramos também participar nesta missão, assegurando que o grifo-de-Rüppell continue a planar por muitos e muitos anos no topo do mundo.
Referências da notícia
Grifo-de-rüppell (Gyps rueppelli). Aves de Portugal
Rüppell's Vulture - Gyps rueppelli. The Peregrine Fund
First Rüppell’s Vulture GPS-tagged in Portugal already travelled to Africa. Vulture Conservation Foundation