Antártida esconde aves únicas que podem desaparecer se a ciência continuar a ignorá-las, alertam especialistas

As aves únicas da Antártida podem desaparecer, se a ciência continuar a ignorá-las. Saiba mais segundo o mais recente estudo!

Apesar de ser um deserto (com menos precipitação do que o Saara), a Antártida guarda cerca de 70% da água doce do planeta, sob a forma de gelo.

A Antártida, frequentemente percecionada como um território gelado, remoto e com pouca relevância ecológica, pode afinal esconder um património biológico de valor incalculável.

Um novo estudo publicado na revista Nature Communications revela que esta região, juntamente com as ilhas subantárticas, alberga aves com características únicas, que correm sério risco de desaparecer caso continuem a ser ignoradas pela comunidade científica e pelas políticas de conservação globais. Segundo os autores do estudo as análises convencionais de biodiversidade têm negligenciado regiões com baixa riqueza de espécies, como é o caso da Antártica.

No entanto, esta abordagem ignora um facto crucial: muitas dessas espécies, embora poucas em número, são extremamente endémicas, ou seja, não existem em mais nenhum local do planeta.

Os investigadores demonstraram que, ao contrário do padrão tradicional que aponta para uma maior diversidade nos trópicos, os níveis de endemismo aumentam à medida que se desce para o sul do globo, atingindo valores máximos nas latitudes mais meridionais.

Os resultados

Esta descoberta resulta da análise de mais de 10 mil espécies de aves, em que se recorreu a métricas que avaliam a singularidade funcional, taxonómica e filogenética das espécies. Os resultados mostram que as aves da Antártida e das ilhas próximas possuem características evolutivas e ecológicas irrepetíveis. Muitas pertencem a linhagens antigas e ocupam nichos ecológicos altamente especializados, não tendo equivalentes noutras partes do mundo.

O clima extremo da Antártida torna impossível a sobrevivência de répteis. As aves marinhas, focas e pinguins dominam a fauna.

A ameaça torna-se ainda mais preocupante quando se considera o impacto das alterações climáticas. Ao contrário do que acontece no hemisfério norte, onde as aves podem expandir as suas áreas de distribuição para latitudes mais elevadas, no hemisfério sul essa possibilidade é severamente limitada pela fragmentação das massas de terra e pelas vastas extensões oceânicas.

Para muitas espécies, não existem habitats alternativos adequados caso as condições ambientais atuais se tornem inviáveis.

O estudo sublinha que continuar a basear estratégias de conservação apenas na riqueza de espécies pode levar à perda de comunidades inteiras compostas por espécies insubstituíveis. A Antártida, apesar de pobre em número absoluto de aves, revela-se um dos locais mais valiosos do mundo em termos de irredutibilidade biológica. Ignorar este facto é comprometer a conservação de uma parte essencial da avifauna global.

Os autores deixam um apelo claro: é urgente rever os critérios de priorização na conservação da biodiversidade, integrando métricas que valorizem a singularidade e a irrecuperabilidade dos ecossistemas. Só assim será possível proteger de forma eficaz estas aves únicas antes que seja demasiado tarde.

Referência da notícia

Dehling, D.M., Chown, S.L. Global increase in the endemism of birds from north to south. Nat Commun 16, 6251 (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-61477-8