Qualidade do ar na Europa mostra melhorias nos últimos vinte anos, mas ainda acima do recomendado, conclui estudo

Qualidade do ar na Europa conhece melhorias significativas nas últimas duas décadas, mas grande parte dos europeus continuam a viver e trabalhar em áreas onde o ar é pouco saudável e acima dos limites recomendados pela OMS. Conheça os detalhes!

qualidade do ar; Sérvia
Qualidade do ar apresenta melhorias significativas nas últimas duas décadas, mas ainda insuficientes para os padrões da OMS. A imagem mostra um dia de ar pouco puro em Valjevo, Sérvia.

A qualidade do ar que respiramos diariamente (nós, europeus) melhorou de forma significativa nos últimos 20 anos, de acordo com uma nova investigação liderada pelo Institute for Global Health (ISGlobal) e pelo Barcelona Supercomputing Center - Centro Nacional de Supercomputación (BSC-CNS) e publicado este mês na revista científica Nature Communications.

Apesar disso, a maioria da população europeia continua a viver em regiões onde a poluição atmosférica excede os níveis recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A equipa estimou as concentrações ambientais diárias de partículas em suspensão (PM2,5 e PM10), dióxido de azoto (NO2) e ozono (O3) em 1426 regiões de 35 países europeus, entre 2003 e 2019. O objetivo foi avaliar a quantidade de dias denominados de “dias de ar impuro”, ou seja, que excedem as diretrizes de 2021 da OMS para estes poluentes.

As PM2,5 consistem em partículas finas com tamanho igual ou menor a 2,5 micrómetros que ficam suspensas no ar. As PM10 são também elas partículas em suspensão no ar e têm um diâmetro inferior igual ou inferior a 10 micrómetros. São ambas extremamente nocivas para a saúde.

Os resultados mostram que que os níveis globais de (PM2,5, PM 10 e NO2) diminuíram na maior parte da Europa. Os níveis de PM10 foram os que mais diminuíram durante o período de estudo, 2,72% anualmente. O NO2 e as partículas PM2,5 tiveram reduções anuais de 2,45% e 1,72%, respetivamente.

Em contraste, os níveis de O3 aumentaram, anualmente, 0,58% no sul da Europa, o que significa um aumento nos dias de ar impuro em, praticamente, quatro vezes.

“São necessários esforços direcionados para abordar os níveis de PM2,5 e O3 e os dias impuros compostos associados, especialmente no contexto das ameaças crescentes das alterações climáticas na Europa”.

Zhao-Yue Chen , investigador do ISGlobal e principal autor do estudo.

Assim, conclui-se que os resultados evidenciam melhorias significativas na qualidade do ar na Europa, sustentadas pelo declínio das partículas finas PM10 e PM2, e pelo NO2. Já o ozono não seguiu uma tendência positiva semelhante, resultando num maior número de pessoas expostas a níveis de ar não limpo.

qualidade do ar; França
O sul da Europa viu as concentrações de ozono aumentar. A imagem mostra um dia de ar pouco puro em Lyon, França.

Quais são, então, os locais mais poluídos da Europa?

A equipa de investigadores recorreu à utilização de machine learning para estimar concentrações diárias dos principais poluentes atmosféricos, numa área de estudo onde, diariamente, vivem e trabalham, aproximadamente, 543 milhões de pessoas.

Esta abordagem permitiu desenhar um quadro diário abrangente da qualidade do ar no continente europeu, que vai muito além da observação de dados das estações de monitorização distribuídas pelos territórios em causa.

Apesar das melhorias na qualidade do ar, 98% dos europeus ainda vivem em áreas com pelo menos quatro dias que excedem as orientações diárias da OMS para PM2,5. E 80,1% ainda vive em áreas onde a qualidade do ar é insalubre para PM10 e 86,3% da população europeia vive ainda em áreas onde a qualidade excede as orientações da OMS para o NO2.

Os níveis mais elevados de poluição por partículas (PM2,5 e PM10) foram testemunhados no norte de Itália e na Europa Oriental, enquanto que os níveis de PM10 foram mais elevados no sul da Europa. O norte da Itália e em algumas áreas da Europa Ocidental, como no sul do Reino Unido, na Bélgica e nos Países Baixos foram observados os valores mais altos de NO2. Da mesma forma, o O3 aumentou 0,58% no sul da Europa.

As reduções mais significativas dos valores de PM2,5 e PM10 foram registados na Europa Central, enquanto que os de NO2 foram encontradas, em sua maioria, nas áreas urbanas da Europa Ocidental.

Em Portugal, o número de dias por ano em que o nível médio de poluentes excedeu os limites máximos estabelecidos pela OMS foi inferior a dez (9,6), o quarto mais baixo dos países estudados. A vizinha Espanha excede os limites em 23,7 dias. Bélgica fica-se pelos 115,4 dias e Itália pelos 140,4 dias.

Já a Bulgária enfrenta 274,3 dias, e a Albânia 288, 9 dias em que os limites são excedidos. Os sérvios são os que enfrentam mais "dias de ar impuro", com 326,3 dias.

O desafio dos episódios da combinação de poluentes e as alterações climáticas

O estudo também analisou o número de dias em que os limites para dois ou mais poluentes foram excedidos em simultâneo, também conhecidos como “dias de ar impuro composto”. Apesar de terem sido verificadas melhorias globais, 86,3% da população europeia ainda esteve exposta a, pelo menos um “dia de ar impuro composto” por ano.

As combinações mais comuns no período estudado foram de PM2,5 e NO2, além de PM2,5 e O3. A contribuição dos dias compostos de PM2,5 e O3 aumentou de 4,4% em 2004 para 35,2% em 2019, tornando-se o segundo tipo mais comum na Europa, indicando uma tendência preocupante.

Estes ocorrem principalmente em latitudes mais baixas durante as estações quentes e estão provavelmente ligados às alterações climáticas e à complexa interação entre as partículas finas de PM2,5 e o O3.

“Esta interação complexa cria um ciclo prejudicial, destacando a necessidade urgente de abordar simultaneamente as alterações climáticas e a poluição atmosférica”.

Ballester Claramunt, investigador do ISGlobal e autor sénior do estudo.

As temperaturas mais altas e a luz solar mais forte no verão aumentam a formação de O3 através de reações químicas. Em consequência, estes níveis mais elevados de O3 contribuem para a oxidação de compostos orgânicos no ar. Este processo de oxidação leva à condensação de certos compostos oxidados, formando novas partículas de PM2,5.

Além disso, as alterações climáticas aumentam a probabilidade de incêndios florestais, que elevam ainda mais os níveis de O3 e PM2,5.

Referência da notícia: Chen, Z., Petetin, H., Turrubiates, R., Achebak, H., García-Pando, C., Ballester, J. (2024). Population exposure to multiple air pollutants and its compound episodes in Europe. Nature Communications.