Misteriosos "círculos de fadas": o que são?

Nos desertos da Namíbia e da Austrália, estranhos círculos sem vegetação são desenhados no chão, geralmente rodeados por um anel de gramíneas mais altas. A origem destes círculos está relacionada com uma teoria do matemático Alan Turing.

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Os círculos de fadas formam padrões que cobrem o solo dos desertos.

Os círculos de fadas são manchas hexagonais sem vegetação que aparecem na superfície de alguns desertos, como os da Namíbia e Austrália. Muitos deles estão rodeados por um anel de vegetação mais alta e os seus diâmetros podem variar de alguns metros a mais de 20 metros. São conhecidos desde o início do século XX e a sua origem foi um mistério durante décadas, mas novos dados confirmam que o modelo de Alan Turing pode explicar os padrões atrativos.

O conceito de Turing era que em certos sistemas, devido a perturbações aleatórias e a um mecanismo de "reação-difusão", a interação entre duas substâncias difusíveis causava o aparecimento espontâneo de várias estruturas ou padrões. Esta teoria era surpreendente e contra-intuitiva, uma vez que até agora se acreditava que a difusão tendia a homogeneizar. Esta foi a base para explicar os padrões que vemos nas peles dos animais, como as riscas das zebras ou os anéis das cobras.

Modelos anteriores sugeriram que esta teoria poderia ser aplicada a estes intrigantes padrões de vegetação e agora existem dados sólidos que confirmam que o modelo de auto-organização de Alan Turing também se aplica aos círculos de fadas australianos. Os investigadores da Alemanha, Austrália e Israel que realizaram o estudo descobriram que a formação destes padrões de buracos espaçados foi consequência do feedback entre água e biomassa, já que desta forma a distribuição dos recursos hídricos é otimizada e melhora o meio ambiente para lidar com as condições áridas do deserto.

Benefícios dos padrões hexagonais

"Ao organizar-se em círculos, a vegetação circundante beneficia de uma fonte adicional de água, uma vez que a chuva nas clareiras do terreno encontra o seu caminho para a vegetação", disseram os cientistas. Além disso, a vegetação mais elevada na periferia aumenta a sombra e a infiltração de água no solo.

Também foram encontradas evidências de que a cobertura protetora da relva pode reduzir a temperatura da superfície do solo em aproximadamente 25 °C na altura mais quente do dia, facilitando a germinação e o crescimento de nova vegetação.

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A mesma teoria que explica os círculos de fadas também explica a pele dos animais.

Em resumo, os cientistas encontraram provas de que as gramíneas que possuem estas estruturas, com a sua dinâmica de crescimento cooperativo, redistribuem os recursos hídricos, modulam o ambiente físico e, assim, funcionam como "engenheiros de ecossistemas" para modificar o seu próprio ambiente e lidar melhor com as condições áridas. Desta forma, mantêm o ecossistema árido funcional, mesmo em condições muito adversas e secas.

Em 1952, quando o matemático britânico Alan Turing publicou o seu artigo teórico inovador sobre a formação de padrões, é provável que nunca antes tivesse ouvido falar dos círculos de fadas. Mas com a sua teoria, lançou as bases para gerações de físicos explicarem através do mecanismo de reação-difusão os padrões altamente simétricos, como os que aparecem em ondas de areia nas dunas, as faixas de nuvens no céu, ou manchas no pêlo de um animal.