Mediterrâneo: um 'hotspot' para as alterações climáticas

Numa análise feita por investigadores do MIT, foram descobertos os fatores que explicam os efeitos anómalos nessa região, especialmente no Médio Oriente e no noroeste de África. Descubra mais aqui!

Sul de Espanha
A geografia do Mediterrâneo afeta o padrão do fluxo de ar na atmosfera, de tal forma, que cria uma alta pressão sobre a região.

O estudo, publicado na semana passada no Journal of Climate, foi realizado pelo estudante do MIT Alexandre Tuel e o professor de engenharia civil e ambiental Elfatih Eltahir.

Os diferentes modelos da circulação global das alterações climáticas concordam no facto de que as temperaturas têm vindo a aumentar em, praticamente, todas as regiões, sendo que na maioria dos lugares a precipitação também tem aumentado, em parte, porque o ar mais quente pode transportar mais vapor de água. No entanto, "há uma grande exceção, e essa é a área do Mediterrâneo", diz Eltahir, que mostra o maior declínio de chuvas projetadas, de qualquer área continental, na Terra.

Todos os modelos parecem concordar que o Mediterrâneo está a secar, apesar de diferirem na quantidade do declínio, sendo que este varia entre 10% a 60%.

Tuel e Eltahir descobriram que esta seca da região do Mediterrâneo é o resultado da confluência de dois fatores derivados de um clima quente: uma mudança na dinâmica da circulação geral da atmosfera superior e uma redução na diferença de temperatura entre terra e mar. Nenhum destes fatores, por si só, seria suficiente para explicar a redução anómala das chuvas, mas, em combinação, os dois fenómenos podem explicar esta tendência, observada nos modelos.

Os fatores

O primeiro fator é um fenómeno em larga escala, relacionado com os ventos de alta altitude, chamados de jatos de latitude média (jetstream), que conduzem um forte e estável padrão climático oeste-leste na Europa, Ásia e América do Norte. Tuel afirma que os modelos mostram que "uma das coisas que acontece com as alterações climáticas é que, ao aumentar a temperatura global, a força desses jatos de latitude média aumentarão, também".

No Hemisfério Norte, esses ventos deparam-se com cordilheiras, incluindo as Montanhas Rochosas, os Alpes e os Himalaias, estas, coletivamente, conferem um tipo de padrão de onda a essa circulação constante, resultando em centros alternados de altas e baixas pressões. As altas pressões estão associadas ao céu limpo e tempo seco e as baixas pressões aos sistemas de ar e tempestade mais húmidos. Mas, à medida que o ar aquece, esse padrão de ondas é alterado.

No entanto, associado a esse fator, existe, também, a redução da diferença de temperatura entre terra e mar. Esta diferença ajuda a impulsionar os ventos e será bastante reduzida pelas alterações climáticas, pois a terra está a aquecer muito mais rápido do que o mar.

Ainda, devido às especificidades da topografia local, as projeções mostram que as duas áreas mais afetadas pela tendência de seca serão o noroeste de África, incluindo Marrocos, e a região leste do Mediterrâneo, incluindo a Turquia.