Mineral comum em Marte foi descoberto na Antártida

Cientistas da Universidade de Milano-Bicocca depararam-se com algo inesperado na Antártida. A descoberta de uma substância presa no gelo poderá resolver um mistério marciano. Saiba mais aqui!

Antártida
Um mineral comum em Marte foi descoberto na Antártida de forma inesperada.

A descoberta desta substância sugere que, um mineral frágil, amarelo acastanhado, conhecido como jarosita, foi forjado da mesma forma tanto na Terra como em Marte: a partir de poeira aprisionada dentro de antigos depósitos de gelo. Também revela a importância destes glaciares no planeta vermelho: não só esculpiram vales, dizem os investigadores, como também ajudaram a criar o material de que Marte é feito.

Jarosita, um mineral muito raro na Terra

A jarosita é um mineral frágil, de cor amarelo-acastanhada que existe em abundância em Marte. Foi vista pela primeira vez em Marte em 2004 pelo Rover Opportunity da NASA. Agora, os investigadores descobriram este mineral marciano comum no interior de um núcleo de gelo na Antártida.

Quando a jarosita foi encontrada em 2004, atraiu a atenção da comunidade científica porque esta substância necessita de água, ferro, sulfato, potássio e condições ácidas para se poder formar. Estes requisitos não são facilmente preenchidos em Marte, levando os cientistas a formular várias teorias para a presença do mineral em solo marciano.

jarosita
A jarosita é um mineral frágil, de cor amarelo-acastanhada e a sua presença na Terra é muito rara. Fonte: Wikimedia Commons

Uma das teorias defende que poderá ter surgido devido à evaporação de pequenas quantidades de água salgada e ácida. Contudo, as rochas alcalinas de basalto na crosta marciana teriam neutralizado a humidade ácida. Outra das teorias é que há bilhões de anos, quando Marte era coberto por gelo, a poeira que possuía os elementos necessários para a formação da jarosita acumulou-se nas camadas de gelo, transformando-se no mineral. Todavia, isto não passava de uma suposição e nada do género foi observado no Sistema Solar.

Um novo estudo, liderado por Giovanni Baccolo, geólogo da Universidade Milano-Bicocca, pode conter uma excitante pista para os cientistas que investigam o ambiente marciano. Na Terra, as jarositas podem ser encontradas em resíduos de mineração que foram expostos ao ar e à chuva, mas são raras.

A incrível descoberta foi inesperada

A descoberta foi inesperada dado que Baccolo e a sua equipa não esperavam encontrar resíduos de jarosita na Antártida, nem sequer estavam no seu encalço. Em vez disso, estavam à procura de minerais que pudessem indicar ciclos da idade do gelo. Foi durante a escavação de um núcleo de gelo com 1.620 metros de comprimento que Baccolo se deparou com estranhas partículas de poeira que pensava poder ser jarosita.

Para averiguar a identidade do mineral que é visto em Marte, Baccolo e os seus colaboradores mediram a absorção de raios-X e utilizaram microscópios eletrónicos que confirmaram que era jarosita. Perante isto, o artigo agora publicado na Nature Communications pode constituir uma indicação de que a jarosita se gera da mesma forma em Marte.

De acordo com Baccolo, foram encontradas apenas partículas extremamente pequenas do mineral na Antártida, mas o cientista afirma que há muito mais poeira em Marte, o que poderá justificar a abundância da jarosita no planeta vermelho. “Marte é um lugar tão poeirento - tudo está coberto de pó", diz Baccolo. Mais cinza favoreceria mais formação de jarosite sob as condições certas, segundo o autor principal do estudo.

Além disso, o investigador diz que o estudo mostra como os glaciares poderão ter contribuído para a composição química de Marte. Para o futuro, Baccolo pretende recorrer ao uso de mais núcleos de gelo da Antártida para investigar se os antigos depósitos de gelo marciano poderão ter originado a formação de outros minerais.