Investigadores portugueses descobrem fungo fossilizado com 300 milhões de anos na Serra do Buçaco
É uma descoberta histórica que revelou uma nova classe de fungos importantíssima para compreender as relações simbióticas no reino das plantas durante a Era Paleozoica.

Fungos com 300 milhões de anos fossilizados encontrados nas formações geológicas da Bacia do Buçaco, na região de Anadia, é uma descoberta histórica, que deixou os investigadores portugueses inicialmente incrédulos.
Nunca antes documentado entre os fungos da sua classe ou sequer entre outras espécies com relações simbióticas com raízes e plantas, o seu achado constitui um avanço decisivo na investigação de fungos primitivos, permitindo compreender com maior profundidade os processos ecológicos que moldaram a flora da Era Paleozoica.
Uma revelação para a ciência
Estamos, portanto, diante de um novo género e de uma nova espécie – apelidada de Megaglomerospora lealiae – que representam os maiores esporos alguma vez documentado para a categoria de Glomeromycota do reino dos fungos.

A descoberta, liderada pelo paleontólogo Pedro Correia, investigador do Centro de Geociências, da Universidade de Coimbra, deu a conhecer uma forma gigante de esporos de fungos micorrízicos até agora completamente desconhecida para a ciência.
Mas deixemos de lado algum do jargão da ciência para tentar entender o alcance e a importância desta investigação, publicada na revista científica Geobio.
Abundância de oxigénio e escassez de dióxido de carbono
No final do período Carbonífero, as concentrações atmosféricas de oxigénio atingiram níveis excecionalmente elevados, estimados entre 30% a 35%, muito acima dos cerca de 21% atuais.
Esta abundante disponibilidade de oxigénio permitiu o desenvolvimento de estruturas de grandes dimensões, capazes de explorar vastas áreas radiculares para a troca eficiente de nutrientes entre organismos fúngicos e plantas, uma adaptação crucial num ambiente ecológico altamente competitivo e biologicamente diversificado na época.
As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, por outro lado, eram relativamente baixas comparadas com outros períodos geológicos. A diminuição de CO₂, em combinação com o aumento da biomassa vegetal, exigiu uma maior eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas, o que potencialmente impulsionou a simbiose com fungos micorrízicos.

Estes fungos desempenharam, como tal, um papel essencial na otimização da captação nutrientes essenciais, promovendo o desenvolvimento de extensas redes micorrízicas e, consequentemente, de estruturas fúngicas de grandes dimensões, quando comparadas com as atuais.
A rede radicular de fungos que suporta a floresta
Estes fungos da espécie Megaglomerospora lealiae ajudaram a construir sistemas simbióticos entre plantas e fungos, com uma função vital no ecossistema, especialmente no que diz respeito à exploração e absorção de nutrientes pelo solo.
Esta espécie de internet vegetal é usada pelas árvores para enviar sinais químicos e conseguir determinar quais as plantas mais necessitadas de carbono, nitrogénio ou fósforo e quais estão em condições de fornecer esses nutrientes através desta complexa estrutura subterrânea de raízes e fungos.
Os sinais andam para trás e para diante, levando e trazendo informação e substâncias essenciais para a floresta encontrar o seu equilíbrio.
O papel dos fungos na Era Paleozoica
A relevância desta descoberta, em particular, reside na confirmação de que as associações simbióticas já executavam uma tarefa crucial na estruturação dos ecossistemas terrestres há cerca de 300 milhões de anos.
O estudo destes fósseis de fungos primitivos, agora descritos, fornece informações valiosas sobre as interações com as plantas no período Carbonífero, caracterizado essencialmente por condições climáticas subtropicais, temperaturas e humidade elevadas, que favoreceram a formação de grandes extensões de bosques e florestas.
A investigação decorreu em colaboração com Artur Sá, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Zélia Pereira, investigadora do Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

A nova espécie é dedicada a Fernanda Leal, aluna de doutoramento da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da mesma universidade, que contribuiu para a classificação dos fungos fósseis agora descritos pela primeira vez na ciência.
Referência do artigo
Pedro Correia, Artur A. Sá & Zélia Pereira. Megaglomerospora lealiae nov. gen., nov. sp. from the upper Carboniferous of Portugal: the largest glomeromycotan fungal spores. Jornal internacional Geobios.
Sara Machado. Descobertos fósseis de fungos gigantes com 300 milhões de anos na região de Aveiro. Universidade de Coimbra.